18/11/2017
A ZANU-PF, o partido no poder distancia-se do presidente. Veteranos marcam para hoje manifestação a exigir a sua destituição.
Robert Mugabe apareceu ontem em público pela primeira vez desde que o movimento militar da noite de 14 para 15 deste mês. Na sua condição de presidente, Mugabe esteve numa cerimónia de atribuição de diplomas na Universidade Aberta de Harare. Esta poderá ser, muito provavelmente, a última vez que o líder do Zimbabwe desde a independência, em 1980, surge num ato público na condição de chefe de Estado.
A direção do seu partido, a ZANU-PF, no poder, tornou claro o que espera dele e a poderosa associação de veteranos da luta armada contra o regime da minoria branca também o fez. Esta marcou para hoje uma manifestação a exigir o afastamento imediato de Mugabe, de quem foi, até 2015, um dos pilares do seu poder, e a ZANU-PF apelou a uma participação em massa na concentração que irá decorrer em Harare. O texto da convocatória não podia ser mais inequívoco: "Apelo a todos os zimbabweanos. As Forças Armadas abriram o caminho. Vamos agora mostrar o que desejamos: um novo Zimbabwe, já; uma liderança que nos liberte do sofrimento que suportamos há tantos anos".
A associação de veteranos pede que não sejam utilizados quaisquer símbolos partidários, abrindo caminho à presença dos movimentos da oposição.
Para não sobrarem dúvidas sobre a sorte que aguarda Mugabe, um elemento da direção da ZANU-PF explicou à Reuters, sob anonimato, o curso dos acontecimentos para os próximos. Após a manifestação, que se espera multitudinária, "se ele se mostrar teimoso, expulsamo-lo no domingo (...). Uma vez isto feito, será a destituição na terça-feira". E o diário Newsday, de Harare, escrevia na edição online que todas as dez direções provinciais do partido no poder tinham aprovado moções de não confiança em Mugabe como líder.
"Não há retrocesso possível"
Por outro lado, os militares continuam a mostrar alguns sinais de deferência para com Mugabe, referindo-se-lhe, num comunicado sobre os contactos em curso divulgado ontem, como "comandante em chefe" das forças armadas. E as imagens publicadas na véspera pelo diário oficial The Herald, mostrando um presidente sorridente a apertar a mão ao general Constantino Chiwenga, causaram alguma perplexidade, especulando-se que Mugabe conseguiria protelar a saída do poder por algum tempo - até ao congresso da ZANU-PF, que estava marcado para dezembro antes da movimentação dos militares, ou que tentaria inclusive completar o mandato. As próximas presidenciais e legislativas devem realizar-se entre julho e agosto de 2018.
Mas fontes da ZANU-PF desvalorizaram aquelas especulações, garantindo que "não há retrocesso possível". O fim de semana é a data limite: "é como se estivéssemos no 89.º minuto de um jogo de futebol suspenso por chuva intensa e a equipa da casa estivesse a ganhar por 90-0", ironizou um dirigente não identificado do partido no poder.
Soube-se entretanto que o vice-presidente Emmerson Mnangagwa - cujo afastamento no início do mês, devido à pressão de Grace Mugabe sobre o marido, originou os acontecimentos na noite de 14 para 15 - só regressará ao Zimbabwe quando Mugabe já não estiver em funções.
O cenário que surge como mais consistente é o de que Mnangagwa venha a dirigir a transição com a colaboração das forças armadas chefiadas por Chiwenga, um seu aliado.
Noutro plano, continuavam as especulações sobre o destino de Grace Mugabe, que poderia estar na residência do casal ou que teria sido autorizada pelos militares a viajar para a Namíbia.
DN(Lisboa) – 18.11.2017
Para não sobrarem dúvidas sobre a sorte que aguarda Mugabe, um elemento da direção da ZANU-PF explicou à Reuters, sob anonimato, o curso dos acontecimentos para os próximos. Após a manifestação, que se espera multitudinária, "se ele se mostrar teimoso, expulsamo-lo no domingo (...). Uma vez isto feito, será a destituição na terça-feira". E o diário Newsday, de Harare, escrevia na edição online que todas as dez direções provinciais do partido no poder tinham aprovado moções de não confiança em Mugabe como líder.
"Não há retrocesso possível"
Por outro lado, os militares continuam a mostrar alguns sinais de deferência para com Mugabe, referindo-se-lhe, num comunicado sobre os contactos em curso divulgado ontem, como "comandante em chefe" das forças armadas. E as imagens publicadas na véspera pelo diário oficial The Herald, mostrando um presidente sorridente a apertar a mão ao general Constantino Chiwenga, causaram alguma perplexidade, especulando-se que Mugabe conseguiria protelar a saída do poder por algum tempo - até ao congresso da ZANU-PF, que estava marcado para dezembro antes da movimentação dos militares, ou que tentaria inclusive completar o mandato. As próximas presidenciais e legislativas devem realizar-se entre julho e agosto de 2018.
Mas fontes da ZANU-PF desvalorizaram aquelas especulações, garantindo que "não há retrocesso possível". O fim de semana é a data limite: "é como se estivéssemos no 89.º minuto de um jogo de futebol suspenso por chuva intensa e a equipa da casa estivesse a ganhar por 90-0", ironizou um dirigente não identificado do partido no poder.
Soube-se entretanto que o vice-presidente Emmerson Mnangagwa - cujo afastamento no início do mês, devido à pressão de Grace Mugabe sobre o marido, originou os acontecimentos na noite de 14 para 15 - só regressará ao Zimbabwe quando Mugabe já não estiver em funções.
O cenário que surge como mais consistente é o de que Mnangagwa venha a dirigir a transição com a colaboração das forças armadas chefiadas por Chiwenga, um seu aliado.
Noutro plano, continuavam as especulações sobre o destino de Grace Mugabe, que poderia estar na residência do casal ou que teria sido autorizada pelos militares a viajar para a Namíbia.
DN(Lisboa) – 18.11.2017
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