06/07/2017
A Agência de Investigação Ambiental(EIA, acrónimo em inglês) revelou esta semana que um grupo de cidadãos chineses, oriundos da cidade de Shuidong, dominam o tráfico ilegal de marfim do nosso continente para a Ásia e têm preferência pelo porto da capital de Cabo Delgado. “Francamente, é mais fácil fazer este negócio em Moçambique ... é mais fácil de operar. Na Tanzânia, nem pense nisso. Podemos mover qualquer coisa através da Pemba. Todos estão comprados”, confessou um dos traficantes aos investigadores da EIA.
A investigação publicada esta semana, resulta de cerca de três anos de trabalho envolvendo agentes infiltrados desta Organização Não Governamental baseada no Reino Unido, e conseguiu apurar que 80% do tráfico de marfim que entra na China é controlado por mais de uma dezena de sindicatos do crime muito bem organizado que estabeleceu-se em África desde os ano 90.
A localização geográfica da cidade de Shuidong justifica o seu papel central como “hub” do tráfico de marfim. Está próxima a este do mais movimento porto do mundo, Hong Kong, que é também uma das rotas preferenciais dos grandes carregamentos de marfim. A da cidade situa-se a província de Guangxi, que faz uma fronteira porosa com o Norte do Vietnam onde está localizado o porto Hai Phong, outro local de trânsito muito usado pelos traficantes. E a Norte de Shuidong localiza-se a província de Fujian, um dos centros de produção de objectos de marfim na China.
O grupo a que a EIA conseguiu acesso, fazendo-se passar por um potencial comprador, começou por operar na Tanzânia, usando o porto de Zanzibar, mas o aperto das autoridades do país vizinho ao tráfico viram-se forçados a procurar outras portas de saída para os seus produtos ilegais, o porto de Pemba foi o escolhido.
Os investigadores da EIA ganharam a confiança de um grupo de três elementos originários desta cidade do sul da China, identificados como Ou Haiqiang, Xie Xingbang and Wang Kangwen, estabelecidos em Moçambique alegadamente como empresários de caixilharia de alumínio e da pesca de pepinos do mar e lagosta, mas que acabaram por confidenciarem o seu envolvimento no tráfico de marfim. A investigação apurou que este grupo na realidade é uma segunda geração de traficantes provenientes da cidade de Shuidong.
Os traficantes relataram aos investigadores da EIA como não correu bem uma primeira encomenda de 3,5 toneladas de marfim que fizeram a um fornecedor moçambicano. Embora o transporte até a China tenha decorrido sem incidentes quando abriram o contentor verificarem ter sido enganados, receberem 2,9 toneladas dos dentes de elefantes e outras 100 quilos cuja qualidade não era boa.
“Francamente, é mais fácil fazer este negócio em Moçambique ... é mais fácil de operar”
Posteriormente, segundo a investigação que estamos a citar, o mesmo grupo voltou a “importar” marfim ilegal, só que mudou de fornecedor moçambicano e juntou ao grupo um intermediário tanzaniano, que a EIA apurou ser um frequentador habitual da cidade de Pemba.
Esta investigação deixa claro que os traficantes chineses não compram o que existe mas sim fazem encomendas, e daí os caçadores moçambicanos tratam de matar os animais para satisfazer a demanda, ganhando entre 80 a 100 dólares por quilo.
Para o segundo carregamento a encomenda foi de 3 toneladas de marfim. Desta vez, ao que a investigação indica, os traficantes chineses participaram pessoalmente na selecção do marfim pré-embarque, sempre acompanhados pelo intermediário tanzaniano. O carregamento acabou por ser de 2,3 toneladas, que depois de transportadas para a cidade de Pemba foram embaladas num contentor de 40 pés, os custos de envio foram de 300 dólares norte-americanos por quilo, tudo pago em dinheiro vivo.
“Francamente, é mais fácil fazer este negócio em Moçambique ... é mais fácil de operar. Na Tanzânia, nem pense nisso. Podemos mover qualquer coisa através da Pemba. Todos estão comprados”, confessou Ou Haiqiang aos investigadores da EIA.
Recordar que em Janeiro último, após mais de duas toneladas de marfim que partiram de Pemba terem sido apreendidas no Vietnam, Amélia Nakhare, a presidente da Autoridade Tributária de Moçambique(ATM), reconheceu que “os nossos portos continuam muito porosos sobretudo a nível da Região Centro e Norte. Estamos conscientes que ainda existe muita porosidade, que ainda temos muito contrabando das espécies mais preciosas que nós temos, quer ao nível da madeira, quer ao nível dos troféus das diferentes espécies que efectivamente saem das nossas fronteiras, apesar do trabalho que está a ser feito, mas não estamos parados, estamos a trabalhar”.
