Desmobilizados de Guerra acusam Governo de aldrabice e de tentativas de os dividir
Depois de terem abandonado uma reunião promovida pelo Ministério dos Combatentes na última quarta-feira, os desmobilizados do Fórum dizem que vão continuar a lutar. “Nós vamos continuar a sair às ruas até o presidente da República nos receber, ouvir e considerar as nossas preocupações” disse ontem ao Canalmoz o líder do Fórum dos Desmobilizados, Hermínio dos Santos.
Questionado sobre a data em que iriam sair às ruas, Hermínio dos Santos disse que “isso vai acontecer o mais tardar até daqui a duas semanas”.
“Neste momento estamos a ter algumas reuniões com os nossos membros e alguma sociedade civil de modo a juntarmos forças. Não queremos que seja apenas a liderança a ir a rua, mas sim todos”.
Maputo (Canalmoz) – O Fórum dos Desmobilizados de Guerra, a organização que congrega pouco mais de 13 mil ex-militares provenientes das fileiras das extintas Forças Armadas de Moçambique/Forças Populares de Libertação de Moçambique (FAM/FPLM) e ainda os da então guerrilha da Renamo, Naparamas, etc…acusou ontem em Maputo o Governo moçambicano de estar “a tentar aldrabar” e dividir os desmobilizados” para estes não continuarem a reivindicar os direitos que dizem ter.
O executivo do presidente Armando Guebuza, convocou na última quarta-feira uma reunião com os desmobilizados. Por sinal era o último dia dado como prazo, pelos desmobilizados, como limite para o chefe de Estado os receber em audiência. Chegados à tal reunião, para espanto do Fórum, estavam na reunião de quarta-feira representantes de cerca de 15 grupos diferentes de desmobilizados. O Fórum dos Desmobilizados de Guerra, o único que tem estado na rua a manifestar-se, era mais um. É o que tem estado a manifestar-se e a exigir que os desmobilizados passem a beneficiar de uma pensão de reforma, mas quando chegaram à mesa estavam lá, também convocados pelo ministro dos Combatentes, as lideranças de outros grupos de desmobilizados que não se revêem no Fórum liderado por Hermínio dos Santos.
Pensando que o ministro dos Combatentes, coronel Mateus Kida, lhes queria transmitir a vontade do presidente da República, tal não sucedeu.
Segundo Hermínio dos Santos, presidente do Fórum dos Desmobilizados, ao invés de lhes ser dito algo do chefe do Estado com quem querem encontrar-se, foram informados de que a reunião tinha por objectivo “harmonizar o regulamento do Estatuto do Combatente e da Comissão Interministerial”.
Perante o cenário, os líderes do Fórum dos Desmobilizados retiraram-se da sala onde devia decorrer o encontro, por alegadamente não estarem de acordo com a agenda que tinha sido proposta pelo Ministério dos Combatentes. Entende a liderança do Fórum liderado por Hermínio dos Santos que o Governo está a querer “entreter os desmobilizados”. “Quiseram esquecer que aquele dia era o último” do prazo dado para o Governo responder às reivindicações do Fórum liderado por Hermínio dos Santos.
Quarta-feira era o prazo proposto pelo próprio governo depois de terminado o primeiro prazo que terminara na quarta-feira anterior, esse exigido pelos próprios desmobilizados do Fórum. Expirara sem que o Presidente da República os tivesse recebido por alegadamente se encontrar fora do país.
Na última quarta-feira, perante o incidente, os desmobilizados do Fórum levantaram-se da reunião e saíram batendo a porta.
“O Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, abandonou a reunião no Ministério dos Combatentes, porque a agenda não tinha nada a ver com as nossas preocupações que nos levaram a nos manifestarmos entre os dias 25 e 26 do mês passado” anunciou o fórum num comunicado enviado à Redacção do Canalmoz.
Segundo o comunicado do “Fórum dos Desmobilizados”, com data de quarta-feira [ NR: Ontem não editámos o Canalmoz por ter sido feriado municipal em Maputo] o “ministro [dos Combatentes] convidou 15 associações deixando a agenda do dia 25 e 26, para dizer que estamos reunidos para harmonizar o regulamento do Estatuto do Combatente que nós não reconhecemos”. Diz ainda o comunicado que o Fórum não reconhece a Comissão Interministerial porque, alegadamente, “não funciona”.
“Nós abandonamos a reunião porque essa não é nossa agenda nem deve ser agenda de qualquer encontro que precisamos com o presidente da República” conclui o Fórum dos Desmobilizados liderado por Hermínio dos Santos.
Continuar a lutar
“Nós vamos continuar a sair às ruas até o presidente da República nos receber, ouvir e considerar as nossas preocupações” disse ontem Hermínio dos Santos ao Canalmoz.
