"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O reino de Gueus! (#canalmoz)

Maputo (Canalmoz) –
Quando entreguei a primeira versão do texto, o revisor chamou-me a informar que havia um erro na titulagem, e que, em bom português, diz-se ou se escreve “Reino de Deus” e não “Reino de Gueus”. E o revisor tinha a sua razão. Mas depois de uma explicação, compreendeu o atento revisor que estávamos a tratar de um outro reino, não muito celestial quanto ao de Deus, o verdadeiramente Todo o Poderoso.
Gueus é a palavra-valise ou amálgama de “Guebuza” e “Deus” numa única entidade. Assim temos: “Gue” de Guebuza e “eus” de Deus.
Gueus é uma entidade que foi desenvolvida nos últimos nove anos e foi sendo aperfeiçoada nos últimos três. E nos últimos meses, Gueus tem estado a ser pregado e adorado em clima de Pentecoste. Pelo andar da carruagem da propaganda a Gueus, eu, pessoalmente, fico com receios de que num futuro muito próximo produzam uma espécie de uniforme para vestir os moçambicanos, com a fotografia de Gueus estampada nas costas e no peito. Imagine, então, caro leitor, que cada moçambicano tenha de colocar o uniforme “Gueus” antes de sair de casa. Imagine-se dentro do referido uniforme a fazer as suas actividades diárias, e com pautas indicativas de que quem não tiver uniforme “Gueus” e andar nas ruas será detido por desobediência “espiritual e civil”.
Pelo nível de intensidade da propaganda avoluma-se o meu receio que se possa chegar a tão drástica medida de exaltação.
Falo de propaganda em clima de Pentecoste porque as porções da unção têm sido derramadas aos cântaros que os crentes entram em delírio colectivo com palavras de ordem que se resumem em “adora a Gueus, ou te assassinamos o carácter”. Aí não tens como. É normal que, pelo simples facto de não concordares com a forma como Gueus governa o seu reino, seres chamado de antipatriota e saudosista. No reino de Gueus os patriotas são os que adoram a mediocridade, o roubo, a corrupção, a incompetência e a falta de sentido de Estado.
Gueus não é Deus. Nem quase Deus. Gueus falha quase que sempre mas acredita e manda dizer que não falha. Está Gueus, por isso, religiosamente, sempre “correcto”. Gueus não aceita crítica nem confrontação. Gueus é uma réplica falhada de Deus. Se Deus ama e, por isso, mesmo também é amado pelo seu reino, Gueus não ama e quer ser amado a todo o custo pelo seu reino. Gueus é falado em todo o lado, pelas piores razões.
Gueus é um narcisista por natureza. Por isso mesmo, nessa avidez de querer ser amado sem merecer, Gueus acaba perdendo a cabeça e insulta aos que em nome da racionalidade não o cultuam.
Gueus é a semelhança de Deus, uma entidade suprema, mas ao seu nível. Por ser também supremo é adorado, exaltado em cultos de louvores, só que, contrariamente a Deus verdadeiro, os cultos a Gueus são replicados até na Imprensa e com alguma dose de delinquência. Gueus não governa. Prioriza grupos de choque que pululam nas TVs rádios e jornais e redes sociais a falarem enormidades que materializam o insulto à mais mediana racionalidade. E esta irracionalidade em jeito de análises feitas pelo espiritual exército de Gueus é servida por uns jornais, rádios, televisões e agências do Estado que personificam a vergonha em qualquer País civilizado.
Gueus tem um extraordinário domínio do vocábulo do vilipêndio e arruaça. Quem ousa em não adorar a Gueus é imediatamente abençoado com um título vilipendioso: “apóstolo da desgraça”, “tagarela”, “órfão de patrão estrangeiro”, ou mesmo “louco”. Mas entende-se: Gueus tem problemas elementares de educação que, com a idade, já não vamos a tempo de corrigir.
Gueus é verbalmente pela paz, mas materialmente pela destruição. Gueus tem um fascínio pelo belicismo. Quando há troca de tiros onde morrem inocentes, Gueus não se comove. Diz que é um teste à nossa moçambicanidade, como que se houvesse uma outra moçambicanidade à prova de balas. Gueus é, por isso, um ser estranho e provavelmente maníaco, pela forma como banaliza a morte. Sobre este último, não temos certeza.
Gueus anuncia diálogos na Imprensa, e ordena ataques militares no exercício a seguir. Gueus também tem tiques de mafioso. Marca um dia para se encontrar com o líder da Renamo e no tal dia viaja para um outro lugar e manda anunciar que o líder da Renamo faltou, quando, na verdade, Gueus é quem mandou o convite às 16 horas do dia anterior.
Por ser contrário a Deus, Gueus cultiva o cinismo e o ódio. Fala e manda falar coisas que ele próprio não acredita. Gueus encontrou um país em paz e certamente vai deixá-lo em chamas.
Gueus estranhamente não sabe o que está mal, e dá entrevistas a desafiar as pessoas a apontarem o que está mal. Mas quando as pessoas apontam o que está mal, como, por exemplo, os excessivos e promíscuos negócios do próprio Gueus que estão a levar o Estado à falência, o apadrinhamento da corrupção e do roubo do dinheiro público, Gueus zanga-se. Gueus é também um analista político por tendência. Mas em regime de estágio. Gueus faz mais “análises” que governa. Analisou a pobreza quem ele próprio tem produzido e chegou à conclusão que ela está na cabeça dos moçambicanos. Um reino governado nesses moldes é materialmente falhado. É duma casta com vocação para o paternalismo destrutivo que nasce o reino de Gueus. E o povo moçambicano, certamente, merecia sorte melhor. (Matias Guente)

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