RENAMO - EM DEFESA DA DEMOCRACIA EM MOÇAMBIQUE, de Sibyl W. Cline(1989)(2)
Em 1987, quando estive em África com os consultores dos Negócios Estrangeiros para os candidatos presidenciais republicanos, houve dois «massacres» atribuídos à RENAMO. Um foi em Homoine e outro em Manjacaze, ambos perto da costa sudeste, a menos de 320 km a norte de Maputo. Homoine foi o primeiro. Os relatos do que aconteceu em Homoine foram divulgados com inconsistência lógicas e continham referências, mas a versão do Governo fez durante semanas um empolamento do caso na imprensa internacional. O Governo clamou que 300 a 600 soldados da RENAMO, atacaram Homoine, dirigindo-se primeiro ao hospital, onde fuzilaram os doentes. Em seguida, juntaram 386 civis e mataram-nos. Os atacantes escreveram nas paredes do edifício frases e temas pró-RENAMO. Depois, supostamente, enterraram todos os mortos numa vala comum. Nunca ficou bem esclarecido que os corpos fossem alguma vez identificados ou contados.
Existem vários problemas relacionados com este caso. Primeiro, as forças da RENAMO quase nunca viajam em grupos tão grandes como 300 a 600. Não têm botas ou uniformes novos. Segundo, seria difícil juntar 386 civis, a fim de os fuzilar. Os africanos desaparecem no mato ao primeiro som de um disparo. Do mesmo modo, vestir os uniformes do inimigo e cometer atrocidades é uma táctica de guerra em África que o tempo honrou. Além disso, apenas repórteres situacionistas tiveram de imediato acesso ao local. Todos os outros tiveram de esperar dez dias a duas semanas. No entanto, a imprensa internacional levantou um coro de gritos e protestos contra as atrocidades provocadas pela RENAMO.
Algumas semanas mais tarde, aconteceu supostamente um segundo «massacre» em Manjacaze. Fui convidada pelo Governo a ir ao local do massacre; acompanhada pelo ministro de Cultura, assim o fiz. À medida que o dia passava, a história do acontecimento sofria sempre alterações. Primeiro, havia 300 soldados da RENAMO, mais tarde 1000. Supostamente 101 civis tinham sido mortos, mas não se viam nenhuns vestígios na cidade — nem sangue, nem orifícios de balas nas casas, nenhuns corpos. O principal dano que vi tinha sido feito ao gerador de energia que tinha ido pelos ares e ao edifício da Administração que tinha sido pilhado. Perguntei onde ê que as pessoas tinham sido mortas e disseram-me, com um gesto vago, «fora da cidade». Os meus guias levaram-me ao hospital, onde duas camas tinham sido ligeiramente queimadas. Perguntei aos auxiliares se alguém tinha sido morto e disseram-me: «Bem, não, os doentes levaram consigo os mais doentes». Finalmente perguntei se havia quaisquer frases ou graffitis como tinha acontecido em Homoine. Os meus guias olharam para mim com ar admirado e trocaram impressões entre eles. Em seguida, 20 minutos mais tarde aproximadamente, ao dobrarmos uma esquina havia um muro com um grande sinal onde se lia: «Viva a RENAMO». Aproximei-me e, por alguma razão, passei o meu dedo pela pintura. Para minha surpresa e choque, estava fresca. Pude apenas deduzir que, fosse o que fosse que tivesse acontecido em Manjacaze, o Governo tinha agarrado a oportunidade de fazer com que se parecesse com o incidente de Homoine, descendo mesmo ao ponto de se falar de ataque ao hospital. Inicialmente, porém, tinha esquecido o graffiti.
O representante do Departamento de Estado dos Estados Unidos que estava connosco em Manjacaze ficou tão céptico quanto eu no que se refere a qualquer «massacre» que tivesse ocorrido. Tinha visitado Homoine — quando finalmente lhe deram autorização para lá ir — duas semanas após o acontecimento. Disse-me que tinha, igualmente, sérias reservas sobre a versão que tinha sido veiculada sobre aquele acontecimento. Sem qualquer sombra de dúvida, enviou os relatórios para Washington, mas parece que tiveram pouco ou nenhum efeito. Entreguei o meu relatório sobre os «massacres» à secretaria africana do Departamento de Estado, mas nem sequer um vislumbre de interesse chegou aos meus ouvidos.
Até agora, estes dois «massacres» foram incidentes que permaneceram isolados. Não houve ne nhum, antes da visita da delegação dos Negócios Estrangeiros e, desde então, também nenhum outro foi referido. Tudo leva a crer que foram orquestrados pela FRELIMO para benefício da delegação.
«Ataque da FRELIMO»»
Mais recentemente, em 1989, na minha viagem através de Moçambique e no meu caminho para a Gorongosa, tinha o hábito de todas as noites escutar as notícias na rádio. Às 8 horas costumávamos reunir em volta da fogueira e sintonizávamos a «Voz da América» da BBC. Uma noite ouvimos um relato de que a FRELIMO tinha capturado cinco bases da RENAMO, tinha morto mais ou menos 300 guerrilheiros e libertado cerca de 400 civis. Tal era descrito como uma ofensiva de grande porte e de êxito para as forças da FRELIMO. Tentámos fazer uma ideia onde é que o ataque tinha ocorrido e, à medida que a rádio referia nomes locais, compreendemos que estávamos sentados no meio da alegada zona de batalha e que tínhamos caminhado por ela todo o dia. Tinha sido uma história completamente fabricada. Fiquei horrorizada, mas os meus guias da RENAMO limitaram-se a rir e disseram que a FRELIMO publica histórias como essa a todo tempo. Tais relatos constituem um triste testemunho de como um governo decadente está disposto a distorcer a verdade para permanecer no poder.
RENAMO – EM DEFESA DA DEMOCRACIA EM MOÇAMBIQUE, de Sibyl W. Cline, págs 47/50
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