"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 28 de maio de 2019

Os buracos que tornaram Maputo em “cidade das crateras”

segunda-feira, 27 de maio de 2019


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Os buracos que tornaram Maputo em “cidade das crateras”
Circular em algumas vias na capital do país tem sido um bico-de-obra, quer para os automobilistas particulares, quer para transportadores. Estes envolvem-se em acidentes na tentativa de contornar as “crateras”. As avenidas Julius Nyerere e Joaquim Chissano estão entre as mais críticas.
Logo à entrada da cidade de Maputo, vindo da Matola, uma denúncia: estradas esburacadas. Esta é a Avenida Joaquim Chissano, um pouco antes de chegar ao bairro do Jardim. É, na verdade, uma alternativa para quem pretenda evitar a portagem na Estrada Nacional Número 4, sob gestão da sul-africana Trans African Concessions (TRAC).
Por ali passa todo o tipo de carros: ligeiros, pesados, transporte público e até motociclos. Todos precisam de uma dose de criatividade e coragem para passar com as suas viaturas intactas.
Naquela avenida, os condutores submetem-se ao exercício de contornar buracos, um atrás do outro, que há algum tempo não são tapados. Uns, mais cuidadosos, abrandam para contorná-los, mas há quem seja mais ousado e os desafia contra todos os riscos.
Riscos que passam desde a danificação dos veículos, transtornos no trânsito, assim como mortes causadas pelos acidentes de viação que, aliás, já começam a virar moda.
Aurora é automobilistas, vive e trabalha na Matola Rio, mas usa a avenida Joaquim Chissano pelo menos duas vezes por semana para fazer compras na cidade de Maputo. Para ela o perigo está permanentemente iminente. Ela relata que já teve peças do seu carro danificadas. É que “você chega numa cova, sem ver bem, querendo esquivar, pode embater noutros carros”, contou Aurora já sinalizando a necessidade de ir embora porque tinha estacionado numa cratera para conversar com a equipa do jornal “O País”.
Encontrámos outra automobilista. Carla vive na cidade da Matola e trabalha na capital do país. Faz o trajecto todos os dias e diz que já viu quase tudo naquele troço. “Carros entrando num dos buracos sem poder sair, carros batendo um no outro por descuidado ou até muito congestionamento”.
HÁ MAIS...
Uma rotunda cheia de montes de área de construção civil, minibuses estacionados e várias barracas de venda de refeições. Por aqui joga-se conversa afora em Changana e o pouco de língua portuguesa falado consiste gíria.
Esta é a praça da Juventude… bem, de juventude tem apenas o nome. É que aqui tudo está degradado, mas acima de tudo está a estrada que circunda a praça. É ali onde termina a Avenida Julius Nyerere, também caracterizada por buracos até a Praça dos Combatentes. E o exercício de “esquivar” os buracos é “o pão de cada dia” para quem usa esta via para deslocar-se ao seu local de trabalho, assim como para quem tem a mesma estrada como o seu local de trabalho.
É o caso dos transportadores semi-colectivos, que dizem que as covas encarecem os custos de operação porque as peças dos seus veículos devem ser ser trocadas com mais frequência do que o normal.
“Nós já nem temos nada a dizer”, começa a contar Helton Xadreque, automobilista da rota Magoanine-Xiquelene, faz este trabalho há mais de cinco anos e diz que o problema é cada dia pior. “Nas manhãs, por exemplo, quando as pessoas estão a correr para os seus locais de trabalho, há muito engarrafamento por causa destes buracos”.
A situação é pior nos dias de chuva, em que os “chapeiros” dizem que o processo é mais penoso porque não há como calcular a profundidade das crateras. Mesmo assim têm de desenvolver as suas actividades e garantir que seus passageiros cheguem ao destino sãos e salvos.  
O presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, Eneas Comiche, não está alheio à situação da urbe que reassumiu há menos de quatro meses e garante já ter um plano em curso para acabar com o problema.
No terreno, concretamente na Avenida de Angola, que outrora já esteve em condições idênticas às da Julius Nyerere, as máquinas roncam e os operários trabalham a todo o gás. Trata-se de uma obra que custou 165.9 milhões de meticais e que deverá ser concluída em Julho deste ano.
Mas enquanto estas vias não forem abrangidas pelo projecto de Comiche, os automobilistas tem de dar um jeito…

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