24/04/2018
Bispos católicos sobre dívidas ocultas, raptos e degradação das condições de vida
Segundo os bispos, há muita falta de coerência entre o que se diz e o que se faz. Dizem que está a tornar-se num modo de ser em Moçambique prometer uma coisa e fazer outra e omitir e privatizar informações às quais todos têm o direito de ter acesso.
Os bispos católicos de Moçambique dizem-se preocupados com a falta de responsabilização dos autores das dívidas ocultas, raptos, violência generalizada, intolerância, degradação da qualidade de vida e com o aumento do fosso entre os ricos e os empobrecidos. Segundo os bispos, estes problemas resultam da degradação dos valores éticos e sociais.
As preocupações dos bispos constam num comunicado emitido em 19 de Abril, na sequência de uma reunião realizada de 16 a 19 Abril, no Centro de Espiritualidade e Missão de S.Paulo de Laulane.
“Estamos preocupados com a crescente deterioração dos valores éticos e sociais no nosso país, visível nas dívidas ocultas que incompreensivelmente continuam sem solução e responsabilização”, lê-se no comunicado dos bispos.
Sobre esta matéria, o Governo tem vindo a apresentar várias narrativas.
Primeiro, o Governo negou que essas dívidas existiam. Quando as assumiu, disse que não podia dar detalhes, porque se tratava de matéria da soberania do país, negando assim auditorias, da Assembleia da República e da empresa de auditoria internacional “Kroll”. Agora que aceitou a auditoria, não quer responsabilizar os que endividaram o Estado. Filipe Nyusi inventou um novo capítulo sobre as dívidas. A partir de fora do país, Filipe Nyusi tem estado a dizer que a responsabilidade deve ser partilhada entre os bancos e o Estado moçambicano, porque, quando os bancos deram dinheiro ao Governo, deviam ter visto que se tratava de um país pobre.
No seu comunicado, os bispos católicos dizem que a degradação de valores traduz-se também nos “frequentes raptos que semeiam medo e insegurança, na violência generalizada, nas manifestações de intolerância, na degradação da qualidade de vida, no aumento do fosso entre poucos que detêm a riqueza e o poder e o povo cada dia mais empobrecido”. A degradação de valores manifesta-se também no paradoxo da população que cresce, por um lado, e, por outro, na baixa produção e degradação das condições sanitárias, “enfim, na falta de coerência entre o que se diz e o que se faz.”
Os bispos dizem que está a tornar-se “num modo de ser em Moçambique prometer uma coisa e fazer outra ou omitir e privatizar informações às quais to- dos têm o direito de ter acesso.”
Mocímboa da Praia
Desde 5 de Outubro do ano passado, homens armados de origem desconhecida têm estado a realizar ataques em vários pontos da província de Cabo Delgado, principalmente no distrito de Mocímboa da Praia.
“Estamos também preocupados com as notícias que nos chegam de Mocímboa da Praia sobre ataques e violência nos últimos meses. Lamentavelmente reinam informações desencontradas sobre os verdadeiros actores e suas motivações”, lê-se no comunicado dos bispos.
Sobre este assunto, a Procuradoria na província de Cabo Delgado diz que há um processo-crime que foi remetido ao tribunal em 16 de Abril. Há 234 arguidos, dos quais 155 em prisão preventiva e 79 em liberdade, por porte e uso de armas proibidas, homicídio qualificado e mercenarismo. Mas ainda não se conseguiu apurar a origem, as motivações e os mandantes dos ataques. (André Mulungo)
CANALMOZ – 24.04.2018
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