Carta Aberta aos Libertadores
da Pátria I
Quem me pode responder estas
inquietações?
Por: Maria Alice Mabota
Sr. Director!
Peço à V. Excia para que
aceite o meu pedido de publicação desta carta no jornal que sabiamente dirige.
Não sou jovem, pertenço à geração
dos da luta armada. Não fui à luta armada porque nem todos deveríamos lá ir e
nem tive condições para o efeito.Naturalmente, compreendi as razões da luta armada de libertação em 1970 e, a partir daí apoiei e acreditei no que a falecida Ivete Mboa, na altura, me dizia.
Entre muitas coisas, ela vincava que lutar para libertar a terra e os homens do jugo colonial português era uma acção justa, pois o sistema vigente era uma coisa dolorosa e detestável. Ela comparava o colonialismo a alguém que sofria de falta de tudo e que viesse à sua casa pedir para ser acolhido e depois se tornar dono(a) da casa.
Chegou o 25 de Abril de 1974 e, o grupo Massinga, Taurino Migano, Sumbana, Muthemba e outros juntaram alguns jovens, na altura, para chamá-los à consciência sobre a luta de libertação e, que o futuro ainda era incerto, havendo assim a necessidade de se avançar para várias frentes.
A mim, Ana Maria , Guilhermina, Calisto e Milagre Mazuze coube-nos o trabalho de mobilização na zona sul e, infelizmente, a caminho de Chibuto tivemos um grande acidente donde saí sem uma única lesão, mas os meus colegas ficaram feridos. Porém, antes trabalhei na organização das mulheres para a causa da luta pela formação da nova sociedade, por isso, fui da OMM.
Acreditei e li em livros,
dizendo que a Frelimo era um movimento de massas, um movimento
anti-colonialista, anti-capitalista, anti-racista, anti-regionalista,
anti-corrupção de tal sorte que ter amante, na altura, era visto como uma
pessoa corrupta. Nunca na época se vislumbrava a dimensão da actual corrupção,
daí o facto de ter aderido à revolução encabeçada pela Frelimo com maior vigor
por acreditar nos seus ideais.
A avidez por dinheiro era impensável;
quanto a mim, o dinheiro, esse sim, era necessário para a satisfação das
necessidades básicas, mas tudo o que era ambição exagerada era combatido.
Talvez o básico mesmo era suficiente, pois com 5.50 (cinco escudos e cinquenta
centavos) dava para um litro de gasolina normal para o meu Volkswagen 1200 que
eu tinha e dei boleia a muitos que chegaram da luta de libertação e que, na altura,
nem sabiam comer com faca e garfo na mesa.
Anos depois, apesar da
sobrevivência com repolho, farinha amarela e peixe sem cabeça que nunca cheguei
a saber que peixe era, vivíamos moralmente felizes e, é por isso que
aceitávamos ir à machamba do povo, limpar as estradas, ir à colheita do arroz
no Chókwè com Jorge Tembe, na altura,
Director do Complexo Agro-Industrial do Limpopo, ex- colonato do Limpopo.
Mas, deixo para os
historiadores o relato das várias etapas por que passou este país e vamos agora
à minha indignação dirigida às senhoras e aos senhores libertadores da pátria
amada:DEOLINDA GUEZIMANE,
GRAÇA MACHEL,
MARINA PACHINUAPA,
MONICA CHITUPILA,
MARCELINO DOS SANTOS,
JORGE REBELO,
JOAQUIM CHISSANO,
MARIANO MATSINHE,
ALBERTO CHIPANDE,
RAIMUNDO PACHINUAPA,
SERGIO VIEIRA,
JOAO AMÉRICO MPFUMO,
HAMA THAI,
ÓSCAR MONTEIRO,
PASCOAL MOCUMBI,
PADRE FILIPE COUTO
Vocês todos respondam-me, por
favor, quem foi verdadeiramente o combatente Armando Emilio Guebuza?
Sabem porque? Samora deixou o
país destruído pela guerra, mas tinha moral, ética, identidade e espírito de
unidade nacional. Dizia que lutava pela unidade de todos mesmo que tivesse sido
em teoria; ele procurava reflectir a moral do seu povo e ninguém imaginava que
o actual presidente estava metido em negócios. Sabem, no meu tempo, filha de
uma prostituta subia para o altar de véu e grinalda.JOAQUIM CHISSANO saiu do poder e deixou os cidadãos com alguma moral e esperança. Que me lembre não deixou muita gente tão descontente como estão os cidadãos hoje, sem esperança, sem moral, sem dignidade onde cada um só pensa em roubar para ser rico. Nunca ouvi o povo tão revoltado e sem esperança como está agora.
