Escrito por Adérito Caldeira em 17 Abril 2015 |
Nesta quarta-feira (15) os trabalhadores moçambicanos, de uma empresa que presta serviços de construção à Vale Moçambique em Moatize, na província central de Tete, paralisaram as suas actividades exigindo que os seus colegas de nacionalidade sul-africana abandonassem Moçambique, numa aparente retaliação aos ataques xenófobos de que os compatriotas têm sido vítimas. Ainda na quarta-feira (15) mais de uma centena de trabalhadores de nacionalidade sul-africana abandonaram o local e foram alojados na cidade de Tete. A interrupção laboral continuou durante a manhã desta quinta-feira (16) enquanto a direcção da empresa, através do diálogo, procurava encontrar uma solução para o diferendo. Mais a sul, na província de Inhambane, trabalhadores sul-africanos que prestam serviços à empresa Sasol, que explora gás natural em Temane, foram confrontados com um cartaz, quando entravam para a faina, que os questionava: “Porquê a xenofobia?”. A situação ficou tensa mas não houve nenhum tipo de violência. A maioria dos trabalhadores de nacionalidade sul-africana teve de abandonar as instalações. Um pequeno grupo de trabalhadores sul-africanos, que ocupam cargos de chefia, permaneceu no local. Em Maputo o Presidente Filipe Nyusi voltou a condenar a onda de xenofobia na África do Sul e garantiu o apoio do Governo aos imigrantes afectados. "Assistimos com grande preocupação e angústia ao sofrimento dos nossos concidadãos, que estão a ser vítimas de actos de xenofobia no país irmão. Renovamos a nossa solidariedade com as famílias enlutadas afectadas, perante as vítimas e as suas famílias no país. Quero manifestar a determinação do meu Governo de tudo fazer para mitigar o sofrimento desses nossos irmãos prestando-lhes toda a assistência necessária", assegurou o Presidente de Moçambique.
Repatriamento começou
Entretanto nesta quinta-feira (16) começaram a regressar ao país alguns dos imigrantes que estavam refugiados em campos criados pelo Governo sul-africano nos arredores da cidade de Durban. Autocarros e camiões foram mobilizados para transportar pelo menos 90 cidadãos, e também os seus parcos haveres que conseguiram salvar dos vândalos, que deverão ser acomodados, temporariamente, num centro de trânsito criado pelo Governo em Boane, na província de Maputo.O director para os Assuntos Jurídicos e Consulares da diplomacia moçambicana, Fernando Manhiça, em declarações à agência Lusa, afastou a existência de vítimas mortais moçambicanas nesta nova crise xenófoba, referindo que dos dois casos noticiados pela Imprensa de Maputo um não chegou a morrer e outro faleceu por motivos não relacionados com os episódios de violência. Fernando Manhiça disse ainda que uma mensagem que está a circular via telemóvel, e nas redes sociais, desaconselhando deslocações de cidadãos moçambicanos à África do Sul, não é oficial. Contudo, admite que o risco é elevado. "O Alto Comissariado (de Moçambique em Pretória) está profundamente preocupado com a possibilidade de as pessoas viajarem para a África do Sul", afirmou o director do Ministério dos Negócios Estrangeiros, recomendando "todo o tipo de cautelas, porque há já ameaças e as viaturas podem ser vandalizadas e as pessoas agredidas", não apenas em Durban e na província de Kwazulu- Natal, mas noutras mais próximas de Maputo.
Uns marcham contra outros continuam atacar estrangeiros
Cerca de dez mil cidadãos sul-africanos, anónimos, líderes religiosos, académicos, músicos e políticos, marcharam, na manhã desta quinta-feira (16), pelas principais avenidas da cidade de Durban, na província do Kwazulu-Natal, em repúdio aos ataques xenófobos protagonizados por outros sul-africanos e que já causaram a morte de pelo menos cinco cidadãos estrangeiros.
A marcha, pacífica, esteve para ser ensombrada quando alguns cidadãos sul-africanos apareceram a manifestar-se contra ela e defendendo os actos de xenofobia.
A polícia interveio, usando gás lacrimogéneo, canhões de água e bombas de efeito moral, e conseguiu conter e dispersar o pequeno grupo. Ainda durante a manhã, na província de Gauteng, um grupo de sul-africanos vandalizou lojas de imigrantes e proferiu insultos xenófobos na região de Benoni.
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"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
sábado, 18 de abril de 2015
Alguns moçambicanos, retaliando ataques xenófobos, boicotam presença de sul-africanos em Moçambique
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