24/08/2018
EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (110)
Bom dia, Presidente. Hoje é sexta-feira. O dia em que, religiosamente, lhe escrevo. Porém, há-de me desculpar, senhor Presidente. É que, desta feita, fá-lo-ei de forma diferente.
É assim- isto é hipotético-: se hoje acordasse às quatro-e-meia da manhã (hora que normalmente me levanto em dias úteis), enquanto o Presidente me emprestou o comando do Governo para pelo menos seis meses. O que eu faria? Consideremos que não sou simplesmente chefe do Governo. Sou, outrossim, presidente da Frelimo, o partido que governa desgraçadamente este País há mais de quarenta anos. Eu, hipotético Filipe Nyusi, começava por resgatar aquele discurso que proferi naquele dia de chuva miúda em que tomei posse ante o aplauso de centenas de moçambicanos, com emotivos e repetitivos “hoyes” de Marcelino dos Santos. Se eu, efectivamente, é que o escrevi, só o revisitaria como mero exercício de introspecção. Sei o que está lá escrito, como sei, também, que não respeitei nada do que está lá.
Aliás, em menos de 24 horas após a tomada de posse, comecei as asneiras. Joguei o discurso na retrete. O Governo que prometi que seria composto por tecnocratas, virou um clube de apaniguados, de clientelismo. Pois bem: eu, Presidente da República, começava por apartar-me dos camaradas que me colocaram no poder. Fazia-lhes perceber, usando qualquer medida, que o meu patrão é, efectivamente, o povo moçambicano. Não seria demagogia.
Acabava com essas brincadeiras de o futuro do País se decidir em reuniões regadas de uísques, onde se junta meia-dúzia de camaradas, motivada por garantir o seu lugar cativo na mamadeira estatal. No meu Governo, desmamava esses senhores de cabelos e tudo branco que se alimentam do leite do Estado! O meu Governo jamais seria formado por lambe-botas que fingem que me estão a ajudar, enquanto o que querem, necessariamente, é me esfaquearem pelas costas. Nenhum homem sensato se deixa levar pela bajulação.
Cartas ao Presidente da República (110)
Bom dia, Presidente. Hoje é sexta-feira. O dia em que, religiosamente, lhe escrevo. Porém, há-de me desculpar, senhor Presidente. É que, desta feita, fá-lo-ei de forma diferente.
É assim- isto é hipotético-: se hoje acordasse às quatro-e-meia da manhã (hora que normalmente me levanto em dias úteis), enquanto o Presidente me emprestou o comando do Governo para pelo menos seis meses. O que eu faria? Consideremos que não sou simplesmente chefe do Governo. Sou, outrossim, presidente da Frelimo, o partido que governa desgraçadamente este País há mais de quarenta anos. Eu, hipotético Filipe Nyusi, começava por resgatar aquele discurso que proferi naquele dia de chuva miúda em que tomei posse ante o aplauso de centenas de moçambicanos, com emotivos e repetitivos “hoyes” de Marcelino dos Santos. Se eu, efectivamente, é que o escrevi, só o revisitaria como mero exercício de introspecção. Sei o que está lá escrito, como sei, também, que não respeitei nada do que está lá.
Aliás, em menos de 24 horas após a tomada de posse, comecei as asneiras. Joguei o discurso na retrete. O Governo que prometi que seria composto por tecnocratas, virou um clube de apaniguados, de clientelismo. Pois bem: eu, Presidente da República, começava por apartar-me dos camaradas que me colocaram no poder. Fazia-lhes perceber, usando qualquer medida, que o meu patrão é, efectivamente, o povo moçambicano. Não seria demagogia.
Acabava com essas brincadeiras de o futuro do País se decidir em reuniões regadas de uísques, onde se junta meia-dúzia de camaradas, motivada por garantir o seu lugar cativo na mamadeira estatal. No meu Governo, desmamava esses senhores de cabelos e tudo branco que se alimentam do leite do Estado! O meu Governo jamais seria formado por lambe-botas que fingem que me estão a ajudar, enquanto o que querem, necessariamente, é me esfaquearem pelas costas. Nenhum homem sensato se deixa levar pela bajulação.
