"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sábado, 11 de março de 2017

"Muitos dos seus ministros, Presidente, não foram nomeados por mérito. Foi por lealdades partidárias, entre tantos outros esquemas que dispensam, por ora, delongas"


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EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (45)
Bom dia, Presidente. Já me desculpei por lhe não ter, noutra semana, feito chegar a habitual correspondência. Presumo que agora estamos firmes. E é, por via dessa firmeza, que hoje tem-na bem cedo. É a minha quadragésima quinta carta. Leia com calma e responde quando lhe aprouver. Sei que o tempo lhe falece. Anda de ministério em ministério a destapar o que já é do conhecimento de todos.
Quem é o moçambicano que não sabe que neste País, para produzir, precisa obter autorização de quem não produz nada? Há alguém que não sabe que o dinheiro flui para quem negoceia não com bens, mas com favores? Neste País muitos ficam ricos com suborno e por influência, mais que pelo trabalho. Portanto, as suas “descobertas” nos ministérios, Presidente, dispensam carpideiras.
Eu, pessoalmente, sou da opinião que as visitas aos ministérios deviam parar. Basta os que já foram visitados. Ofereceram material suficiente sobre como estão as coisas nos restantes ministérios. O caos é total. E o que o Presidente está a fazer não é tentar pôr ordem no Estado, mas, sim, arranjar uma desculpa para os seus sistemáticos fracassos na gestão deste País. O Presidente está à procura de bodes expiatórios para o falhanço deste sistema político que tem no senhor o cabeçalho. Isto está um caos!!!
As visitas aos ministérios parecem uma estratégia de queimar tempo. Parece algo de alguém que quer empurrar o tempo até às próximas eleições, sem que tenha, efectivamente, trabalhado; mas, contudo, ao fim do dia, quer ser recompensado. Há muita coisa que deveria preencher o seu tempo, Presidente. Por exemplo, por que não começa por tentar perceber (e resolver) como é que empresas públicas, como a Mcel, LAM, EDM, TDM, Emose, CFM e tantas outras estão de rastos?
Onde é que foram parar os dinheiros da Mcel, que até há bem pouco tempo fazia parte da lista das dez maiores empresas de Moçambique? Por quê a EDM tem uma dívida avultada com a HCB? A LAM está pior que o “My Love”. Este, pelo menos, cumpre com os horários…
Eu, sinceramente, estou muito decepcionado com a sua presidência.
Posso ser o único, talvez porque renovei as minhas esperanças naquele seu discurso inaugural, ali na Praça da Independência. Vi-me reflectido no seu discurso, mas debalde. A corrupção continua a ser protegida e recompensada. Ser honesto neste País, é sinónimo de autoflagelação.
Muitos dos seus ministros, Presidente, não foram nomeados por mérito. Foi por lealdades partidárias, entre tantos outros esquemas que dispensam, por ora, delongas. Por exemplo, qual tem sido, até aqui, a obra do ministro Carlos Mesquita? Ao que me parece, ele foi chamado ao Governo para se servir a si e a sua família. Ao povo é que não. Todos os negócios do ministério que dirige adjudica à seu favor e jamais o Presidente pronunciou algo a esse respeito. Isto leva-nos a pensar que existe um complô para sugar ainda mais o pouco leite que resta desta vaca leiteira chamada Estado moçambicano.
Eu duvido que da sua parte, Presidente, haja falta de foco. O senhor sabe o que deve ser feito para colocar este País nos carris. Só não faz porque não é conveniente. À Frelimo convém saquear o Estado. À Frelimo interessa a formação de uma classe capitalista nacional através da expropriação do Estado. Enquanto isso, os problemas nas instituições estatais estão em crescendo. O Presidente que escolhemos para enfrentá-los, confrontá-los, continua a passear pelos ministérios, alheio ao drama que apoquenta o seu povo, mas feliz com o seu séquito de aduladores, de lambe-botas que nada querem, a não ser as migalhas que caiem da mesa opulenta do poder.
DN – 10.03.2017

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