26/04/2018
Por Edwin Hounnou
O Canal de Moçambique de 18 de Abril de 2018 diz que Afonso Dhlakama aplicou um “Golpe no Galo”. Dhlakama “conquistou” Venâncio Mondlane para concorrer como cabeça de lista, na Cidade de Maputo, pela lista da Renamo. Mondlane é deputado da Assembleia da República pelo Movimento Democrático de Moçambique, MDM, e já foi candidato por este partido ao cargo de presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, nas eleições anteriores de 2013. Tudo indica que a notícia do alpinismo de Mondlane seja verídica. A oposição dribla-se como se de inimigos se tratassem. Sabia-se que Mondlane seria o candidato do MDM para a Cidade de Maputo nas eleições autárquicas de 10 de Outubro próximo. Dhlakama pretende aniquilar o MDM e inviabilizar a frente eleitoral comum da oposição.
Ao agir desse modo, fica beneficiado o regime da Frelimo que, a todo o custou, deseja ver a oposição cada vez mais dividida e enfraquecida. O mau sinal da autoflagelação da oposição acaba, infelizmente, de chegar da serra da Gorongosa contra a corrente dos ventos que clamam em mudanças estruturais, no país. Dhlakama é visto como o factor determinante para alteração política, em Moçambique. Essa impressão não pode ser traída por problemas estomacais. O povo fala da necessidade histórica da remoção do poder do partido Frelimo e o entendimento da oposição é fundamental. As traições, golpes e mutilações mútua não ajudam em nada à oposição, muito pelo contrário, retardam, cada vez mais, o processo de luta.
A oposição precisa ter em conta que o regime da Frelimo vai investir contra a Renamo e MDM para que nunca formem uma frente capaz de se opor à Frelimo. A palavra de ordem agora é destruir o MDM e, se for necessário, comprar consciência, incluindo aliciamentos de dinheiro e cargos com o objectivo de enfraquecer uma possível uma frente comum eleitoral. Dhlakama mordeu a isca. Daí instala-se um ambiente de desconfiança que vai inviabilizar a formação de uma frente eleitoral. A Frelimo vai dizer “muito obrigado, irmão Dhlakama, pela ajuda”. O caso Mondlane, a ser verdadeiro, confirma-se a presença da mão da Frelimo para bloquear a oposição. Uma oposição dividida não pode vencer qualquer eleição e nós não acreditamos que Dhlakama seja um ingénuo. A vitória de Nampula é demasiado evidente de que a união faz a força. O caminho recomendável para a oposição ascender ao poder e realizar mudanças é unir-se e concorrer numa única frente.
Afonso Dhlakama e a Renamo não chegarão ao poder se não entrar numa frente única eleitoral. O MDM e Daviz Simango nunca vencerão a Frelimo se não se juntar à Renamo e a Dhlakama. É irrealista pensar chegar ao poder sem se juntar aos demais que se opõem à Frelimo. A Frelimo tem do seu lado o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral e a Comissão Nacional das Eleições. Tem a polícia e os serviços secretos ao seu dispôr e atira-os contra a oposição sempre que estiver em apuros. Tem nos sovacos os tribunais, o Conselho Constitucional, para lhe dar razão e dizem que deveria ter feito a impugnação prévia, ainda que o fiscal da oposição tenha sido recolhido, antecipadamente, pela polícia aos calabouços e devolvido depois da elaboração das actas.
É falso dizer que Dhlakama esteja a aliciar os melhores quadros daquele que deveria ser o seu principal aliado na luta contra o regime para vencer as eleições. Dhlakama e a Renamo sempre tiveram todas as condições objectivas e subjectivas para vencer as eleições e isso nunca aconteceu por razões que ignoramos. Temos evidências inquestionáveis de que Dhlakama e a Renamo venceram as eleições legislativas e presidenciais de 1999, mas, não se mexeu para assumir o poder. Nessa altura, a Renamo era uma força vulcânica. Devem existir outros motivos que impedem a Renamo de tomar o poder.
Não descartamos a possibilidade de os mentores desta operação estejam ao serviço da Frelimo. A Renamo e a Frelimo pretendem manter a bipolarização política porque eles ganham com isso. Toda a matilha está virada contra o MDM e transformou a figura de Daviz Simango no seu alvo preferido a abater. Certos órgãos de comunicação social, de renome na praça, marcha em frente desqualificando e despersonificando Simango, imbuídos de vontade de trucidar o MDM.
Os partidos democratas guiam-se pela colaboração porque colocam, acima de tudo, os interesses do povo e da nação. Não se compra quadros de outros partidos como acontece em futebol, onde se vende ou se empresta atletas. Sendo Mondlane membro da comissão política do MDM que o leva ao Parlamento, é incompreensível que, às escondidas, se dedique ao alpinismo político. Esta postura configura-se como alta traição, desonestidade inqualificável e uma deslealdade mal-cheirosa. É de uma indecência sem paralelo, imoral e antiético.
Mondlane é livre de sair ou de aderir o partido que mais lhe convier, mas existem procedimentos mínimos aceitáveis a seguir. Conheço Mondlane como um combatente de causas justas e de um ideal nobre. Porém, nesta empreitada incaracterística, não o reconheço nem de perto nem de longe, se esta melindrosa estória for verdadeira.
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