É longo e intricado o caminho para Ítaca e só os ingénuos deixar-se-ão sucumbir aos encantos da sereia! Acabava com essas brincadeiras-que raiam ao Xiguiane- de que quando visito uma província, distrito ou localidade, os governantes locais estão “uniformizados”. Vestem camisas de capulana só para me impressionarem. Acabava com o exército de abutres!
A minha magistratura não seria de fandangos regados com o dinheiro popular, enquanto todos fingem que trabalham. Seria de trabalho sério, visível a olho popular. O meu Governo não seria constituído por políticos amadores e vastamente incultos. Muitos deles, até invocam, com ar professoral e quase menosprezante, modelos governamentais que lhes ultrapassam. Eles vêem que as suas hipóteses – aplicadas na governação- são desbaratadas pelos resultados da aplicação delas. Mas, persistem em aplicá-las em doses reforçadas.
Por exemplo, nas mãos dogmáticas do senhor ministro das Finanças, parece que a economia não é uma ciência relativa, mas, sim, um dogma religioso, com pés de barro e consequências sinistras.
Como Presidente, claro e mais do que ninguém, sentiria a necessidade urgente de aligeirar o orçamento; mas colocaria o remédio para o embaraço das nossas finanças não em certas economias mesquinhas e detestáveis; o remédio estaria mais alto e algures; estaria numa política inteligente e tranquilizadora, que desse confiança ao País, que fizesse renascer a ordem, o trabalho e o crédito, e que permitisse diminuir, suprimir mesmo as enormes despesas sociais que resultam dos embaraços da situação.
Acabava com empresas e institutos que alimentam clientelas – que castigam o povo, protegendo, desavergonhadamente, uma falsa elite de falsos empresários. As desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias. Eu, como Presidente, não me iria preocupar com o Giles Cistac, ou qualquer outro comentador político.
Os que me chamassem à razão, por não estarem satisfeitos com o meu estilo de governação, tê-los-ia em conta. A bajulação, a adulação, no meu Governo, seria considerada uma heresia. Aplicar-se-ia os autos-de-fé.
Não me permitiria acabar o tempo precioso que o povo me concedeu para colocar o País nos carris, perseguindo a Renamo- até Dhlakama sucumbir nas matas da Gorongosa. Juntava todos os meus opositores à minha mesa. Eles jamais seriam meus inimigos. Os inimigos, verdadeiramente, estão entrincheirados no partido à espera de qualquer distracção para desembainharem a espada.
Como Presidente, não iria acobertar pilantras que roubaram mais de dois biliões de dólares ao Estado. Não seria amigo de quem alimenta o seu regabofe com o suor do povo. Até seria o primeiro a chamar a Kroll e permitiria que o relatório desta, a jeito de publicidade, fosse divulgado em todos os órgãos de comunicação social. Deixaria a justiça fazer o que lhe compete.
Os tiranos mereceriam o “linchamento”. Por fim, desceria ao escalão inferior. Acabava com essas “regalias” de malta David Simango andar escoltada e com sirenes, enquanto a cidade é um oceano de lixo. Luxo no lixo!
Mostrava ao povo que o meu Governo é para lhe servir e não para se servir. Nós, no meu Governo, jamais seriamos uma gangue! Volvidos os seis meses, devolvia-lhe o Governo, ciente de que não fiz tudo, mas o suficiente para o bem popular.
O povo que até hoje continua a seguir o Lula, não é porque lhe prometeu algo. Viu para crer. Talvez seja por isso que até perdoa qualquer coisa de vil que haja feito.
Mas cá, na nossa pérola do Índico, como dizia o “visionário”, é só ladroagem e o bando é impune! E para quando, afinal, o esperado Camelot?
DN – 24.08.2018
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