Ora, vejamos:
A corrupção aumentou sem qualquer plano de acção para o seu combate;
A incompetência dos governantes acentuou-se mais e passamos a ver ministros que nem sequer sabem o que fazem, não conhecem a casa que governam, os problemas dos seus pelouros e não medem palavras quando se dirigem aos cidadãos; a criminalidade aumentou assustadoramente; a sinistralidade está ceifando vidas diariamente nas estradas; os incêndios jamais vistos ocorrem nesta governação; o branqueamento de capitais, o tráfico de órgãos humanos, drogas e armas fazem parte do sistema de uma forma impune.
Os raptos sucedem-se e atingem
números que assustam. A comunidade asiática, apesar de ser composta por
moçambicanos com igual direito de protecção, nada é feito para a acudir. No
mínimo o estado deve esclarecer este fenómeno que, ultimamente, virou crime organizado
com impacto social e económico bastante negativo.
As manifestações de vários segmentos sucedem-se, dia após dia, mas a Polícia de Intervenção Rápida é, de facto, veloz para descarregar sobre cidadãos no gozo dos seus direitos. Para não falar de perseguições consequentes desde o emprego até a casa. Vivemos, sim, momentos de terror e incerteza.
As manifestações de vários segmentos sucedem-se, dia após dia, mas a Polícia de Intervenção Rápida é, de facto, veloz para descarregar sobre cidadãos no gozo dos seus direitos. Para não falar de perseguições consequentes desde o emprego até a casa. Vivemos, sim, momentos de terror e incerteza.
A greve do pessoal da saúde,
por duas vezes, sem resposta e que continua silenciosa. Basta ir para qualquer
posto de saúde ou hospital para ver como é que o povo sofre. A greve silenciosa
na saúde tem efeitos mais nefastos do que a da rua.
Os médicos, enfermeiros, todo
o pessoal da saúde e suas famílias continuam a sofrer, ameaças, despedimentos,
transferências, descontos, processos disciplinares e humilhações. É para isto
que lutaram e pensam que nos libertaram? Libertaram a terra, mas os homens
continuam debaixo do sofrimento.Os dois levantamentos populares aconteceram e marcaram os dois mandatos de Armando Guebuza em que as pessoas procuraram demonstrar a sua revolta ante a má governação. E o governo no lugar de transmitir mensagem de esperança, distanciou-se cada vez mais, matando inocentes.
Senhoras e Senhores
libertadores acima citados e outros esclareçam-me:
Quem foi, afinal, Armando
Guebuza, ontem, na luta de libertação que tantos anos convosco viveu e não o
descobriram que é a pessoa com mais espírito de negócios pessoais, ambição e
ganância desmedida. Porquê não descobriram que ele é que poderia virar o país
para o abismo e não somente o Lázaro Nkavandame e Urias Simango que os textos
parciais da Frelimo tanto nos deliciam?
Digam-me minhas senhoras e
meus senhores foi para isto que lutaram e tomaram o poder para num minuto
tornar a filha dele a mulher mais rica de Moçambique; não lutaram por uma
sociedade equilibrada e de justiça social?
Eu acreditei no socialismo
propalado pela Frelimo, não nisto que estou a ver e sentir porque é repugnante.
Não tolero mais, confesso, publicamente.Digam-me minhas senhoras e meus senhores porquê e de que medo têm de o enfrentar e lhe dizerem que esta não é a Frelimo que nós construímos em Junho de 1962? O que vos prende a ele ao ponto de engolir tudo isto? O povo está a sofrer e vocês são cúmplices do sofrimento do povo. A história julgará-vos-à por este silêncio do que pelos crimes que cometeram durante a luta armada de libertação. Porque durante a luta de Libertação todos estávamos convencidos que o colono é que era o nosso inimigo e todo aquele que a ele se aliasse ou tivesse suas atitudes era contra nós. E hoje, porquê o cidadão que já foi amado maltrata o seu povo; persegue-o. Traz exploradores piores que os colonos, pois não sabemos o que irão deixar quando saírem deste solo pátrio onde o colono nos deixou com a terra , os recursos naturais e casas onde hoje habitamos e, arrendamos por dólares sem termos construído.
Sabem, senhoras e senhores
libertadores, esta indignação não é só minha é de muitos outros cidadãos e, se
não saiem à rua têm medo da FIR que implantaram para maltratarem o povo que
vocês lhe tiraram do colonialismo para pessoalmente maltratarem. Nas casas, nas
ruas, nas festas e nos “chapas” toda, mas toda a gente só fala da má governação
de Guebuza; escutem o jovem que canta a má governação dele, mesmo os que se
encontram no poder dizem que o povo tem razão mas que fazer, temos filhos por
sustentar e educar; dizem basta ver como ele exonera os seus quadros é
humilhante nem parece que merecem dignidade. Eles bajulam, dizendo falem vocês,
nós o que queremos é garantir o pão.
