Escrito por Adérito Caldeira em 04 Setembro 2015 |
O acto simbólico, que culminou com abraços e apertos de mãos de Guebuza e Dhlakama, acabou por não trazer a paz ansiada pelos moçambicanos. Se, por um lado os confrontos militares, que duraram mais de um ano e meio, terminaram o outro grande objectivo do acordo não chegou a ser materializado, não se iniciou até hoje o processo de desmilitarização, imobilização e reintegração das forças residuais do partido Renamo, seja na vida civil em actividades económicas e sociais, seja nas Forças Armadas de Moçambique e na Polícia da República de Moçambique. Entretanto, Filipe Nyusi substituiu Guebuza na Presidência de Moçambique, após as eleições gerais de Outubro de 2014, que o partido Renamo nunca reconheceu, devido às várias irregularidades que aconteceram durante o pleito. Depois de recuar da proposta de um “governo de gestão”, para ultrapassar a crise eleitoral, o maior partido na oposição em Moçambique avançou com a solução de gerir de forma autónoma as províncias de Sofala, Manica, Tete, Nampula, e Zambézia, onde conquistou a maioria dos votos nas últimas eleições gerais. A proposta de autarquias provinciais foi chumbada no Parlamento, pelos deputados do partido Frelimo, depois de o Presidente Nyusi se ter reunido duas vezes com Afonso Dhlakama em Fevereiro de 2015, na capital do país. Também em Maputo o apelidado “diálogo político”, entre o Governo e o partido Renamo, continua a arrastar-se, foram 114 rondas durante mais de dois anos, e não há forma de haver entendimento sobre os assuntos económicos e a desmilitarização das forças residuais do partido de Afonso Dhlakama. Alguns confrontos militares voltaram a registar-se agora na província de Tete.
Quartel para formar polícia e mais guerrilheiros
Na semana passada, e paralelamente a um novo convite do Chefe de Estado para um encontro a dois, Dhlakama anunciou em comício popular na Zambézia o fim do “diálogo político”, por falta de seriedade do Governo do partido Frelimo, e o início da governação nas cinco províncias onde obteve maior número de votos.“A decisão de montagem do quartel de Morrumbala não é do presidente Dhlakama mas dos próprios veteranos da luta pela democracia”, enfatizou em conferência de imprensa o porta-voz do principal partido da oposição em Moçambique, António Muchanga, nesta quarta-feira (03), que não quis revelar quantos guerrilheiros estão no local, se existem armas e que infra-estruturas há; porém, acrescentou que Afonso Dhlakama, que visitou o quartel na tarde de terça-feira, teve de concordar com a decisão “como forma de evitar que houvesse cisão no seio do partido, o que seria muito perigoso para a democracia que pretendemos consolidar, tendo em conta que qualquer combatente poderia tomar a decisão pessoal de pegar em armas sem um comando seguro”. Segundo o porta-voz, este quartel “(...) é um local onde os combatentes da democracia se vão juntar, vão poder planificar como é que será feita a formação da polícia da Renamo que vai defender o governo da Renamo nas províncias conquistadas (Sofala, Manica, Tete, Nampula, e Zambézia) pela Renamo. Tem que se formar um exército que deverá defender a soberania dessas zonas, se as negociações falharem”. Questionado sobre quando será retomado o “diálogo político” Muchanga afirmou que “tudo depende do Governo. Se o Governo começar a cumprir com as exigências detalhadas na carta enviada ao Governo no dia 25 (de Agosto) a Renamo está disponível a voltar à mesa de negociações”. Na missiva, o partido Renamo recusa o convite (re)formulado pelo Presidente de Moçambique, para se encontrar com Dhlakama, pois considera que o Governo não tem cumprido o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares por haver extinto unilateralmente a Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares e ter atacado as suas forças militares que deveriam ser reintegradas. O maior partido da oposição acusa também o Executivo de Nyusi de se recusar a reintegrar os seus homens, pois “manifestou e continua com vontade de arrancar as armas da Renamo não interessando o futuro daqueles homens”, pode-se ler ainda na carta que o Governo “usa o aliciamento para que os homens da Renamo abandonem os termos acordados nas negociações e se apresentem no Comando Geral da Polícia e no Estado Maior General das Forças de Defesa de Moçambique como voluntários da Frelimo, para daí serem recebidos como heróis, onde são consequentemente promovidos e patenteados”. “Quanto ao segundo ponto da Agenda, avaliação do decurso do diálogo político entre o Governo e o partido Renamo, achamos que o momento é extemporâneo tendo em conta que houve tempo suficiente e não houve boa vontade pela parte do Governo de resolver de boa maneira os assuntos importantes que afectam a democracia e a paz em Moçambique”, refere também a carta enviada em resposta ao convite do Chefe de Estado que cita como exemplo da falta de vontade o facto de já se haver alcançado um entendimento sobre a despartidarização do Estado, uma das questões económicas em negociação, mas o Executivo recusa-se a homologá-la através do Parlamento. De acordo com o porta-voz do partido Renamo, “(...)Se o Governo continuar com manobras dilatórias cada qual vai ocupar o seu espaço”. |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Quartel-general do partido Renamo, onde vai formar a sua polícia e exército, já funciona em Morrumbala
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