O principal arguido do julgamento nos Estados Unidos relacionado com as "dívidas ocultas de Moçambique" disse que a família do ex-Presidente Armando Guebuza e Privinvest são parceiros de negócios.
Jean Boustani, negociador da empresa Privinvest, acusado de quatro crimes nos Estados Unidos da América, disse na quarta-feira (20.11) que as parcerias entre a Privinvest e as companhias detidas pela família Guebuza existem em Moçambique e mantêm-se desde 2014.
O arguido disse, em depoimento no tribunal federal de Brooklyn, que a Privinvest e a família Guebuza continuam com parcerias ativas em setores como da "imobiliária, eletricidade ou gás", sendo uma dessas companhias a Now Prepay, em que Armando Ndambi Guebuza, filho do antigo chefe de Estado, "é um coproprietário".
Jean Boustani disse que as oportunidades de negócios foram "abertas" e parcerias foram discutidas pela primeira vez "na visita de Estado do Presidente Armando Guebuza a Abu Dhabi", uma das sedes da Privinvest, em 2014, depois da assinatura do contrato entre a Privinvest e a empresa pública moçambicana Proindicus, detida pelo Ministério da Defesa e os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE).
O cidadão libanês afirmou que a família Guebuza estava "muito interessada" no projeto de proteção da vigilância costeira pelo "poder económico" que tinha. "A família Guebuza estava profundamente envolvida em portos africanos e logística portuária", disse Jean Boustani, "daí o interesse do Armando Júnior [filho do ex-Presidente] em vir à visita de diligência às instalações da Privinvest", em Kiel, na Alemanha, em 2011.
Para o proprietário da Privinvest, Iskandar Safa, uma relação com a família Guebuza era "tão importante e estratégica como uma relação com a família real de Abu Dhabi", disse Jean Boustani em tribunal, já que os Guebuza tinham os "maiores negócios familiares de Moçambique" e dos maiores em África.
Na sessão anterior, na terça-feira, Jean Boustani recordou ter-se encontrado pessoalmente com Armando Guebuza em janeiro de 2013 e que o então Presidente terá dito: "Não é segredo, sou o maior empresário do país (...)" e "terei todo o gosto" para participar em novos empreendimentos.
Jean Boustani disse que depois da visita oficial do Presidente moçambicano aos Emirados Árabes Unidos, seguiram-se sessões de "brainstorming" onde foram faladas as oportunidades e as condições para o início de negócios partilhados. Para a empresa Privinvest, refletiu Boustani, "a probabilidade de erro e fracasso era muito reduzida numa parceria com uma família tão poderosa".
Sem indicar o nome do negócio, Jean Boustani disse que houve uma proposta da família Guebuza para a entrada numa "estrutura de imóveis em que tinham investido 15 milhões de dólares [13,5 milhões de euros]". "Se quiserem, podem juntar-se a nós", terá dito o filho Ndambi Guebuza, citado por Jean Boustani. O arguido acrescentou que, para as novas parcerias com a família Guebuza, a Privinvest fazia correspondências com "o senhor Mucavele", Nuno Simião Sofar Mucavele, que trabalhava para a família.
Jean Boustani, que começou o seu depoimento em julgamento na segunda-feira, tem feito várias revelações das opiniões do ex-Presidente Armando Guebuza sobre o contrato entre a Privinvest e a Proindicus para monitorização e proteção da orla costeira moçambicana.
A Privinvest fornecia embarcações e serviços de proteção costeira às empresas públicas moçambicanas Ematum, MAM e Proindicus, que recorreram a empréstimos de milhões de dólares, com garantias de devolução asseguradas pelo Estado de Moçambique.
Depois de falhar vários pagamentos, o Estado de Moçambique ficou com uma dívida de mais de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros), revelada em 2016.
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