O labirinto não é tão intricado. É como o de Teichland. Basta virar para o lado certo à entrada. No caso de Amurane. o mais complicado também não é o puzzle. O problema, o único problema, é saber qual das três saídas lhe garante o futuro político que ele escolheu para si: 1- Ou permanece no MDM (para isso Daviz Simango te-lo-á de engolir mas Amurane deverá lutar para impor seus ideias no Congresso de Nampula, em Dezembro, contra uma maquina que lhe é completamente hostil); 2. Ou avança com uma candidatura independente em 2018, mobilizando apoios junto da sociedade civil e do sector privado e o futuro depois se verá (com o fardo de enfrentar nas eleições três partidos com estrutura consolidada, nomeadamente a Frelimo, a Renamo e o próprio MDM); 3-Ou se deixa levar pela Frelimo (para quem uma aliança com Amurane poder ser mais frutuosa que uma candidatura presidencial própria para Nampula, criando assim bases para a recuperação da edilidade nortenha).
Ontem falei com Amurane. Ele rechaça qualquer possibilidade de abordagem do seu futuro. O momento, diz ele, é o de gerir o atual diferendo, e isso passa pela opinião pública perceber os detalhes que fizeram o caldo entornar-se. Mas a veemência com que Amurane afrontou Daviz Simango em público não deixa margem para dúvidas: ele não é daqueles que verga; seus princípios falam mais alto. Ainda não lançou sinais de ruptura com o partido mas mostrou que tem consciência da capacidade para caminhar sozinho. Amurane é um sapo que Daviz Simango terá de engolir. O MDM sabe que não pode descartá-lo. A estratégia de gestão da crise passa por não se falar da crise. Parece que o partido não vai alimentar parangonas. Pelo menos até ontem nada apontava para a indicação de uma sessão extraordinária da Comissão Política, um órgão com 13 membros, nenhum eleito, todos nomeados por Daviz Simango (os membros mais recentes são Amurane e o destacado deputado na AR Venâncio Mondlane).
Daviz Simango está entre a espada e a parede porque a atual crise resulta também da forma centralista como gere o partido. Ele é o grande “mandão”. Nomeia os membros da Comissão Política e nomeia o Secretário Geral. O atual é um antigo renamista, Luís Boavida, que anda desaparecido da praça pública há meses. Muitos no partido não lhe reconhecem capacidades para ser um executivo que faça mais que Simango pelo partido. Há também uma insatisfação pelo facto de o Porta Voz, Sande Carmona, estar baseado na Beira e acumular esse cargo com o de deputado na AR e presidente da Liga da Juventude, ele que já tem mais de 40 anos. Mas Sande é um “menino” de Daviz. O Congresso de Dezembro será fundamental para ver até que ponto Simango está disposto a democratizar os órgãos do partido. Isso envolverá mudança de estatutos, coisa que Amurane defende aguerridamente. Mas Simango reage mal contra quem dá opiniões progressistas. No rescaldo das eleições 2014, o edil de Quelimane Manuel Araújo Sugeriu que Chefe da Bancada do MDM na AR fosse oriundo do circulo eleitoral que mais deputados havia feito eleger. Mas Daviz torceu o nariz e nomeou seu irmão Lutero.
A atual crise é um resquício do centralismo de Daviz Simango que, nas vésperas das eleições de 2014, alterou à mão a lista de candidatos do MDM à AR eleitos democraticamente nas províncias, introduzindo seus apaniguadas nos lugares cimeiros (o cabeça de lista da Zambézia acabou sendo um seu antigo comandante da Polícia Municipal na Beira). Mesmo na gestão das autarquias locais controladas pelo partido, há uma interferência de cima. A indicação da chefia das bancadas nas assembleias municipais é da responsabilidade da comissão política. E a máquina partidária com seus elementos ociosos nas províncias condiciona a atuação do edis, pressionando-os, a coberto da aprovação tutelar de Daviz, para negociatas que beneficiem os membros e o partido. Foi contra e isto e outros negociatas de membros do MDM que Amurane se bateu na mesa esta semana. Resta saber se Daviz está preparado para democratizar o MDM e atrair forasteiros que emprestem seu capital político para o partido ir conquistando mais espaço no poder local e a na AR. O Congresso de Dezembro vai ditar o futuro.
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