03/11/2019
São picantes os detalhes sobre o assassinato do activista Anastácio Matavele, a 7 de Outubro, em Xai-Xai. A viatura usada no crime que calou a voz de um dos mais destemidos filhos de Gaza, afinal pertence ao edil de Chibuto, Henrique Albino Machava. Para além de membro sénior da Frelimo em Gaza, Henrique Machava é primo de Eliseu Machava, antigo secretário-geral do mesmo partido que, esta semana, está a ser detonado em Brooklyn, Nova Iorque, no caso das dívidas ocultas.
É muita tinta ainda por correr sobre o assassinato do então director executivo do Fórum das Organizações não-governamentais de Gaza (FONGA) e líder de missão de observação eleitoral naquela província.
A investigação do SAVANA traz, de novo em primeira mão, mais detalhes sobre o crime que teve a particularidade de certificar que os esquadrões de morte, que ceifam vidas e torturam opositores e críticos à governação do dia, são executados dentro do próprio Estado, através da Polícia da República de Moçambique (PRM).
Depois de termos revelado os contornos e os autores do crime, todos eles tropas de elite da PRM, afectos na Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e no Grupo de Operações Especiais (GOE), investigámos e apurámos que a viatura de marca Toyota, Modelo Mark X, com matrícula ADE 127 MC, pertence ao edil de Chibuto, Henrique Albino Machava.
Machava importou o carro do crime, em Maio de 2014, do Japão. Pagou, no total, 302,434.57 Meticais, dos quais 159,430.50 na compra, frete e seguros e 143,004.07 em direitos aduaneiros e outras imposições fiscais. Desembaraçou a viatura às 14h:51 minutos de 21 de Maio.
Mas porque era possível os registos das Alfândegas estarem desactualizados, no caso de Machava ter vendido a viatura a terceiros, tomamos o cuidado de seguir os rastos da matrícula ADE 127 MC também na Conservatória do Registo Automóvel de Maputo, onde está registada a Toyota Mark X, com o motor 4GR0056742 e o chassi GRX1203003719.
E de lá veio também a confirmação de que, até aquela manhã de 7 de Outubro, quando a viatura foi usada no assassinato de Anastácio Matavele, ela pertencia, efectivamente, a Henrique Albino Machava.
Mas afinal quem é esse dono da viatura usada para calar a voz de Anastácio Matavele? Nem mais. Henrique Albino Machava, 46 anos de idade, é quadro sénior da Frelimo em Gaza.
Foi delegado do Instituto Nacional de Acção Social (INAS) ao nível daquela província até que, nas eleições autárquicas do ano passado, a Frelimo o confiou para substituir Soares Manjate na presidência da autarquia de Chibuto.
Vergando cores e símbolos do batuque e da maçaroca, Machava entrou na corrida das autárquicas, com vitória anunciada, numa província que só vota a Frelimo.
É muita tinta ainda por correr sobre o assassinato do então director executivo do Fórum das Organizações não-governamentais de Gaza (FONGA) e líder de missão de observação eleitoral naquela província.
A investigação do SAVANA traz, de novo em primeira mão, mais detalhes sobre o crime que teve a particularidade de certificar que os esquadrões de morte, que ceifam vidas e torturam opositores e críticos à governação do dia, são executados dentro do próprio Estado, através da Polícia da República de Moçambique (PRM).
Depois de termos revelado os contornos e os autores do crime, todos eles tropas de elite da PRM, afectos na Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e no Grupo de Operações Especiais (GOE), investigámos e apurámos que a viatura de marca Toyota, Modelo Mark X, com matrícula ADE 127 MC, pertence ao edil de Chibuto, Henrique Albino Machava.
Machava importou o carro do crime, em Maio de 2014, do Japão. Pagou, no total, 302,434.57 Meticais, dos quais 159,430.50 na compra, frete e seguros e 143,004.07 em direitos aduaneiros e outras imposições fiscais. Desembaraçou a viatura às 14h:51 minutos de 21 de Maio.
Mas porque era possível os registos das Alfândegas estarem desactualizados, no caso de Machava ter vendido a viatura a terceiros, tomamos o cuidado de seguir os rastos da matrícula ADE 127 MC também na Conservatória do Registo Automóvel de Maputo, onde está registada a Toyota Mark X, com o motor 4GR0056742 e o chassi GRX1203003719.
E de lá veio também a confirmação de que, até aquela manhã de 7 de Outubro, quando a viatura foi usada no assassinato de Anastácio Matavele, ela pertencia, efectivamente, a Henrique Albino Machava.
