No distrito de Matutuine
…Enquanto isso gritou efusivamente “viva Moçambique”
Administrador do Distrito de Matutuine ao explicar a ocorrência alegou que a população se recusou a gritar “viva Guebuza” porque “tem fome”
Bernardo Álvaro
No distrito de Matutuine, durante um comício popular dirigido pelo secretário permanente (SP) do Governo da província de Maputo, Mário Omia, a população presente recusou-se a levantar as mãos e gritar “viva Guebuza”, quando tal lhe foi solicitado pelo chefe do governo local. O administrador distrital de Matutuine, Avelino Muchine, gritou “viva Guebuza”, antes de iniciar a sua intervenção no comício, mas os populares mantiveram-se calados. Repetiu algumas vezes, “viva Guebuza”, “viva Guebuza”.
“Guebuza hoyéeee” mas a população manteve-se muda, sem dar eco aos desafios do administrador.
A situação criou mal-estar no seio dos dirigentes e pessoas presentes no local que não imaginavam que tal pudesse suceder.
A recusa da população em dar vivas ao presidente da República e do partido Frelimo, Armando Emílio Guebuza, embaraçou sobretudo Avelino Muchine. Não chegou sequer a discursar. Para justificar o comportamento dos populares disse: “Entendo que estejam com fome e vejo que não posso teimar em prosseguir”, disse o chefe do Governo de Matutuine dando assim por terminada a sua intervenção.
“Viva Moçambique” gritado efusivamente
Na verdade o silêncio da população nada tinha a ver com a fome, como se veio a provar adiante. No prosseguimento do comício, depois do administrador ainda interveio o secretário permanente da província de Maputo.
Este gritou, “viva Moçambique” antes de iniciar a sua intervenção e a população respondeu efusivamente: “viva Moçambique”.
A atitude da população fez com que o interveniente principal, Mário Omia, que é secretário permanente da província de Maputo, não fizesse referência ao nome de Armando Guebuza, como tem sido habitual em todas as intervenções em situações semelhantes.
Na sua intervenção, o SP Mário Omia, a propósito da fraca presença da população no comício alusivo ao 7 de Setembro, atacou o administrador de Matutuine, acusando-o implicitamente de não estar a trabalhar. Assim tentou dar a volta ao assunto.
Visivelmente irritado com a fraca presença de cidadãos, o secretário permanente do Governo da província de Maputo afirmou que “as autoridades do Governo e outras devem trabalhar para trazerem a população aqui”.
Ataque à Imprensa
Para além do ataque ao administrador de Matutuine, Avelino Muchine, o secretário permanente de Maputo, atacou também a Imprensa. Afirmou que devia terminar o comício porque as câmaras televisivas e os gravadores foram retirados do pódio onde se encontrava a discursar.
Era afinal certa Imprensa a esconder a grande notícia do dia que era precisamente a recusa da população de entrar em vivas contra a sua vontade.
“Não posso falar mais nada, porque também as câmaras e os gravadores foram retirados”, disse Omia, para se desembaraçar da vergonha por que a população o fez passar, a ele e a todos os dirigentes governamentais presentes naquele comício alusivo ao 7 de Setembro que se assinalou a semana passada com mais um feriado nacional.
“Não ficámos embaraçados”, diz Avelino Muchine
Convidado pelo Canal de Moçambique a reagir ao posicionamento da população que se recusara a dar “viva a Guebuza”, o administrador de Matutuine, Avelino Muchine, minimizou a situação: “Não ficámos embaraçados”… “Em relação ao que viram, devo dizer que não corresponde à nossa realidade”, disse Avelino Muchine. “Não estamos embaraçados com isso. Pelo contrário.
Vimos isso como uma chamada de atenção que nos traz um desafio para as próximas ocasiões”, afirmou ainda o administrador.
Quanto à fraca aderência ao comício, Muchine disse que “as pessoas preferiram ir participar em casamentos ao invés do comício popular porque houve mistura de agendas”.
No mesmo dia foi realizado o registo matrimonial de 41 casais de antigos combatentes no distrito de Matutuine, com patrocínio do governo. O evento decorreu em espaço diferente, ou seja, a sete quilómetros (7 Kms) da vila de Belavista. O comício foi antes desse outro acto a que o administrador se refere para justificar a indiferença da população pelo comício em que os presentes se recusaram a dar “viva a Guebuza”.
Canal de Moçambique – 14.09.2011
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