O Senhor Joaquim Alberto
Chissano na última campanha nas instalações da EMOSE afirmou categoricamente
que confia no Guebuza porque o que ele promete cumpre. Recorda-se? Então posso
assumir que toda a trama que ele faz é do seu conhecimento e consentimento é
assim que combinaram que quando libertarem a terra quem não foi à luta e as outras
gerações vão passar mal. Vão nos fazer comer o pão que o diabo amassou e vocês
outros senhoras e senhores? Recorda-se que eu, peremptoriamente, lhe afiancei
que não iria votar em vós.
Significa isto que nós também
deveremos ir à luta para nos libertarmos de vocês?
Porquê quando o saudoso Samora
vos aconselhava a não lhe entregarem o poder o chamaram de louco ou alucinado?
Desvendam-nos o porquê ele dizia isso .Senhora Graça Machel:
Como consegues viver, conviver e fazer negócios com esta pessoa que o seu marido dizia abertamente o que representava para o povo? Que consciência pesa sobre si esposa que preserva o nome de uma pessoa que aos olhos do povo era são a conviver e fazer negócios com quem o seu marido não aceitaria fazer. Para Samora vale mais o povo do que o dinheiro e para si vale mais dinheiro do que o Povo. Me responda.
Sabem senhoras e senhores
libertadores a escritora e poetiza Noémia de Sousa já dizia que a Africa é
mítica.
Sabem porquê? Por causa dos
seus mistérios em todas as suas dimensões . Kadafi domou o seu povo, era o mais
rico que tinha até uma pistola de ouro os seus cidadãos até tinham casas, comida,
enfim o básico, mas como morreu? Porque o povo não tinha liberdades que
nasceram com eles os direitos fundamentais, pois a liberdade de pensamento, de
manifestação e de reunião é extremamente fundamental para que o individuo viva
em paz sem falar por dentro que um dia explode e a explosão, regra geral, mata.
O povo na sua maioria tem
saudades de Mondlane que não o conheceu só vocês o conheceram e conheceram os
seus feitos; o povo na sua maioria tem saudades de Samora e o povo na sua quase
totalidade tem saudades de Joaquim Chissano e perguntam de que medo tem de
levar o poder ao Guebuza para pararmos de sofrer. Quem mais terá saudades de
Guebuza? A esperança dos cidadãos até crianças é que depressa chegue Novembro
de 2014 para se ver livre de Guebuza e sua família.
Os críticos vão me crucificar
por esta carta mas eu não vivo para os críticos com interesses, vivo com e para
o povo que sofre. Só me vai sacrificar quem com Guebuza desfruta o sabor da
libertação. Que o digam os madjermanes; os desmobilizados de Guerra; os antigos
combatetes escorraçados das suas habitações; os sofridos médicos e enfermeiros;
os expoliados das suas terras a favor da Vale, Pro-Savana, Petroleiros,
Gaseiros, Chineses e Brasileiros exploradores, sem dó nem piedade.
Os militares entregues a
guerras sem necessidades de novos confrontos, sim essa é herança do Chissano
mas ele sabia gerir, não havia rixas. Quem sabem, ele tivesse, neste momento,
resolvido tal como soube parar com a guerra dos 16 anos. Sim, ele era diplomata
e com calma resolvia os problemas dos cidadãos em momento certo.
Hoje, o espírito do deixa
andar virou “xipoko” de roubar os impostos dos cidadãos, “xipoko” do tráfico de
drogas e armas , “xipoko” da alta criminalidade, “xipoko” da falsidade dos
funcionários públicos. Diariamente só se vê nos jornais funcionários a roubarem
dinheiro do povo para não falar dos barões que sacam os cofres do estado para se
tornarem ricos de Moçambique a partir do nada.
Acredito que o povo pobre e os
cidadãos ricos e honestos vão apoiar esta minha inquietação.
QUEM FOI, QUEM É, O QUE
PRETENDE E ONDE QUER CHEGAR O CIDADÃO ARMANDO EMILIO GUEBUZA? Respondam-me
senhores libertadores da terra e, vamos friamente analisar a sua governação.
Caso seja possível ele interiorizar e corrigir a sua forma de actuação,
gostaria de lhe ver a sair do poder pela porta da frente e deixar saudades
neste um ano que lhe falta.Desde a Constituiçao de 1990 até a de 2004 que gozo da liberdade de expressão e de pensamento e, é por isso que escrevo e continuarei a escrever como uma cidadã deste país e não em representação de nenhum grupo ou agenda.
Esperando continuar com vida
após esta indignação, despeço-me com a promessa de voltar.
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