Segundo a fonte, neste momento, depois do falhanço do encontro com o chefe de Estado Armando Guebuza, “os desmobilizados estão a se organizarem para voltarem às ruas para fazerem uma manifestação de grande escala”.
“Estamos a organizar para sairmos às ruas com ordem de modo a evitarmos o derramamento de sangue. Estamos a preparar as pessoas, digo os desmobilizados, para quando houver derramamento de sangue seja com razão”, disse o nosso entrevistado adiantando contudo que “os desmobilizados não querem que haja derrame de sangue”.
“O que nós queremos é o governo ouvir e sentir as nossas preocupações” acrescentou.
A qualquer momento vamos sair a rua
Questionado sobre a data em que iriam sair às ruas, Hermínio dos Santos disse que “isso vai acontecer o mais tardar até daqui a duas semanas”.
“Neste momento estamos a ter algumas reuniões com os nossos membros e alguma sociedade civil de modo a juntarmos forças. Não queremos que seja apenas a liderança a ir a rua, mas sim todos” explicou.
Num outro desenvolvimento Hermínio dos Santos deu a conhecer que neste momento o Fórum está explicar aos associados de todo o país que “o diálogo está a falhar por culpa do governo, mas que a luta deve continuar até o objectivo final”.
Para o Fórum dos Desmobilizados de Guerra, “estranho continua a ser a atitude do governo que não quer dialogar com pessoas que fazem parte da sociedade moçambicana”.
“Pensamos que o presidente da República é pai de todos, mas estamos a ver ele a descriminar pessoas, ao negar nos receber” acusou o presidente dos desmobilizados questionando “que tipo de presidente da República é Armando Guebuza que descrimina?”.
Na convicção dos desmobilizados “o presidente da República não foi informado de que é precisado num encontro com os desmobilizados”.
Hermínio dos Santos acusou o ministro dos Combatentes Mateus Kida de ser “aldrabão, de andar a alterar e manipular tudo para enganar os desmobilizados, com ar de que vai conseguir os conter”.
“Temos conhecimento de que o PR não recebeu nada do senhor Kida relacionado com a audiência que pedimos” afirmou o presidente dos desmobilizados justificando que na reunião quarta-feira “ele nem se quer abordou esse assunto, tendo apenas tentado nos enganar”.
Há semanas os desmobilizados liderados por Hermínio dos Santos juntaram-se sem provocarem distúrbios, próximo do gabinete do primeiro-ministro, sede do Conselho de Ministros, como forma de pressionar o governo a considerar as suas reivindicações. Voltaram a abandonar na última quarta-feira um encontro com o ministro dos Combatentes, coronel Mateus Kida, que dizem não estar capaz de resolver os seus problemas.
Persuadir
Para os persuadir, o ministro dos Combatentes ter-lhes-ia pedido para esperarem até quarta-feira última, porque o presidente da República não estava no país. Depois reúne-se com eles sem que o encontro seja dirigido pelo PR. “É um aldrabão”dizem agora os desmobilizados.
Quando se esperava que na última quarta-feira o governo desse resposta aos desmobilizados, se seriam ou não recebidos pelo presidente da República, eis que o executivo os solicita para “harmonização do estatuto do combatente”.
Exigências
Os desmobilizados exigem entre outras coisas uma reforma condigna, com destaque para uma pensão mensal de 12.500 meticais.
Dizem eles que foram usados em diversas guerras e por isso querem ser compensados pelo governo pelos anos que passaram a combater.
Eles não aceitam o estatuto de Combatente aprovado na Assembleia da República pela bancada da Frelimo, que detém a maioria parlamentar e dessa forma decidiu sozinha. Alegam dos combatentes que o referido estatuto é discriminatório e favorece os combatentes de libertação nacional com vinculo histórico ao regime do partido Frelimo, mas descrimina todos os outros.
Do grupo liderado por Hermínio dos Santos e que tem estado nas ruas, fazem parte 13 mil desmobilizados provenientes do lado da Frelimo e Renamo, os ex-milicianos, antigos membros de grupos de Vigilância, os Naparamas, viúvas e órfãos de combatentes de guerra falecidos durante e depois da guerra, entre outros.
Os desmobilizados já descartam qualquer diálogo que não seja com o presidente da República, Armando Guebuza ou o primeiro-ministro Aires Ali.
Demissao do SP
Exigem também a demissão do secretário Permanente do Ministério dos Combatentes, Lino Joaquim Hama, por sinal marido da governadora da cidade de Maputo, Lucilia Hama, a quem acusam de ser o promotor da maior parte de “trafulhices” em relação aos projectos a que os desmobilizados tem direito por lei, como por exemplo a facilidade de crédito bancário para financiamento de projectos.
O marido da governadora da cidade de Maputo e SP do Ministério dos Combatentes é acusado pelos desmobilizados de burocratizar todo o processo fazendo com que os desmobilizados até agora não tenham conseguido qualquer crédito. (Bernardo Álvaro)
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