"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quarta-feira, 22 de março de 2017

O País das Tréguas


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Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Estou a pensar nos preços de combustí­veis que subiram porque o volu­me dos caudais dos rios também subiu. Estou a pensar nos cau­dais dos rios que subiram, por­que os preços dos produtos de primeira necessidade subiram exponencialmente em Dezem­bro. Estou a pensar nas inundações de grandes proporções que avassalam a cidade da Beira, fa­zem jus ao facto de que as valas de drenagem não as conseguem conter, da mesma forma que o Governo não consegue conter a subida dos preços de gasolina, petróleo e diesel, não consegue conter o apetite de dirigentes que saqueiam do erário público. Estou a pensar que tudo isso tem casualidade com o princípio de vasos comunicantes, ao efeito cascata e dominó do incumpri­mento contratual da prestação das dívidas escondidas, junto dos credores, que também continuam a subir, uma vez que em Janeiro o Governo não conse­guiu pagar o crédito da EMATUM, e mais uma vez agora se mostra de mesma forma inca­paz de pagar o da Proindicus.
Estou a pensar que nada vem só. Com as inundações subirão os casos das doenças diarreicas, como a cólera, óbitos cau­sados por essa e a malária, que não conseguiremos conter, por­que somos um país impotente.
E porque nenhuma desgra­ça vem por si só, nos merca­dos Dumba-nengue e Tchunga-moyos, as mamanas afinam os copitos de tábua e de vidro de medidas tradicionais de venda a atado, as chamadas "mazumana haleno” e “amagumba haleno", armam as tampinhas de medição de óleo avulso, porque há que encontrar uma forma de inalar o oxigénio que falta em todo o lado. Uma forma de desen­rascar quando se está à rasca.
Mais porque não há bela sem senão, as tréguas subiram de duas para três assim proporcionaram-nos com mais um copinho de trégua depois ou­tra, depois outra ainda» adiante mais uma colherinha de mel.
Também, com esse advento, os mukheros (os que se dedicam ao comércio transfronteiriço) subi­ram, subiu o índice de refugia­dos económicos, daí o motivo por que os irmãos sul-africanos se mostram xenófobos, para construírem um muro na frontei­ra comum entre nós e eles, se­guindo o repto de Donald Trump.
Tudo está a subir. O desempre­go subiu. O número de empresas que se fecham diariamente, por insolvência e pela actividade da INAE, subiu. Os sequestros ten­dem a subir. A temperatura su­biu e vem aí o inverno rigoroso.
Este é o País das Tréguas, mas contra o custo de vida e o aperto do cinto o Governo e a Renamo não decretam tréguas, asfixian­do o povo cada vez mais empo­brecido. Ninguém se postula a declarar trégua zero às anófeles e ao vibrião colérico. Estamos sempre a subir de caudal. Daqui a pouco os salários vão subir, mas continuarão incompatíveis para comprarmos os "monti­nhos” de peixe seco, de camarão fino, de "mazumana haleno". Sobem os decibéis de apelo à paz efectiva, à descentralização.
E ainda continuaremos a dizer que este é o País das Tréguas, mesmo que no cinto não cai­ba espaço para fazer uma úni­ca ranhura. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 22.03.2017

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