Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Pelo poder, mesmo a guerra é a escolha de alguns.
Proclamações antigas e recentes conjugam-se e alinham pelo mesmo diapasão. Reafirma-se que a democracia é um eufemismo utilizado para consumo da opinião pública internacional, por conveniência conjuntural e até porque está na moda “vestir de democrata”.
Mudança ou transição geracional coreografada e tutelada sim e na medida em que os mentores o decidirem. O poder é uma questão inegociável e, afinal, eles já nos disseram que lutaram para tal, morreram e mataram para tal. Mesmo que haja possibilidades que não firam a CRM e que se possa elaborar emendas constitucionais que acabem promovendo a descentralização e autonomia, os detentores do poder estão firmes e coesos de que isso não será por eles aceite.
Como se previa, a liderança da Frelimo, aquele núcleo histórico, que sempre deu cartas e tomou as decisões, mostrou o que queria e disse, para quem quis ouvir, que quem manda são eles. Enquanto vivos, jamais sairão das cadeiras do poder.
Os indigitados para as diversas funções existem não para pensar ou tomar decisões, mas para garantir que os desejos dos “donos do poder” se realizem.
“Ninguém mija fora do penico”, e no fim, sem surpresas, as peças foram encaixadas como os poderosos pretendiam.
Foi feito “TPC”, e com a golpada de Pemba só um próximo congresso é que será capaz de alterar o actual figurino do poder. AEG foi o “maestro na sombra”, e JAC, também na sombra, não deixou os seus créditos em mãos alheias.
Estes dois estão dispostos a ceder posições, mas não a substância do poder.
Mais uma vez a “ criatividade e habilidades” de alguns se revelaram e brilharam.
Alguns podem dizer que não houve vencidos nem vencedores, mas, na última reunião do CC da Frelimo, os vencedores foram os de sempre. Os derrotados são obviamente conhecidos. Quem se satisfaz com pouco, fica embevecido com umas simples pedras envernizadas.
Agora que voltou a calmaria no seio da Frelimo, o que serão os próximos dias? Teremos um endurecimento discursivo acompanhado de violência protagonizada pela Polícia contra quem se queira manifestar? Teremos comissários políticos enviados aos distritos propalando a tese da “unidade nacional”?
Teremos uma generalização das hostilidades, perseguição de membros da oposição e interdição de actividades políticas? Teremos guerra generalizada e a sua internacionalização, numa reedição da guerra civil dos 16 anos? Teremos um frente a frente entre AMMD e FJN num país estrangeiro, visto que AMMD está farto de ser emboscado?
Avizinham-se tempos difíceis, e qualquer coisa pode acontecer.
Os falcões da guerra e os defensores da via angolana da “savimbização” esfregam as mãos e estão encorajados pelos resultados do último CC da Frelimo.
Receberam oxigénio para prosseguir com o seu trabalho em todas as frentes.
De uma paz podre para a guerra aberta a distância é curta.
A tormenta encomendada visa garantir a manutenção do poder e nesse processo tiraram do caminho os obstáculos internos. Estabeleceram-se alianças económicas com quem poderia incomodar e aos outros simplesmente se silenciou através de instrumentos normativos do partido. Aos que resistiram, até de canais de comunicação social foram retirados.
A disciplina interna funcionou em pleno, e agora há campo livre para agir.
Como AMMD está em parte incerta e já não arrasta multidões para os seus “incómodos comícios” pós-eleitorais, é tudo uma questão de deixar passar o tempo até ao próximo ciclo eleitoral. Essas serão as contas que alguns estão fazendo.
Há sinais de que FJN continuará igual a si mesmo e cumprindo escrupulosamente as directivas da Comissão Política do seu partido. Também convenhamos que ele jamais teve espaço de manobra para conceber e implementar mudanças de vulto na agenda da governação de Moçambique. Chegou-se à IV República com os principais “dossiers” económicos fechados. Ele deverá operar mais algumas nomeações e exonerações, mas nada de vulto que altere a correlação de forças existente.
Existe um amplo consenso de que a actual equipa governamental é produto de uma complicada engenharia onde posições foram propostas, negociadas passo a passo num processo cheio de curvas e contra-curvas.
O CC foi um passo pequeno, mas poderá ser o início de um processo mais profundo de alterações políticas que tragam novidades que agora não temos.
Mas, se não houver coragem de assumir que a guerra é insustentável e que justiça social, política e económica deve ser “trazida para a mesa”, o nosso país mergulhará nas trevas da guerra.
Não se pode deixar de ter esperança de que compatriotas moçambicanos com responsabilidades históricas inalienáveis tenham aprendido alguma coisa com a história e que, de maneira não mediatizada, tomem decisões que tragam a estabilidade para este sofrido Moçambique.
Não existe uma fórmula infalível da paz nem operações mágicas que possam garantir que haja sucesso. Ser posição e oposição deve deixar de ser tabu.
Já é tempo de enterrar o complexo de superioridade que acompanha os nossos combatentes da luta anticolonial.
Mas se alguma coisa falta é realismo entre os nossos políticos.
Desnaturou-se toda uma sociedade e embrutece-se jovens e crianças em nome do poder e para manter tal poder. Quando o crime compensa e até é emulado, a situação é grave.
Veremos se surgirá aquela liderança que Moçambique precisa, pois isso é o que de mais urgente queremos ver acontecendo. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 11.02.2016
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