É preciso «(des)Josina(r)» o 7 de Abril!
1. Conforme é de conhecimento público, comemora-se hoje, dia 7 de Abril, em Moçambique, o «Dia da Mulher Moçambicana». Data considerada como feriado nacional, a mesma é histórica e politicamente associada à heroicidade de Josina Machel, falecida na mesma data, há 47 anos, ou seja, no ano de 1971.
2. Um “turbilhão” de narrativas sobre as causas da sua morte à parte, alguns escritos apontam que Josina falecera vítima de doença; outros ainda, que Josina falecera vítima de envenenamento. Há quem diga, ainda, que o rancor de Filipe Samuel Magaia por Josina ter o trocado por Samora Machel, merece realce.
3. Casada com o primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, Josina Muthemba que, desde então, passou a ser conhecida nacional e mundialmente por Josina Machel, é apontada como uma das fundadoras do «destacamento feminino» e como a inspiração da mulher moçambicana.
4. Declarado, oficialmente, como feriado nacional desde o período imediatamente posterior à independência nacional, o 7 de Abril tem sido fortemente comemorado pelas mulheres moçambicanas, estas que se enfeitam de lenços e capulanas estampadas com a fotografia de Josina Machel, vista como ícone da mulher moçambicana.
5. Nesta senda, víamos, então, um movimento de mulheres, entre comuns, figuras públicas como também funcionárias públicas, nos centros comerciais das nossas cidades capitais, à procura das melhores capulanas e lenços com a fotografia de Josina. Tinha pouco sentido comemorar a data sem tais roupas!
6. Tal comportamento, fortemente influenciado pelas campanhas feitas pela televisão e rádio públicas, tem como epicentro o nosso sistema nacional de educação que, durante muito tempo, desde crianças, ensina-nos a exaltar os “feitos” de Josina, e daí a sua heroicidade, diga-se, cá entre nós, algo politicamente forçada!
7. Nos manuais de ensino, ignora-se grande parte do papel desempenhado por outras mulheres que, à semelhança de Josina Machel, estiveram em frente na fundação do destacamento feminino, ocuparam cargos cimeiros na FRELIMO, e eleva-se olimpicamente a figura da mulher de Samora Machel, a jovem Josina.
8. Ora, para nós, é tanto que um grande equívoco que o 7 de Abril, propositadamente fixado como feriado nacional e dia da Mulher Moçambicana por intermédio da FRELIMO, seja comemorado segundo o prisma de Josina Machel. Esse comportamento revela de perto o fenómeno da politização e partidarização dos feriados nacionais.
9. Se se quer olhar o dia 7 de Abril como uma oportunidade para exaltar os “feitos heroicos(?)” de Josina Machel, já temos o 3 de Fevereiro que é uma data para comemorarmos a heroicidade de todos os heróis nacionais, entre homens e mulheres, isto é, sem qualquer discriminação, mesmo em nome do Princípio da Universalidade e da Igualdade.
10. A maior fraude nas comemorações do 7 de Abril verifica-se ao nível da função pública em que os chefes e as chefes (de departamento, de sector, e etc.,) persuadem, dizemos, obrigam às suas colegas subalternas que devam, no almoço alusivo à data naquelas instituições, ir trajadas de fardas de capulanas e lenços com fotografia de Josina.
11. Esse comportamento dos chefes e das chefes, que confundem as instituições públicas com células partidárias, dizemos, do Partido Frelimo, é errado e fere com a liberdade de escolha das nossas funcionárias públicas, por um lado, e por outro, é um exemplo gritante do “josina(r)” do dia 7 de Abril, dia da Mulher Moçambicana. Acto, com certeza, misturado com atitudes lambebotistas daqueles.
12. Ora, entendemos que seja necessário “(des)josina(r)” esta data. O facto de calhar propositadamente com a morte de Josina Machel, ela não pode ser usada para apontarmos a heroicidade desta que, entre nós, a EXISTIR, é pouco conhecida (senão desconhecida para não sermos extremistas). Convenhamos!
13. Todavia, já uma crescente mudança de mentalidade entre as mulheres moçambicanas. Notamos, então, que nos últimos tempos, à passagem desta data, nas suas fardas, já se enfeitam de capulanas e lenços de detalhes lindos e diversos que não conhecem o estampo da Josina Machel. Estão já a “(des)josina(r)” a data.
14. Achamos, finalmente, que é necessário que se coloque fim a politização e personalização (ou pessoalização) desta data. A coincidência propositada do dia 7 de Abril como data da morte de Josina e daí a consideração desta como Dia da Mulher Moçambicana, não pode significar dia de culto à figura da primeira cuja heroicidade é, até à esta parte, discutível.
À toda Mulher Moçambicana,
Feliz Dia da Mulher Moçambicana!
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