O PAPA Francisco divulgou, terça-feira, a sua Exortação Apostólica, primeiro documento escrito totalmente por ele. As cópias do texto; Evangelii Gaudium (a Alegria do Evangelho), foram distribuídas ontem pelo Vaticano. Nele, Francisco realça a necessidade de uma profunda reforma na Igreja, que precisa “sujar as mãos” na busca dos pobres e oprimidos.
Além disso, o Papa fez duras críticas ao sistema económico mundial, ao atacar a “idolatria ao dinheiro” e implorar aos políticos que garantam a todos os cidadãos “trabalho, atendimento de saúde e educação dignas”. Também pediu aos ricos que compartilhem a sua riqueza. “Do mesmo modo como o mandamento ‘Não matarás’ estabelece um claro limite para salvaguardar o valor da vida humana, hoje também temos de dizer ‘Não deves’ para uma economia de exclusão e desigualdade. Tal tipo de economia mata’, escreveu Francisco no documento divulgado na terça-feira. “Como pode ser que não seja assunto para notícia quando uma pessoa sem tecto morre por abandono às intempéries, mas é notícia quando o mercado de acções perde dois pontos?”.
O Papa disse que está “aberto a sugestões” para transformar o poder sobre o papado.
Ao defender uma reestruturação, Francisco disse que a instituição precisa ser transformada para criar uma Igreja mais missionária e misericordiosa, que “suje as mãos” enquanto procura pelos pobres e oprimidos. “Eu prefiro uma Igreja que esteja ferida e suja, porque tem saído às ruas, do que uma Igreja doente por estar confinada e agarrar-se à própria segurança”, escreveu. No documento, o Papa redigiu as prioridades da Igreja após oito meses de homílias, discursos e entrevistas.
Criticou ainda a “obsessão” da Igreja em transmitir uma série de doutrinas morais, quando a “hierarquia da verdade” é composta pela misericórdia profunda e moderação. Para ele, estes seriam os pontos que atraem mais os fiéis à vida religiosa.
O Pontífice continuou as críticas, defendendo que alguns “costumes históricos” podem ser colocados de lado se eles não servirem mais para comunicar a fé. Citando São Agostinho e São Tomás de Aquino, o Pontífice ressaltou a necessidade de moderação nas normas para “não sobrecarregar a vida dos fiéis”.
Ainda no texto, Francisco redefiniu a posição da Igreja contrária ao aborto, deixando claro que esta se trata de uma doutrina inegociável e que estaria no centro da insistência da Igreja sobre a dignidade de cada ser humano.
O documento é a segunda escritura emitida por Francisco, mas é a primeira totalmente escrita por ele. A encíclica “A Luz da Fé”, divulgada em Julho, foi escrita quase inteiramente pelo Papa Emérito Bento XVI, antes de sua renúncia.
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