Estado assenta numa estrutura que promove a desigualdade, afirma o economista João Mosca
16 de Abril de 2015, 11:57
O economista moçambicano João Mosca defendeu que o Estado tem uma estrutura deficitária, em que os interesses de forças políticas se sobrepõem aos interesses do povo, o que aumenta o nível de desigualdade económica no país.
"Não há uma política de desenvolvimento que beneficie o interesse nacional, diminuindo a pobreza. Pelo contrário, os interesses individuais e de grupos económicos fortalecem-se cada vez mais, criando uma economia cada vez mais desigual entre si", disse à Lusa o académico moçambicano, à margem da segunda jornada do 11.º Encontro com a História em Maputo, organizado na quarta-feira no Centro Cultural Português (CCP).
Para o docente moçambicano da Universidade A Politécnica, as disparidades económicas em Moçambique têm consequências "graves", na medida em que suscitam conflitos sociais violentos, criando um grupo descontente.
"Esta situação tem consequências graves e cria uma instabilidade social", declarou João Mosca, reiterando a necessidade de o Estado compreender a realidade política e social das populações para melhor adoptar modelos económicos que se adequem à realidade quotidiana.
Como forma de resistir aos altos índices de pobreza e à desnutrição crónica, a maior parte da população, que vive em zonas rurais, recorre à agricultura de subsistência como único meio de sobrevivência.
Céptico quanto à rentabilidade dos recursos minerais, recentemente descobertos no país, João Mosca defendeu que o país devia priorizar o sector agrário, reformulando suas políticas e adoptando estratégias macroeconómicas que beneficiem a agricultura nas zonas rurais.
"O Estado tem de promover a agricultura, particularmente na produção alimentar nas zonas rurais. Temos de dinamizar todo o processo agrário", afirmou João Mosca.
Durante o encontro, que juntou intelectuais e estudantes no CCP na capital, o académico apresentou o tema "Descontinuidades e Continuidades dos sistemas económicos em Moçambique e Angola", no qual destacou a similaridade dos sistemas económicos vigentes nos dois Estados.
"Moçambique e Angola têm sistemas económicos muito dependentes de factores externos, onde a capacidade de resistir às crises internacionais é fraca. São economias muito vulneráveis e ancoradas ao sector externo em desfavor do mercado interno", adiantou João Mosca, comentando que este tipo sistema, resultante da influência colonial portuguesa, justifica os índices crescentes da pobreza nos dois países.
O encontro contou também com a presença do historiador português Paulo Jorge Fernandes, do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que analisou o uso da imprensa como "arma do poder político” na transição do colonial à independência em Moçambique.
"A imprensa foi sempre uma arma que o poder político usou para transmitir a sua ideologia numa determinada sociedade. Em Moçambique aconteceu mesmo coisa durante a transição do poder político colonial à independência. Aliás, eu penso que isto é válido até aos dias de hoje, embora não esteja actualizado sobre panorama", disse à Lusa o historiador português.
De acordo com Paulo Jorge Fernandes, esta "metamorfose" da imprensa durante o período de transição da época colonial às independências aconteceu em todas colónias portuguesas, com os principais órgãos de informação a adoptarem uma linha editorial a favor do poder político vigente.
"A imprensa adoptou um estilo similar à de um camaleão, que se vai camuflando e adaptando-se de acordo com o meio que atravessa para sua sobrevivência", adiantou o historiador português.
Subordinados ao tema "As Independências Africanas: a Construção dos Países e das Identidades Nacionais", o 11.º Encontro com a História resulta de uma cooperação entre o Centro Cultural Português e o Departamento de História da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior do país.
Lusa
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