28/09/2018
Por Edwin Hounnou
Não temos dúvidas de que a oposição fez um cálculo bastante errado da situação política nacional, tendo acabado por passar um cheque em branco para a Frelimo obter, nas eleições autárquicas de 10 de Outubro, a maior parte dos municípios. A vitória da Frelimo que se antevê não se deve à força, robustez ou inserção no eleitorado do partido governamental, mas, à desorganização e falta de visão das forças oposicionistas que perdem tempo se digladiando por nada.
A lei eleitoral favorece a quem está no poder. É um sério entrave que a oposição não transporá com facilidade, agravado por órgãos eleitorais partidarizados, desde o STAE – Secretariado Técnico de Administração Eleitoral; CNE - Comissão Nacional de Eleitoral e CC – Conselho Constitucional que servem de incubadoras de conflitos, como acontece de eleição em eleição. As desavenças entre a Renamo e MDM são um condimento para a vitória da Frelimo.
Os desentendimentos no seio da oposição trazem problemas para o povo. A situação política que vivemos propícia a mudança do regime, bastando, para isso, um pouco mais de inteligência e vontade de lutar. A corrupção generalizada na administração pública, a ausência de políticas públicas capazes de relançar a economia podem ajudar na queda do regime da Frelimo, porém, os erros estratégicos que a oposição faz fazem atrasar a chega de novos ventos.
Um regime político não cai pelo tempo. Cai quando há um vendaval. Uma fruta cai quando amadurece, enquanto um regime politico precisa de voto popular e quando isso não funciona, a oposição tem chamar o povo a ocupar as ruas, praças e jardins. Não é normal um regime corrupto levar 40 anos. Alguma coisa não está bem e nós concluímos que a nossa oposição é de faz-de-conta. Não está para mudar coisa alguma , mas, para ajudar a comer. Não trabalha nem tem visão da sua missão, que é implantar um regime à altura dos desafios do país.
Uma oposição que se preocupa na reprodução de novos gatunos, é dispensável. O povo pensa que vale mais continuar com um feiticeiro conhecido que ter que se habituar a um feiticeiro que não conhece.
A oposição anda mais ocupada com outras coisas, mais interessantes para si do que com a política de bem fazer. Na semana passada, o secretário-geral do partido Frelimo, Roque Silva, andou a repetir o seu apelo de perdão para soldados da Renamo e não ouvimos nenhuma reacção dos visados nem de nenhum partido da oposição a contestar isso. Roque Silva ao apelar à população o perdão para os militares da Renamo, esteve, de forma bem explícita, a dizer que os guerrilheiros da Renamo cometeram crimes, o que é, em absoluto, falso.
Os factos dizem que as duas forças (soldados da Renamo e soldados governamentais) cometeram atrocidades contra o povo. Porquê dizer que as atrocidades foram cometidas, apenas, por soldados da Renamo? A outra parte era composta por anjos e arcanjos? Quem não se lembra de raptos e assassinatos no campo e nas cidades? Foram militares da Renamo que raptavam, matavam e entulhavam corpos das suas vítimas nas valas e debaixo de pontes, em Gorongosa e Macossa?
Foram guerrilheiros da Renamo que assassinaram Gilles Cistac, Paulo Machava, José Manuel, Manuel Lore, Jeremias Pondeca? Foram guerrilheiros da Renamo que raptaram e torturam Jaime Macuane, Ercino de Salema e Carlos Djeque? Os autores desses crimes não precisam, também, de perdão? A reconciliação nacional não tem nada de parecido com obra de misericórdia. É uma cedência mútua. Todos temos que dar e todos temos que receber a paz e concórdia.
A oposição não viu nem ouviu os enfadonhos discursos do comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, General Bernardino Rafael, a convidar os partidos políticos a revisitarem a lei eleitoral. Para quem quis ouvir, Bernardino Rafael disse e nós, de memória reproduzimos “ cada mesa de voto terá um polícia para vermos quem faz fraude e os que sempre reclamam que houve fraude”.
O aviso de Bernardino Rafael foi dirigido aos fiscais daqueles que reclamam sobre a ocorrência de fraudes, portanto, da oposição. Com isso, o comandante-geral da polícia transmitiu a ideia de que a polícia vai infernizar a oposição. Vai prender o fiscal que abrir a boca. Isso é intimidação, para todos os efeitos. Não estaremos indisponíveis para ajudar a enxugar lágrimas seja de quem for porque estamos alertando. Gostaríamos de perceber se os protagonistas do acto eleitoral são a polícia ou os partidos. Será, certamente, a policia cujo comandante diz que “os que reclamam haver fraude”, avisou o comandante-geral .
O comandante-geral da polícia tem vindo a proferir ameaças contra a oposição, como forma de garantir mais uma vitória retumbante da Frelimo. Não é segredo que a polícia tem jogado um importante papel para as vitórias da Frelimo, daí a nossa desconfiança. Os pronunciamentos do comandante-geral deixam antever um ambiente de terror e provocarão uma abstenção em massa de eleitores por medo de ser cercado, chamboqueado e preso.
É muito importante que seja anotada essa postura do comandante-geral da polícia e o comportamento das forças de defesa e segurança.
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