- Daviz Simango gazeta ao comício de Guebuza na Ponta Gea
- Igreja católica ausente nas orações
- Polícia destrói estandartes do MDM
Apesar de pedidos insistentes, o presidente Armando Guebuza não emitiu, este fim de semana, qualquer pronunciamento sobre a divisão do município da Beira e a absorção de parte do seu território por um novo distrito.
Num comício muito pouco concorrido na Praça da Independência, na Ponta Gêa, um bairro de elite na cidade da Beira, pelo menos três intervenientes no comício pediram a Guebuza que não terminasse o mandato sem criar “o distrito da Beira”. O Chefe de Estado, fazendo o balanço das intervenções, contornou esta questão e, mais tarde, em conversa com os jornalistas, a uma pergunta directa sobre o tema, respondeu: “não me vai pedir que ponha em causa a Constituição”, acrescentando, conciliatório, esperar que as questões sobre a divisão do território encontrem uma solução a contento de todas as partes.
A divisão da Beira agitou o que é considerada historicamente a “segunda cidade do país” (A Matola, um dormitório de Maputo, tem agora mais habitantes), depois de pronunciamentos nesse sentido feitos pela secretária permanente do governo provincial e ameaças de retaliação do “mayor” Daviz Simango, o autarca da Beira, eleito com largo apoio popular (70,44% dos votos). Carmelita Namashulua, a ministra da Administração Estatal (MAE) que superintende este dossier estava no palanque presidencial quando a intitulada rainha de Nhangau (um bairro periférico), expressando-se em cindau, pediu a Guebuza em tom histérico que “antes de deixar, declare o distrito da Beira … porque senão vão-nos cortar as cabeças”.
O MAE, depois do prenúncio de potenciais tumultos na Beira, reuniu-se com Daviz Simango e fez saber publica mente que a criação de um distrito na Beira, como novos distritos por todo o país estão em estudo, mas que não havia qualquer decisão específica sobre a Beira.
No comício de sábado na Ponta Gêa, em intervenções claramente instrumentalizadas, também Tomé Rufino e Wambo Mulgy pediram a criação do “distrito da Beira”. Estas intervenções eram apoiadas por palmas ruidosas e “vuvuzelas” empunhadas por algumas dezenas de jovens que se concentravam junto ao pódium ostentando camisetes da Frelimo com a foto de Armando Guebuza e de Jaime Neto, o candidato perdedor deste partido nas autárqucas de 2013. Por detrás, um não menos aguerrido grupo de jovens ostentando camisetes do MDM (Movimento Democrático de Moçambique) contrariava sistematicamente as intervenções dos populaciou” uma solução de compromisso, mandando retirar também as bandeiras da Frelimo. Mantiveram-se apenas as bandeiras nacionais e um dístico empunhado por jovens do MDM com os dizeres: “queremos a paz, não à guerra, não à divisão da Beira”. No périplo de Guebuza por Sofala, as bandeiras do MDM foram sistematicamente retiradas nos comícios de Marromeu e Caia, tendo permanecido apenas na reunião popular do Buzi, por sinal o primeiro local visitado pelo Presidente da República.
Daviz Simango, o autarca da cidade que em ocasiões anteriores partilhou o pódium com Guebuza, não esteve presente o comício, nem foi lida nenhuma mensagem em nome do município. Simango, ao que o mediaFAX apurou, está em pré-campanha eleitoral no Niassa e Cabo Delgado, devendo regressar à Beira na próxima terça-feira. Na fase inicial, quando representantes das confissões religiosas proferiram as suas orações foi notada a ausência da igreja católica, apesar do bispo local ter dito ao mediaFAX que a intervenção tinha sido delegada a um outro clérigo. Porém, o bispo aposentado, Jaime Gonçalves, esteve presente no jantar oferecido pelas autordades provinciais ao Chefe de Estado. No comício apresentaram-se representantes da comunidade muçulmana, comunidade hindu e da igreja gospel.
Guebuza, traduzido em simultâneo para cisena e cindau, abordou os seus temas habituais: a unidade nacional, a diversidade de raças, culturas e religiões “que enriquece a moçambicanidade”, a necessidade permanente de diálogo, não se esquecendo de mandar um recado a “alguns que aparecem e dizem que vamos dividir o país pelo (rio) Save” , “… aqueles que não querem a felicidade dos moçambicanos”.
Durante a permanência em Sofala, Guebuza lançou o ambicioso projecto de reabilitação de raiz da estrada entre o porto da Beira e a fronteira com o Zimbabwe, na Machipanda, um troço com pouco mais de 200 quilómetros, orçado em USD 400 milhões e a cargo de uma empresa de engenharia chnesa. O projecto compreende o alargamento da via para quatro faixas (seis à saída da Beira) e o levantamento da cota ao longo do vale do rio Pungué. A estrada será posteriormente concessionada como já acontece na ligação entre Maputo e Ressano Garcia.(Fernando Lima, com Constantino André e André Catueira).
Fonte: MediaFAX - 14.07.2014
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