Mas afinal quem é esse dono da viatura usada para calar a voz de Anastácio Matavele? Nem mais. Henrique Albino Machava, 46 anos de idade, é quadro sénior da Frelimo em Gaza.
Foi delegado do Instituto Nacional de Acção Social (INAS) ao nível daquela província até que, nas eleições autárquicas do ano passado, a Frelimo o confiou para substituir Soares Manjate na presidência da autarquia de Chibuto.
Vergando cores e símbolos do batuque e da maçaroca, Machava entrou na corrida das autárquicas, com vitória anunciada, numa província que só vota a Frelimo.
Na sua conta domiciliada na rede social facebook, Machava se identifica como tendo estudado Política e Gestão Pública na Universidade Pedagógica de Gaza. A ironia é que, no facebook, Machava era amigo de Anastácio Matavele, o homem que viria a ser assassinado num crime em que foi usada a viatura do edil.
Mas há uma outra coincidência. Henrique Machava é primo de Eliseu Machava, antigo secretário-geral da Frelimo, o segundo cargo mais importante no partido, depois do presidente, na altura Armando Guebuza.
Henrique Machava nasceu a 13 de Julho de 1973, em Chibuto, a mesma terra natal de Eliseu Machava. Os pais de Henrique e Eliseu são irmãos biológicos.
Eliseu Machava ascendeu a secretário-geral da Frelimo em Março de 2014, em substituição de Filipe Paúnde, o homem que não resistiu às suas próprias vírgulas, depois de ter dito à imprensa que não retirava sequer uma vírgula do que dissera antes sobre os pré-candidatos presidenciais para a sucessão de Guebuza, que seriam apenas José Pacheco, Alberto Vaquina e Filipe Nyusi.
Eliseu Machava já foi primeiro-secretário da Frelimo em Gaza e administrador dos distritos de Chicualacuala e Mandlakazi, na mesma província.
Eliseu Machava é, desde Janeiro de 2018, embaixador de Moçambique em Cuba, em substituição de Miguel Mkaima.
Machava foi substituído por Roque Silva. O actual secretário-geral da Frelimo é natural do distrito de Morrumbene, na província de Inhambane, mas já assumiu importantes cargos na província de Gaza, onde chegou ao cargo de primeiro-secretário da Frelimo em Gaza, para além de administrador de Mandlakazi.
Roque Silva é apontado como um dos cérebros dos ataques contra a oposição em Gaza, nas eleições de 2014, quando Daviz Simango foi recebido a pauladas na província durante a campanha eleitoral.
Mas antes de chegar ao segundo posto importante na estrutura da Frelimo, Silva foi vice-ministro da Administração Estatal e Função Pública.
A versão do edil
Apresentámos todos os dados ao edil de Chibuto e Henrique Albino Machava não negou. Confirmou a propriedade da viatura que importou em 2014.
Mas Machava tem um entretanto. Diz que, à data do crime, o carro já não estava em suas mãos, porque havia vendido em princípios de Agosto deste ano.
O edil defende-se afirmando que a viatura só estava ainda em seu nome porque o comprador ainda não tinha concluído com os pagamentos.
“Pagou parte [do dinheiro], mas levou [a viatura] porque é uma pessoa próxima”, disse o edil, sublinhando que a viatura já estava a ser usada pelo comprador.
Henrique Machava diz que vendeu a viatura a Ricardo Amone Manganhe. E quem ele é? Manganhe é próximo de Machava. Também é natural de Chibuto. Ricardo Amone Manganhe é professor de carreira. O SAVANA tentou várias vezes ouvir Manganhe, o que não aconteceu até ao fecho da presente edição.
Até 2016, de acordo com dados do Governo distrital de Chibuto/Serviço Distrital de Educação Juventude e Tecnologias (SDEJT), na posse do Jornal, Ricardo Manganhe auferia, mensalmente, um salário base de 7.008 Meticais que, acrescido a subsídios, atingia 9.910 Meticais.
Na altura era docente de N3 (nível médio), mas, actualmente, na sua conta de facebook, identifica-se como tendo estudado numa Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, provavelmente da Universidade Pedagógica de Gaza.
Manganhe já foi director da Escola Primária do Primeiro e Segundo Grau do bairro 3 de Chibuto. Mas agora é técnico no Conselho Municipal de Chibuto, responsável pelo sector da educação na autarquia presidida por Henrique Albino Machava. Ou seja, para além de “pessoa próxima”, Manganhe é subordinado de Machava.
Versão do edil à parte, verdade material é que Henrique Albino Machava é proprietário da viatura do crime e é ele, segundo juristas consultados pelo jornal, que responde, juridicamente, pela viatura de marca Toyota, Modelo Mark X, com matrícula ADE 127 MC, que foi usada para calar a voz de Matavele.
