Punição para a criança ou mulher
violada sexualmente
A lei, que deveria
proteger as vítimas de violação sexual, favorece o violador. Autoriza que o
violador, se se casar com a vítima, tenha a sua pena suspensa se for
condenado.
A nova versão do
Código Penal já foi aprovada na generalidade pelo Parlamento, em Dezembro de
2013. Mas apesar das leis em Moçambique defenderem a igualdade de todas as
pessoas, há situações que violam os direitos humanos, especialmente os das
crianças.
As vítimas de
violação sexual devem ser integralmente protegidas pelo Estado. O bem
jurídico a proteger é a integridade física e a dignidade das vítimas. Ora, no
Artigo 223 do Anteprojecto do Código Penal, aparecem normas que se forem
aplicadas podem provocar mais sofrimento às vítimas. A aprovação na
especialidade só se fará na próxima sessão do Parlamento, em Março de 2014.
Ainda há tempo para alterar as normas que discriminam e que violam os
direitos humanos.
O que diz o Código Penal?
ARTIGO 223 - Efeitos
do casamento
Este artigo diz que
em caso de violação sexual e de violação sexual de menor de 12 anos, se a
pessoa acusada se casar com a sua vítima, põe- -se termo à acusação da parte
ofendida e também à prisão preventiva.
A acção prossegue na
justiça até ao julgamento final. Se houver condenação, uma vez que o agressor
já está casado com a vítima, a pena fica suspensa. Depois de cinco anos de
casamento, sem ter havido divórcio ou separação judicial, a pena caducará.
Quais são as consequências desta norma?
As mulheres adultas
têm mais força e autoridade para se recusarem a casar com os seus agressores,
mesmo que a família as pressione. Mas as crianças terão menos oportunidades
de evitar um casamento, se esse for do interesse das famílias. As meninas,
depois do horror da violação, ainda serão obrigadas a casar-se com os seus
agressores. Como será as suas vidas? Este é o pior pesadelo para as vítimas
de violação.
Em Marrocos, a lei é
igual: permite que um estuprador evite a acusação e uma longa sentença ao se
casar com a vítima, se ela é menor. Por este motivo, em 2012, Amina Filali,
de 16 anos de idade, que foi violada, espancada e forçada a casar-se com seu
violador, suicidou-se. Foi a única maneira que ela viu para escapar da
armadilha. Esta tragédia está a levantar as vozes de mais de 8 centenas de
milhares de pessoas no país, que protestam para que esta lei seja revista.
A quem beneficia esta norma?
Aos violadores e às
famílias. Existe a ideia de que a violação de uma mulher é uma desonra e uma
vergonha para a família. O bem jurídico que se pretende defender com esta
norma não é a vítima, mas a honra da família. Não importa se isso destruirá a
vida das vítimas que já tanta violência sofreram.
Proposta
Eliminar totalmente
este artigo do Código Penal.
O crime de violação
e o crime de violação de crianças são dos mais horríveis que se podem cometer
contra um ser humano. Em todo o mundo, a punição ou sanção contra este tipo
de crime são muito severos, não admitindo contemplações ou atenuantes de
qualquer natureza, dado que o objectivo principal é eliminar ou desencorajar
esta prática e evitar o mal cometido.
Por isso, não se
entende como é que o Código Penal moçambicano, em pleno século XXI, isenta o
autor do crime das suas responsabilidades e ainda castiga as vítimas. Este
artigo do Código Penal é um insulto à Humanidade: o criminoso, pois a
violação é um crime, é despenalizado. Ou seja, pelo “casamento” o violador
transforma-se num cidadão liberto de qualquer mancha. A vítima deixa de ser
vítima ou até pode transformar-se em culpada se não aceitar “casar” com
aquele que tanto mal lhe fez.
É isto o que a lei
recomenda: se queres casar com alguém que te rejeita, viola e depois casa.
Alguns podem dizer que a vítima pode recusar o casamento. Mas será isso
verdade? Será isso possível quando vivemos numa sociedade em que crianças e
mulheres não têm direito à escolha? E em que meninas de 13 anos são “casadas”
à força? Se não se quiser “casar” a vítima só tem duas saídas: ou mata o
violador ou suicida-se.
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"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
sábado, 22 de fevereiro de 2014
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