Os números que fazem a crise dos transportes
Quando a anarquia se instala, quem sofre é o povo.
O sector dos transportes está cada vez menos atractivo ao investimento privado e o resultado são as enchentes nas paragens por pessoas que procuram por um autocarro para se deslocar. O Governo tem estado a investir no sector, mas nada próximo da demanda existente .
Os privados estão a abandonar a actividade de transporte de passageiros, deixando a responsabilidade para o sector público. O argumento é que a actual tarifa não permite retorno do investimento feito e é preciso que o Estado ponha a mão.
Dados da Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (Fematro) mostra que, nos últimos anos, saíram da operação, pelo menos, dois mil autocarros de 15 lugares, penalizando ainda mais os cidadãos que procuram por serviços de transporte a nível das cidades de Maputo e Matola. O número de autocarros de 15 lugares em circulação reduziu por dois motivos: o Conselho Municipal da cidade de Maputo parou de licenciar este tipo de autocarros, de modo a promover a entrada em operação de autocarros de maior capacidade; e, há muito que as tarifas de cinco meticais e 7.5 meticais por viagem estão em vigor nas cidades de Maputo e Matola, enquanto os custos de manutenção de autocarros subiram significativamente.
O vice-presidente da Fematro, Luís Munguambe, disse ao “O País Económico” que, neste momento, o sector de transporte de passageiros não se apresenta atractivo para o investimento e que os que lá ainda se encontra a trabalhar é por “cumprimento de um dever patriótico”, porque não há condições para se trabalhar, de facto, no sector.
Défice dos TPM
A empresa TPM, sob gestão do município de Maputo, disse, em Dezembro último, estar com um défice nas suas receitas internas para suportar os custos de funcionamento, devido ao incumprimento de número de carreiras diárias por autocarro.
De acordo com a Presidente do Conselho de Administração (PCA) da empresa, Maria Yolanda, as receitas produzidas internamente cobrem apenas 54% dos custos de funcionamento, o que significa haver um défice de exploração extremamente elevado.
O fosso orçamental deve-se à redução das 18 carreiras diárias por autocarro para 13, decorrente da intransitabilidade das principais vias da cidade. A empresa avançou ainda que a demora no abastecimento dos autocarros movidos a gás, devido à insuficiência de estações de serviço para o efeito, tem estado a contribuir negativamente para o desempenho da empresa.
O Governo tem estado a importar autocarros para as empresas TPM sob gestão dos municípios de Maputo e da Matola, tendo, em Agosto de 2011, importado 150 autocarros, com vista a responder à procura cada vez mais crescente pelo transporte.
Contudo, o investimento na aquisição de novos autocarros depara-se com problema da desistência do sector privado, que acontece a um nível mais acelerado que o crescimento da frota dos transportes públicos.
Além disso, muitos autocarros dos TPM encontram-se parados, devido às dificuldades em manter os mesmos por parte da instituição.
Agora, informações fornecidas pelo vereador da área dos transportes do Município de Maputo, João Matlombe, indicam que oito autocarros articulados adquiridos em 2011, pela gestão anterior dos TPM, estão parados. Trata-se de autocarros recondicionados que só trouxeram mais prejuízos à empresa, na medida em que pararam de operar enquanto decorre o processo de pagamento dos mesmos.
Segundo dados oficiais, de 2005 a 2010, a empresa TPM operou em moldes financeiros deficitários, tendo acumulado, neste período, uma dívida de 275 milhões de meticais.
A Situação no terreno
“O País Económico” foi às ruas de Maputo e constatou uma situação crítica relativa à disponibilidade de transporte de passageiros. As paragens andam cheias de tal maneira que os utentes chegam a recorrer a carrinhas do tipo caixa-aberta para poder chegar ao destino.
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