Financiamento do ocidente ao desenvolvimento de África contribui para a pobreza
Quinta-feira, 3 de Novembro de 2011
Luanda - O historiador e docente universitário Jean Martial Arsène Mbah, disse hoje em Luanda que o facto de 77 porcento dos projectos de desenvolvimento de África serem financiados pelo Ocidente, tem impedido o continente africano sair da pobreza e do subdesenvolvimento em que se encontra.Entrevistado pela Angop para se debruçar sobre a situação política, económica e social de África, Jean Martial Mbah sustentou que se o Ocidente estive interessado no desenvolvimento de África, o continente já o seria a muitos anos, mas os ocidentais o tem apenas como fonte das suas matérias primas.
Acrescentou que 77 porcento do dinheiro da União Africana para desenvolver projectos provem da União Europeia (UE), e do estrangeiro “como é que esta organização pode gizar projectos de desenvolvimento para a África”, questionou.
Para Jean Martial Mbah, aqueles que dão dinheiro traçam directrizes, impõem e exigem o “que tem que ser feito, porque não dão financiamentos para ajudar os povos africanos, mas com vista a servir os interesses estrangeiros, por isso, que a União Africana não consegue desenvolver até hoje um projecto sério”.
Indagado a responder porque a UA não consegue auto-financiar-se, tendo países ricos como a Nigéria, África do Sul, Argélia, Líbia, Angola, Guiné-Equatorial, RD Congo, entre outros, o historiador frisou que a questão reside na compreensão da mentalidade e da atitude do próprio africano.
Acrescentando que a mentalidade e a atitude dos dirigentes africanos têm contribuído para esse insucesso, porque os líderes do continente foram divididos ideologicamente, desde a criação da Organização da Unidade Africana (OUA), em 1963, entre o grupo de Casablanca e o de Brazzaville.
Explicou que o grupo de Casablanca era radical e anti-imperialista tendo sido o que mais esforço desenvolveu para a ajuda de países que lutavam contra o colonialismo no continente africano, identificando-se desde o início contra a dominação estrangeira em África.
Contrariamente ao grupo de Congo-Brazzaville, constituído pela maioria de países francófonos, que estava a favor do neocolonialismo em África, e essa situação não mudou até hoje, disse.
“Temos ainda muitos dirigentes que militam a favor do neocolonialismo em África, identificando-se com interesses estrangeiros, como aconteceu recentemente com a incapacidade do continente em condenar a intervenção estrangeira no caso da Côte d'Ivoire e a invasão da Líbia, um país africano que foi bombardeado durante meses pela OTAN”, lamentou.
De acordo com a fonte, a Líbia não estava em guerra com a organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que é um bloco militar estrangeiro, “mas os africanos não souberam ter uma só voz para denunciar a agressão e se solidarizar com o Estado membro da UA”.
Jean Mbah saudou os pronunciamentos do ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chikoti que denunciava a agressão à Líbia, mas que a sua intervenção não foi seguida pelos seus pares do continente, embora tenha notado já tardiamente as posições da Argélia e da África do Sul.
Jean Martial Mbah é professor de metodologia de investigação histórica do ISCED e da Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Agostinho Neto (Angola), licenciou-se em História pela Universidade Omar Bongo, de Libreville (Gabão), obteve o mestrado em Poitiers, e o doutoramento pela Universidade Paris I (Panthéon-Sobornne), ambas em França. Agência AngolaPress
Sem comentários:
Enviar um comentário