DIZER POR DIZER... - Só 15 dias de aulas por mês!
Os pensadores ou sábios que temos, só(?) nos prejudicam, não tanto por o serem, mas porque pensam e sabem conforme as conveniências do momento. São tão volúveis como qualquer mortal e tão bajuladores como qualquer moçambicano que quer viver à sombra do poder, que não quer fazer esforço nem físico nem intelectual.
Acredito naqueles que dizem que temos muitos compatriotas que perderam(?) muito tempo a estudar para atingirem o actual nível de ignorância sobre os fenómenos e factos. Estamos, por assim dizer, cada vez mais carentes de quem pense independentemente dos factores que alienam a realidade objectiva, que se aproximem a algo científico. Agora interessa tomar a posição que se tem, para aconselhar (muitas vezes mal) a quem toma decisões, para agir de determinada maneira, mas em benefício de interesses não colectivos, mas sim mesquinhos.
Não é normal nesta coluna divagarmos muito, mas desta vez, antes de falarmos do ponto, que de facto são os salários via banco, precisamos de manifestar a nossa repulsa face à maneira como os interesses de grupos ou de pessoas são cada vez mais fortes do que os da Nação. A maneira como todos, tudo querem fazer para satisfazerem a alguém e não para fazerem conforme deviam ou se justificaria em pessoas mais informadas e teoricamente “academizadas”.
Os nossos assessores ou conselheiros parecem culpados da maioria dos problemas que enfrentamos, pois estão a desempenhar um papel igual a um empregado que deve ouvir do chefe e não de o aconselhar sobre vias razoáveis para a solução de problemas, que são muitos, num país como o nosso.
Acabam sendo mais uma pessoa, simplesmente isso, porque nunca aparecem a aconselhar ou a assessorar. Acabam sendo mais um problema que a sociedade, infelizmente, não pode transpor, porque ao contrário do que seria de desejar, os nossos chefes rodeiam-se de sobrinhos, que logicamente lhes custa dizer ao tio, a verdade, todos a virem das relações autóctones africanas em que o tio equipara-se a Deus!
Já todos fomos obrigados (formal ou informalmente) a aderir, numa época, à rede de telefonia móvel Mcel e desaconselhados a ficar com a 84. Não era decreto nenhum, mas na altura, ter um número da Vodacom, parecia estar a viver em Marínguè (como se isso fosse pecado). Conotava-se todo e qualquer detentor do cartão daquela firma. Mas num outro momento, conforme mudaram os interesses em função dos interessados, todos (outra vez não formal, mas informalmente) fugiram para a mesma Vodacom! Eis a razão porque qualquer bom moçambicano hoje detém dois números de companhias diferentes, porque na verdade foi enganado duas vezes.
O pretexto encontrado foi que a Mcel já era má, provavelmente por causa do congestionamento das suas linhas. O terceiro cartão vem ai, com a firma proveniente da Ásia de monções e a justificação vai ser que ela vai atingir os postos administrativos, conforme a preparação que estamos a ver aqui onde vivo.
Numa outra oportunidade, fomos obrigados (de novo informal e não formalmente) a abrir contas no Banco Internacional de Moçambique, porque os interesses na altura mandavam conforme os interessados do momento. Dizia-se e defendeu-se que era a melhor maneira de os salários chegarem aos seus beneficiários, sem interferências estranhas pelo caminho. O moçambicano que assim pensou, deve ser um assessor ou conselheiro de quem na altura decidiu em função dos seus interesses.
Noutra oportunidade ainda, vem (mais uma vez não por decreto, mas de forma informal, mas quase decisória) a oferecer-se a alternativa ao agora Millenium-Bim, ficando o BCI-Fomento, também elegível para acolher as contas-salário. Claro, os interesses haviam mudado conforme os interessados.
Tão obrigatórias são estas mudanças que todos em Moçambique devem receber os seus salários via banco. Assim determinaram os interesses e os conselheiros e assessores não desempenharam a sua missão ou os interesses falaram alto. Foi bom para a sociedade? Pode-se perguntar! Nas actuais condições de desenvolvimento do país, é viável? Pode-se perguntar!
Sem esperarmos pela resposta o cenário é o seguinte: as enchentes nos bancos caracterizam justamente o nível do subdesenvolvimento do nosso país. Ir ao banco para tirar dinheiro para caril, para ir retocar o cabelo, comprar uma recarga ou para tomar uma cerveja, não deve ser desenvolvimento. Ir ao banco por causa do salário não convém chamar a isso desenvolvimento, senão o seu contrário!
Hoje por hoje, segundo soubemos em Messumuco, distrito do Ibo, Papai e Hucula, distrito de Namuno, Mavala e Impiri, em Balama…não sabemos o que se passa em Luneque e Nkonga, no interior do distrito de Nangade, os professores, por exemplo, têm 15 dias de aulas, os outros 15 são para viajar para a capital provincial de Cabo Delgado, Pemba, para os distritos do Norte da província, ou para Montepuez ou Chiúre, para os do Sul.
Eles vão levantar os seus salários, agora que são de facto nominais e unipessoais. Já não é o administrativo que uma vez por mês vai levantar o título que, às vezes, reconheça-se, acabava simulando um assalto. O administrativo não deve conhecer o código do seu colega, é segredo. São 15 dias porque sair de Nkonga, Hucula, Ncumpe, Messumuco, para Pemba ou Chiúre e Montepuez, conforme seja, significa no mínimo três dias. Três para lá três para cá!
Se chega no fim-de-semana, fica mais complicado. Se chega num fim-de-semana “prolongado”, ainda mais complicado. E se chega num fim-de-semana, depois prolongado e na segunda ou terça-feira não há rede no Millennium Bim, como não é em poucas vezes?!... E depois devem voltar, na mesma distância e chegarem extenuados ou até doentes da viagem, com o álcool que acompanha a viagem desnecessária…
O professor não mais tem a capacidade de dar aulas no dia seguinte ou alguns dias seguintes. A seguir é fim-de-semana, em que deve participar na recepção do administrador, que vai dirigir a reunião com todas as estruturas da aldeia e o professor faz parte do grupo (pois muitas vezes é a única autoridade moral e científica da aldeia) ou às vezes é secretário da célula do seu partido.
Então, os assessores e conselheiros contaram com esse professor? Ou por outra, há aulas no campo, sendo que a maioria dos nossos professores estão lá onde se encontra a maioria da população moçambicana? Ou os conhecimentos existentes só servem para um pensamento urbano, de um país desenvolvido, que não é o nosso?
Também por aqui podemos procurar a qualidade de educação, pelas condições em que trabalham os professores (bem ou mal formados) que são os responsáveis da actual e futura qualidade do desenvolvimento que almejamos. Vão dizer que estou a falar só de professor! Desta vez, sim. Disse, mesmo que tenha dito por dizer!
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