Celebrações do Dia da Paz.
Tal como durante a guerra, o Governo e a Renamo continuam em trincheiras opostas. Guebuza apela ao diálogo e Dhlakama anuncia revolução. O líder da Renamo acusa o partido Frelimo de estar a manipular os líderes religiosos para obter dividendos políticos.
O país celebrou, ontem, a passagem do 19º aniversário após a assinatura dos Acordos Gerais de Paz, que puseram fim a cerca de 16 anos de uma guerra sangrenta e violenta.
Ontem, os principais actores políticos, que negociaram a paz em Roma, celebraram a data em pontos diferentes. Por um lado, as celebrações oficiais lideradas pelo Presidente da República, Armando Guebuza, e outras, lideradas por Afonso Dhlakama, em Nampula.
O único ponto de convergência foi o facto de os dois líderes políticos terem usado a data para se enviarem recados.
A partir da praça dos heróis - epicentro de todas as celebrações das datas nacionais organizadas pelo governo -, Armando Guebuza disse estar disponível para conversar com todas as forças políticas, incluindo a Renamo de Dhlakama. Na óptica de Guebuza, as conversações teriam como pano de fundo a busca de mecanismos para a manutenção da paz.
Entretanto, o convite ao diálogo oferecido pelo Chefe do Estado ao líder da Renamo parece ter caído em saco roto.
É que, apesar de Dhlakama ter sido a figura que exigiu negociações directas com Armando Guebuza, a fim de negociar a “cabal implementação do Acordo Geral de Paz” que, na óptica da Renamo, está a ser violado, o líder da Renamo, ao que tudo indica, já abandonou essa ideia. ou seja, Dhlakama parece não estar mais interessado na ideia das conversações e, ainda ontem, voltou a reafirmar a sua nova paixão: a revolução em Dezembro visando escorraçar a Frelimo do poder. Mais: Dhlakama confessa alguma frustração com a forma como o país está a ser conduzido. Vamos por partes.
Disponível para o diálogo
Armando Guebuza frisou a necessidade de um diálogo constante entre as forças políticas, a sociedade e o povo moçambicano em geral. Ainda na sua intervenção, o Presidente da República referiu que o 4 de Outubro deve ser um momento de profunda reflexão, sobretudo no que tange à renovação do compromisso para com a paz. Na óptica do estadista moçambicano, a paz precisa de ser honrada através da concórdia entre os cidadãos.
Relativamente aos actuais discursos, onde o assento tónico tem sido a ameaça de protagonizar manifestações à escala nacional, para além da hipótese de retornar às matas, Guebuza foi peremptório: “Não há condições, nem queremos que haja condições, para que se retorne à guerra. Todos nós acreditamos na paz; a sociedade moçambicana acredita na paz. Contudo, devemos trabalhar para que haja diálogo e compreensão”. Depois, o estadista moçambicano referiu que todos os itens contidos no Acordo Geral da Paz estão a ser respeitados e que muitos vêm plasmados na Constituição da República.
Com estas declarações, Guebuza vem reforçar a ideia do ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, que defendeu a necessidade de se abrir sempre caminhos para o diálogo.
No entanto e apesar de defender um diálogo com o líder da oposição, Chissano entende que o Acordo Geral de Paz já não é válido. “Evidentemente que, se ele quisesse falar de violação do Acordo de paz, tinha que falar da violação da Constituição da República. Aquele papel que assinámos em Roma, no dia 4 de Outubro de 1992, já está posto de lado, porque tudo entrou na Constituição”, apontou Joaquim Chissano.
Confissões a partir de Nampula
Enquanto o Presidente da República, Armando Guebuza, dirigia as celebrações oficiais em Maputo, num acto paralelo, Dhlakama, celebrava à sua moda: Organizou um comício na sua actual base, Nampula.
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»
Sem comentários:
Enviar um comentário