Editorial, Confidencial
Esta realidade relativa à depreciação do metical, apesar de preocupante, não deve colocar-nos numa situação de pessimismo que nos conduza ao pânico e ao desespero”, a afirmação é do primeiro-ministro, Carlos Agostinho de Rosário, na Assembleia da República.
As palavras do governante, é bom que se diga, estão desfasadas da realidade. Os consumidores não estão, como crê o primeiro-ministro, a caminho do desespero. Com o cimento à 400 meticais e o caldo ao dobro do preço (disparou dos anteriores 80 para 200) ninguém abraça o pessimismo. Ninguém está em pânico porque o quilograma de tomate subiu 30 meticais.
É, aliás, absurdo falar de desespero diante deste quadro. Os cidadãos não se sentiram, de forma alguma, desesperados quando o custo do transporte subiu; não ficaram em pânico quando souberam que juízes, PCA’s e deputados auferem salários milionários; não foram dominados pelo pessimismo quando faltaram anti-maláricos e anti-retrovirais; não ficaram cabisbaixos quando uma nova guerra deflagrou.
Parece-nos, portanto, ridículo que um governante diga que o quadro apresenta um desafio “a todos nós”. Temos feito, ao longo dos anos, diversos desafios enquanto cidadãos deste país. Desafiamos salários míseros e uma rede de transportes públicos incipiente. Aliás, a vida dos moçambicanos é um exercício na corda bamba de políticas criminosas.
Senhor ministro, da próxima, diga coisas novas. O desespero já vinha sendo conjugado pelos moçambicanos nas longas filas dos hospitais; o pânico, esse, experimentamos na EN1 e; o pessimismo tem sido o nosso pão de cada dia nas nossas relações com a Electricidade de Moçambique.
O que o senhor deve dizer, para além de construir discursos mancos, é o que será feito para o caldo não chegar aos 300 meticais e para que o cimento não atinja a criminosa quantia de 500 meticais. É que já não temos reservas de pânico, doses de desespero e laivos de pessimismo que aguentem…
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