Frelimo kaput
A ligação de membros da Frelimo, incluindo um edil por esta formação política, no assassinato de Anastácio Matavele, é uma das mais recentes machadadas contra o partido, na mesma semana em que está a ser detonado em Brooklyn, Nova Iorque, no caso das dívidas ocultas, de onde para além de nomes sonantes do partido a serem arrolados em Tribunal, ficou-se a saber que o próprio partido recebeu USD 10 milhões das dívidas ocultas.
A má coincidência é que Anastácio Matavele foi assassinado no calor de uma intensa polémica sobre as eleições em Gaza, que deixavam a Frelimo nervosa, ao extremo de o presidente do partido e candidato presidencial pela sua própria sucessão, Filipe Nyusi, chegar a ameaçar cortar “capim alto”, em referência à direcção do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) que, do seu jeito, desmentiu que Gaza tivesse 1 166 011, mas sim 836 581 apenas.
Para além de director executivo do FONGA e vice-presidente do Fórum Nacional de Florestas, Anastácio Samuel Matavele, 55 anos, natural de Bungane, distrito de Chongone e, à data do seu assassinato, residente na cidade de Xai-Xai, era também director executivo da Sala da Paz [para a zona sul que, para além de Gaza, inclui Maputo e Inhambane], uma plataforma de organizações da sociedade civil para a observação eleitoral.
A Sala da Paz denunciou diversas irregularidades do processo eleitoral. Aliás, Matavele foi baleado quando regressava de uma formação de observadores eleitorais.
Na qualidade de observador eleitoral, numa província com um recenseamento problemático, era um declarado incómodo aos planos de Gaza, uma província bastante hostil à oposição, mas com cadáveres a votarem na Frelimo.
Aliás, os assassínios de Matavele estavam a cumprir “ordens para matar” emitidas dentro de uma corporação que é dirigida pelo Governo da Frelimo.
Tal como o SAVANA revelou, foram todos agentes da Polícia, em número de 5 e não 4 como procura transmitir a corporação, que silenciaram Anastácio Matavele. Alguns deles, caso de Edson Silica, vestiam a vermelho a fazer campanha para a Frelimo e seu candidato presidencial, Filipe Nyusi.
Para além de Edson Silica, o grupo que assassinou Matavele integrava Euclídio Mapulasse, Nobrega Justino Chaúque, Agabito Matavel e Martins Francisco William, todos afectos na UIR e no GOE, em Gaza.
Edson Silica, de 34 anos de idade, é filho de Silica, um agente da Polícia de Trânsito no Xai-Xai, capital provincial de Gaza. É natural de Xai-Xai e residente no bairro 5 (Coca Missava).
Edson Silica havia sido internado no Hospital Provincial para onde fora encaminhado após o acidente do qual morreram os outros dois agentes, nomeadamente Martins Wiliamo e Nobrega Justino Chaúque. Saiu do hospital para a cadeia no dia 17 e no dia 18 foi ouvido.
Euclídio Mapulasse, comparsa e amigo de Edson Silica, com que participavam em missões diversas, é natural de Inharrime, província de Inhambane. É dos mais novos de todos, com 33 anos de idade. É residente do bairro 2000, na Cidade de Xai-Xai. Também encontra-se detido.
Por seu turno, Nobrega Justino Chaúque, de 38 anos de idade, era natural de Chibuto, mas residia também em Xai-Xai, no bairro Marien Ngouabi. Este viria a morrer no acidente após terem assassinado Anastácio Matavele.
Martins Francisco Williamo, mais conhecido por Martins Wiliamo, era natural de Xai-Xai. Estudou na Escola Secundária de Chicumbane. Não conseguimos apurar a sua idade, mas deve ser o mais novo de todos.
O outro agente é Agapito Matavele, que se encontra foragido. Contrariamente à versão do Comando Geral, Agapito Matavele não é um civil, é mesmo membro da Polícia, afecto na UIR. Questionado, esta quarta-feira, no habitual briefing da Polícia, o porta-voz do Comando Geral da corporação, Orlando Mudumane, disse que o foragido ainda não foi neutralizado. Mas a equipa de investigação do SAVANA sabe que Agapito Matavele se refugiou algures no Chókwè, sua terra natal.
SAVANA - 01.11.2019
NOTA: Não tendo a viatura usada no crime sido dada como desaparecida ou roubada, o seu proprietário é responsável pelo seu uso. Porque espera a polícia para o prender? É por ser membro graduado da Frelimo?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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