"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 18 de julho de 2014

RENAMO - EM DEFESA DA DEMOCRACIA EM MOÇAMBIQUE, de Sibyl W. Cline(1989)(2)

Sibyl_MacKenzieAngolaUnita«Massacre da RENAMO.»
Em 1987, quando estive em África com os con­sultores dos Negócios Estrangeiros para os candida­tos presidenciais republicanos, houve dois «massa­cres» atribuídos à RENAMO. Um foi em Homoine e outro em Manjacaze, ambos perto da costa sudeste, a menos de 320 km a norte de Maputo. Homoine foi o primeiro. Os relatos do que aconteceu em Homoi­ne foram divulgados com inconsistência lógicas e continham referências, mas a versão do Governo fez durante semanas um empolamento do caso na im­prensa internacional. O Governo clamou que 300 a 600 soldados da RENAMO, atacaram Homoine, dirigindo-se primeiro ao hospital, onde fuzilaram os doentes. Em seguida, juntaram 386 civis e mataram-nos. Os atacantes escreveram nas paredes do edifício frases e temas pró-RENAMO. Depois, supostamente, enterraram todos os mortos numa vala comum. Nunca ficou bem esclarecido que os corpos fossem alguma vez identificados ou conta­dos.
Existem vários problemas relacionados com es­te caso. Primeiro, as forças da RENAMO quase nunca viajam em grupos tão grandes como 300 a 600. Não têm botas ou uniformes novos. Segundo, seria difícil juntar 386 civis, a fim de os fuzilar. Os africanos desaparecem no mato ao primeiro som de um disparo. Do mesmo modo, vestir os uniformes do inimigo e cometer atrocidades é uma táctica de guerra em África que o tempo honrou. Além disso, apenas repórteres situacionistas tiveram de imediato acesso ao local. Todos os outros tiveram de esperar dez dias a duas semanas. No entanto, a imprensa in­ternacional levantou um coro de gritos e protestos contra as atrocidades provocadas pela RENAMO.
Algumas semanas mais tarde, aconteceu supos­tamente um segundo «massacre» em Manjacaze. Fui convidada pelo Governo a ir ao local do massa­cre; acompanhada pelo ministro de Cultura, assim o fiz. À medida que o dia passava, a história do acon­tecimento sofria sempre alterações. Primeiro, havia 300 soldados da RENAMO, mais tarde 1000. Supos­tamente 101 civis tinham sido mortos, mas não se viam nenhuns vestígios na cidade — nem sangue, nem orifícios de balas nas casas, nenhuns corpos. O principal dano que vi tinha sido feito ao gerador de energia que tinha ido pelos ares e ao edifício da Ad­ministração que tinha sido pilhado. Perguntei onde ê que as pessoas tinham sido mortas e disseram-me, com um gesto vago, «fora da cidade». Os meus guias levaram-me ao hospital, onde duas camas tinham si­do ligeiramente queimadas. Perguntei aos auxiliares se alguém tinha sido morto e disseram-me: «Bem, não, os doentes levaram consigo os mais doentes». Finalmente perguntei se havia quaisquer frases ou graffitis como tinha acontecido em Homoine. Os meus guias olharam para mim com ar admirado e trocaram impressões entre eles. Em seguida, 20 mi­nutos mais tarde aproximadamente, ao dobrarmos uma esquina havia um muro com um grande sinal onde se lia: «Viva a RENAMO». Aproximei-me e, por alguma razão, passei o meu dedo pela pintura. Para minha surpresa e choque, estava fresca. Pude apenas deduzir que, fosse o que fosse que tivesse acontecido em Manjacaze, o Governo tinha agarra­do a oportunidade de fazer com que se parecesse com o incidente de Homoine, descendo mesmo ao ponto de se falar de ataque ao hospital. Inicialmen­te, porém, tinha esquecido o graffiti.
O representante do Departamento de Estado dos Estados Unidos que estava connosco em Manja­caze ficou tão céptico quanto eu no que se refere a qualquer «massacre» que tivesse ocorrido. Tinha vi­sitado Homoine — quando finalmente lhe deram au­torização para lá ir — duas semanas após o aconteci­mento. Disse-me que tinha, igualmente, sérias reser­vas sobre a versão que tinha sido veiculada sobre aquele acontecimento. Sem qualquer sombra de dú­vida, enviou os relatórios para Washington, mas pa­rece que tiveram pouco ou nenhum efeito. Entreguei o meu relatório sobre os «massacres» à secretaria africana do Departamento de Estado, mas nem se­quer um vislumbre de interesse chegou aos meus ou­vidos.
Até agora, estes dois «massacres» foram inci­dentes que permaneceram isolados. Não houve ne nhum, antes da visita da delegação dos Negócios Estrangeiros e, desde então, também nenhum outro foi referido. Tudo leva a crer que foram orquestra­dos pela FRELIMO para benefício da delegação.
«Ataque da FRELIMO»»
Mais recentemente, em 1989, na minha viagem através de Moçambique e no meu caminho para a Gorongosa, tinha o hábito de todas as noites escu­tar as notícias na rádio. Às 8 horas costumávamos reunir em volta da fogueira e sintonizávamos a «Voz da América» da BBC. Uma noite ouvimos um relato de que a FRELIMO tinha capturado cinco bases da RENAMO, tinha morto mais ou menos 300 guerri­lheiros e libertado cerca de 400 civis. Tal era descri­to como uma ofensiva de grande porte e de êxito pa­ra as forças da FRELIMO. Tentámos fazer uma ideia onde é que o ataque tinha ocorrido e, à medida que a rádio referia nomes locais, compreendemos que estávamos sentados no meio da alegada zona de batalha e que tínhamos caminhado por ela todo o dia. Tinha sido uma história completamente fabrica­da. Fiquei horrorizada, mas os meus guias da RE­NAMO limitaram-se a rir e disseram que a FRELI­MO publica histórias como essa a todo tempo. Tais relatos constituem um triste testemunho de como um governo decadente está disposto a distorcer a verdade para permanecer no poder.
RENAMO – EM DEFESA DA DEMOCRACIA EM MOÇAMBIQUE, de Sibyl W. Cline, págs 47/50

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