"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 2 de abril de 2018

Se pedir ao Pai das Dívidas Escondidas não ofende



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Canal de Opinião por Adelino Timóteo
 (Panfleto alegórico por ocasião do Dia Internacional do Pai das Dívidas)
Querido Pai, Senhor Pai das Dívidas Escondidas,
Pelo Dia Internacional do Pais das Dívidas, nós, moçambicanos, abaixo assinado, vimos muito desrespeitosamente pedir ao desexcelentíssimo Pai das Dívidas Escondidas, para que faça seminários, vulgo “orkishopis”, nos bares, cafés, restaurantes, às moscas, por falta de disponibilidade financeira dos clientes, a explicar como conseguiu enganar os bancos europeus, até contrair tão avultadas dívidas, que causaram o cancro na nossa economia, que causaram abcessos no orçamento geral do Estado, que causaram erosão no bolso do cidadão comum e da “classe média”, ainda assim, se permitir gozar da protecção da Procuradoria da República, da Polícia de Investigação Criminal, entre outras instituições jurídicas.
Nós, moçambicanos, abaixo assinado, vimos muito desumildemente pedir ao desrespeitoso Pai das Dívidas Escondidas que nos explique como conseguir pôr o país a andar aceleradamente mais rápido para trás, quando dizia que se tinha que caminhar célere, para a frente, quando dizia que o seu antecessor era o deixa-andar.
Nós, moçambicanos, abaixo assinado com impressões digitais, a tinta indelével, pois que só o dedo polegar sabe escrevinhar, desde já agradecemos muito honrada- mente, através deste papel almaço de vinte e três linhas, que o digníssimo Pai das Dívidas Escondidas, a quem não o vemos nem na TEVEÊF (o ÊF é da FRELIMU), nem no Mentícias (o maior jornal de circulação nacional), onde lhe víamos todo sorrisos de orelha a orelha, que substitua as suas presidências abertas, o pudor que o obriga a viver a portas dentro, para orientar seminários nacionais, nas fábricas escandalosamente encerradas por falta de divisas e altos custos de produção, contrastados com a inflação, do Rovuma a Maputo, a explicar ao Zé Povinho e ao Zé Ninguém, como o nepotismo do seu negócio das Dívidas Escondidas avantajou, na Suíça, no Dubai, a conta de mussumbuluko (dinheiro, numa das língua nacionais, por isso quem quiser o tomar como Mussumbaluko é livre de fazer confusão, clara está a confusão é um direito constitucional, por isso não há transparência nas dívidas públicas nem na responsabilização do Pai das Dívidas).
Nós, moçambicanos, abaixo assinados, temos motivos de sobra para pedir ao Pai das Dívidas Escondidas.
Nós agradecemos porque não há outro comprimido de cura da nossa ansiedade, ao cancro da nossa economia adoentada, da nossa fome colectiva, do nosso desemprego maciço por reestruturação das empresas e redimensionamento da mão-de-obra, que não um ciclo de palestras, simpósios e colóquios, onde possa a V. Excia. compartilhar os seus elevadíssimos conhecimentos sobre a metodologia de falência de um Estado, sobre a habilidade de V. Excia. de se situar acima das leis e do Estado, incapaz de agir punitivamente contra si e seus capangas.
Nós, os moçambicanos, cidadãos socialmente empenhados, no nosso espírito de cidadania, desde já agradecemos-lhe atempadamente a V. Excia., por ter tornado prosperativamente o Nosso Moçambique num dos mais caloteiros países do mundo, a ponto de os deputados ingleses assinarem uma elevadíssima moção, em reconhecimento da sua genialidade de defraudar instituições sólidas e seguras e situando-nos no “ranking” de um país que mais progressos conhece com a endémica corrupção.
Nós, moçambicanos, cidadãos socialmente empenhados, admiramos e felicitamos a V. Excia., que irá voar de helicópteros privados, já que na orquestração do tão retumbante desfalque conseguiu retroceder o país, torando-o um exemplo mais bem sucedido do “black empowerment”, do nacionalismo económico negro, que deixou depenada a nossa companhia aérea de bandeira nacional, que não consegue comprar um litro sequer de combustível, para abastecer os voos, e mesmo assim evocamos o nosso orgulho nacional, orgulhosamente quando precisando viajar de Beira a Quelimane, tendo primeiro que ir a Maputo, sem fazermos ondas, para não ofender a nossa dignidade de Nação independente.
Nós, moçambicanos, que lhe escrevemos em papel apergaminhado, indicado para escrever exclusivamente ao Senhor Querido Pai das Dívidas Escondidas, neste mesmo papel liso deploramos a sua opacidade entre o povo, mas garantimos-lhe que lhe temos visto nas duas faces dessa crise económica que nos atormenta, quando a comida não chega à mesa, quando não conseguimos comprar cadernos escolares e uniformes escolares, para as crianças, quando em vez de em vinte folhas almaço temos de lhe escrever em uma só, porque as nossas finanças não cobrem o desejo de um longo desabafo, quando as nossas emagrecidas finanças não cobrem o desejo moçambicano de falar horas a fio ao telefone, porque somos orgulhosamente africanos falando alto ao telemóvel e iludindo o interlocutor de que o país caminha a passos largos para a vitória sobre a pobreza absoluta, a corrupção e estabilidade político-militar, e quem isso garante é o nosso querido Novo Presidente, seguindo escrupulosamente com o plano do seu antecessor e do partido que desde 1975 incentivou o roubo, incentiva actualmente e futuramente estimulará a impunidade na contracção de dívidas, senão o desdobramento das campanhas do Pai das Dívidas, a quem nos impõe escutar os seus puros e imaculados méritos, que tanto engrandece à Pátria Amada.
Muito atenciosamente,
Os cidadãos moçambicanos orgulhosamente defraudados pelo desgoverno.
(Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 02.04.2018

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