Entretanto a EIA apurou que os traficantes servem-se de empresas formais, com negócios legítimos, de parceiros para não levantarem suspeitas das autoridades não só moçambicanas mas ao longo do trajecto, e preferem que os contentores não viagem directamente de África para a China, mas sejam transbordados em pelo menos dois portos de trânsito onde têm já contactos estabelecidos.
Os investigadores da EIA acompanharam a chegada do carregamento a cidade de Shuidong, seis meses após a partida de Pemba, onde o marfim foi revendido por 750 dólares norte-americanos o quilograma a produtores de objectos que são vendidos legalmente no país asiático.
A EIA refere na sua investigação que e informação relevante que conseguiu apurar durante este trabalho foi partilhada com as autoridades dos países referenciados. Todavia o @Verdade sabe que a Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), entidade que coordena no nosso país a “guerra” contra a caça e tráfico ilegal, não recebeu informação nenhuma da Agência de Investigação Ambiental, só teve acesso a investigação publicada.
@VERDADE - 06.07.2017
Os investigadores da EIA ganharam a confiança de um grupo de três elementos originários desta cidade do sul da China, identificados como Ou Haiqiang, Xie Xingbang and Wang Kangwen, estabelecidos em Moçambique alegadamente como empresários de caixilharia de alumínio e da pesca de pepinos do mar e lagosta, mas que acabaram por confidenciarem o seu envolvimento no tráfico de marfim. A investigação apurou que este grupo na realidade é uma segunda geração de traficantes provenientes da cidade de Shuidong.
Os traficantes relataram aos investigadores da EIA como não correu bem uma primeira encomenda de 3,5 toneladas de marfim que fizeram a um fornecedor moçambicano. Embora o transporte até a China tenha decorrido sem incidentes quando abriram o contentor verificarem ter sido enganados, receberem 2,9 toneladas dos dentes de elefantes e outras 100 quilos cuja qualidade não era boa.
“Francamente, é mais fácil fazer este negócio em Moçambique ... é mais fácil de operar”
Posteriormente, segundo a investigação que estamos a citar, o mesmo grupo voltou a “importar” marfim ilegal, só que mudou de fornecedor moçambicano e juntou ao grupo um intermediário tanzaniano, que a EIA apurou ser um frequentador habitual da cidade de Pemba.
Esta investigação deixa claro que os traficantes chineses não compram o que existe mas sim fazem encomendas, e daí os caçadores moçambicanos tratam de matar os animais para satisfazer a demanda, ganhando entre 80 a 100 dólares por quilo.
Para o segundo carregamento a encomenda foi de 3 toneladas de marfim. Desta vez, ao que a investigação indica, os traficantes chineses participaram pessoalmente na selecção do marfim pré-embarque, sempre acompanhados pelo intermediário tanzaniano. O carregamento acabou por ser de 2,3 toneladas, que depois de transportadas para a cidade de Pemba foram embaladas num contentor de 40 pés, os custos de envio foram de 300 dólares norte-americanos por quilo, tudo pago em dinheiro vivo.
“Francamente, é mais fácil fazer este negócio em Moçambique ... é mais fácil de operar. Na Tanzânia, nem pense nisso. Podemos mover qualquer coisa através da Pemba. Todos estão comprados”, confessou Ou Haiqiang aos investigadores da EIA.
Recordar que em Janeiro último, após mais de duas toneladas de marfim que partiram de Pemba terem sido apreendidas no Vietnam, Amélia Nakhare, a presidente da Autoridade Tributária de Moçambique(ATM), reconheceu que “os nossos portos continuam muito porosos sobretudo a nível da Região Centro e Norte. Estamos conscientes que ainda existe muita porosidade, que ainda temos muito contrabando das espécies mais preciosas que nós temos, quer ao nível da madeira, quer ao nível dos troféus das diferentes espécies que efectivamente saem das nossas fronteiras, apesar do trabalho que está a ser feito, mas não estamos parados, estamos a trabalhar”.
Entretanto a EIA apurou que os traficantes servem-se de empresas formais, com negócios legítimos, de parceiros para não levantarem suspeitas das autoridades não só moçambicanas mas ao longo do trajecto, e preferem que os contentores não viagem directamente de África para a China, mas sejam transbordados em pelo menos dois portos de trânsito onde têm já contactos estabelecidos.
Os investigadores da EIA acompanharam a chegada do carregamento a cidade de Shuidong, seis meses após a partida de Pemba, onde o marfim foi revendido por 750 dólares norte-americanos o quilograma a produtores de objectos que são vendidos legalmente no país asiático.
A EIA refere na sua investigação que e informação relevante que conseguiu apurar durante este trabalho foi partilhada com as autoridades dos países referenciados. Todavia o @Verdade sabe que a Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), entidade que coordena no nosso país a “guerra” contra a caça e tráfico ilegal, não recebeu informação nenhuma da Agência de Investigação Ambiental, só teve acesso a investigação publicada.
@VERDADE - 06.07.2017
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