quarta-feira, 10 de outubro de 2018
Quem também abriu champanhe pela chegada da Exxon-Mobil à Angoche
Ontem, quando o Ministro Max Tonela (Recursos Minerais e Energia) e o DG da ExxonMobil, Joe Evans, selavam o contrato para o início da prospecção e pesquisa de petróleo pela gigante americana na costa de Angoche (dois blocos) e no Delta do Zambeze (um bloco), nalgumas “boardrooms” em Maputo houve quem também celebrasse. Não ainda a grande e à francesa. Mas com alguma cautela. A Exxon iniciar suas operações em Angoche representa uma grande oportunidade para representantes das elites locais, muitos deles ligados ao partido Frelimo. O grupo já estava no terreno em démarche para garantir que seja envolvido numa eventual reabilitação (ou construção de uma nova) do porto local capaz de suportar operações de logística da Exxon agora (e mais tarde da Eni, que também ganhou um bloco de pesquisa na costa de Angoche).
O lobby nampulense (ou angocheano) envolve figuras de relevo na Frelimo: José Abudo, José Mateus Kathupa, Eduardo Nihia, General Frazão, General Jorge Khalau, Aires Aly, Rosário Mualeia, António Assane e Magalhães Abramugy (este já teve uma posição de destaque na Renamo). A lista é enorme. Estes nomes são os mais sonantes e representam duas entidades: uma firma denominada Gedena SA e outra chamada Angoche Desenvolvimento e Logística SA (ADL). Juntaram-se num consórcio que recebeu a designação de Padáry Ya Málany (Porto de Málany). Malány é o local onde está situado o velho cais de Angoche, que recebia embarcações comerciais. No passado dia 31 de Agosto, José Abudo foi a Angoche apresentar o projecto do ‘Porto Logístico de Angoche”. O consórcio assinou este ano um memorando de entendimento com os CFM que lhe coloca na dianteira das preferências para uma adjudicação do projecto da base logística de Angoche.
Os promotores esperam que sua ventura não venha a ser preterida por outros interesses, como aconteceu com a Muyake, que foi afastada do porto de Pemba para dar lugar a actual Base Logística, agora em construção a um rítmo diferente do projectado. A Muyake (de Leonardo Simão, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Simão Muhai e Fundação Joaquim Chissano) tinha realizado estudos para implatação de uma base logística em Pemba mas foi afastada quando o Governo optou por viabilizar um consórcio entre a ENH Logistics, a angolana SONLis e o nigeriano de origem italiana Gabrielle Volpi. A Muyake meteu o caso em Tribunal e o Governo foi condenado a pagar 60 milhões de USD de indemnização (ainda não paga).
O anúncio da chegada da Exxon à Angoche encheu de satisfação também os nativos e habitantes da cidade. Um antigo sultanato estabelecido como centro de trocas comerciais nas rotas do Indico, Angoche cresceu à volta do seu pequeno porto onde ancoravam todos os negócios locais. O porto funciona hoje a meio gás. Está sob a alçada dos CFM (isso explica o memorando de entendimento). Sua reabilitação de raiz vai “tirar Angoche do marasmo”, diz o régulo Sabino, da zona do Ínguri, a mais populosa da cidade. Sabino quer que os primeiros beneficiários do investimento da Exxon (e depois da ENI) sejam a cidade de Angoche e suas populações. “Chega de todo o bolo ficar em Maputo”. Para ele, a revitalização do porto vai fazer com que Angoche recupere sua aura do passado, que também se alimentava do cajú. O Governador de Nampula, Victor Borges, está igualmente entusiasmado com a perspectiva de ganhos directos do investimento da Exxon na economia local de Angoche. “Já era sem tempo”, disse ele, que espera que o processo decisório sobre esta matéria tenha em conta a inclusão das elites locais ou seus representantes.
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