A primeira leitura à volta da ruptura entre Mahamudo Amurane e Daviz Simango remete para um desafio. O desafio da sobrevivência do MDM enquanto partido que almeja uma implantação nacional. Se o MDM está destinado a confinar-se apenas na região à volta de Sofala ou se ele tem pernas para se afirmar muito mais à norte (e também à sul e oeste), rompendo cortinas de base étnica e regional, como parece ser o caso, essa é a grande questão.
Até hoje, o partido se vai expandindo com uma marca indelével: uma restrita clientela de Simango, originária da Beira, dominando o seu processo decisório e estendo a mão à mordomias com origem no poder local. Veja-se o perfil hierárquico da sua bancária parlamentar na AR; e veja-se também a marginalização de que está sendo alvo o edil de Quelimane, Manuel de Araújo. A implantação do MDM em Nampula deveu-se a uma máquina montada por elementos oriundos da Beira ou muito próximos dos Simango (as suas redes clientelares) com expectativas naturais de acesso a recursos e benefícios resultantes de se estar no poder.
Amurane tem rechaçado esses apetites (sobretudo aqueles de natureza corruptiva) em prol de uma certa eficiência e transparência. E agora, na falta de apoio político de Simango, que atirou para Amurane o ónus da prova (e este interpretou a oferta de apoio em assistência legal por parte de Daviz como um vexame), é crível que ele queira dar o salto. Qual salto? O provável salto para uma candidatura independente no próximo ano. Isso é possível. Aconteceu o mesmo com o próprio Daviz. Quando Dhlakama lhe retirou o tapete em 2008 na Beira, ele avançou como independente e ganhou. O MDM só viria a nascer em 2009.
Daviz ganhou porque já tinha conquistada na Beira não necessariamente a base militante da Renamo mas a base eleitoral da autarquia. O que deve ser o caso de Amurane. Sua gestão parece ter a aprovação da maioria dos nampulenses, um município macua, sua etnia (uma fonte de provável clivagem são as origens étnicas distintas entre Amurane e Simango).
Por isso, a batata quente está nas mãos de Simango. Ostracizar Amurane nas hostes do partido (afastando-o dos órgaos cimeiros) como fez com Araújo é ir cavando a sepultura do MDM enquanto formação que almeja ter relevancia à escala nacional. Mas sua natureza quase clânica também não ajuda. Se o MDM não se revitalizar para representar o arco-íris da moçambicanidade ele pode ir perdendo espaço. A gestão do caso Amurane vai ser crucial. A Frelimo e a Renamo estão à espreita...
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