"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 3 de abril de 2012

“Os principais responsáveis da crise da educação são os fazedores das políticas educativas”(1)


Aponta o “Barómetro da Educação Básica em Moçambique”.
Esta é a conclusão principal dos autores deste estudo, que estendem as responsabilidades às principais agências de Educação a operarem em Moçambique desde a década 80, que contribuem ou intervêm sobremaneira na formatação das políticas educativas nacionais”.
O Instituto de Investigação Social e Educacional, ISOED, procedeu, há dias, à apresentação pública de um estudo-piloto sobre a qualidade da educação no país, denominado “Barómetro da Educação Básica em Moçambique”. Os autores do mesmo, José Castiano, Severino Ngoenha e Manuel Guro, todos professores universitários, propõem uma mudança na forma como se pensa a educação no nosso país, sobretudo na questão ligada à qualidade de ensino. Como diz José Castiano, “o debate sobre qualidade de ensino está poluído” na medida em “que se limita a equacionar estatísticas”. São quatro os pilares propostos para se melhorarem as competências educativas, nomeadamente: “o saber saber”, que diz respeito à aquisição de competências pessoais, tais como a capacidade de ler, de escrever, de analisar, de interpretar, de criticar, de desenvolver a abstacção, de reconhecer e estar aberto a novas formas de conhecimento.
O segundo pilar é o do “saber fazer”, que consiste na aprendizagem de habilidades e capacidades profissionais, nomeadamente: aprender a gerir coisas e relações nas suas diversas dimensões, aprender a elaborar e implentar projectos que concebe e, mais importante ainda, a reconhecer oportunidades de desenvolver a profissão e o seu sector de trabalho.
O terceiro pilar tem que ver com “o saber viver juntos”. Está relacionado com competências inter-pessoais ou societais de índole axiológica. Trata-se da aprendizagem de competências para viver na diferença (responsabilidade), viver em grupo (solidariedade) e saber comunicar-se e defender os seus pontos de vista (argumentação). Na verdade, trata-se aqui de desenvolver na criança e no adolescente os pressupostos básicos para o exercícios de uma cidadania activa.
O último pilar é “o saber ser”. Refere-se a uma dimensão individual e compreende a formação da personalidade e a interiorização das identidades cruzadas de “ser moçambicano”, “ser africano” e “ser um cidadão global”. Aqui incluem-se também elementos de análise como sendo a “auto-estima, auto-confiança, a auto-determinação e a compreensão de si mesmo”.
Nesta edição,  vamos  cingir-nos no primeiro pilar que tem que ver com a aquisição de competências individuais.
Diz o estudo que dos trabalhos de campo realizados resultaram em grande evidência um “déficit grave” na capacidade das escolas transmitirem este substracto indispensável “aprender a saber”.
Refere o estudo que, de forma unânime, alunos, encarregados de educação e professores “concordam com a fraqueza actual da escola no campo do domínio do saber na dimensão cognitiva, por parte dos alunos. Em termos comparativos, ela resulta menos boa que a escola do passado, não somente do tempo colonial, mas paradoxalmente até em relação à escola moçambicana logo depois da independência”. 
O estudo diz que resulta também das entrevistas que “as políticas movediças do sistema de educação não tem contribuído (ou então não têm tido os resultados esperados) em termos da melhoria do sistema de educação. Isto quer dizer que um dos principais responsáveis daquilo que resulta ser uma verdadeira crise da educação são os fazedores das políticas de educação. Por isso mesmo, os autores sugerem que esta crise deve ser direccionada aos fazedores das políticas nacionais de educação, mas ela também deve ser extensiva às principais agências de educação que operam em Moçambique desde a década 80, que contribuem ou intervêm sobremaneira na formatação das políticas educativas nacionais”.
Qualidade de ensino
No que se refere à qualidade de ensino, o estudo diz que o primeiro elemento de crítica é a fraca capacidade de o sistema nacional de educação em formar professores com necessária competência. “Parece existir uma discrepância entre as políticas traçadas e a sua implementação a nível das escolas. Mas, por outro lado, parece que o professor, por razões de tempo e baixos salários, de interesse e de vocação, não está à altura de realizar cabalmente a sua missão. Isto resulta num grave problema para todo o sistema nacional de educação, pois a fraca preparação a nível de base acarreta consequências para todo o sistema de educação (secundário e universitário) e mesmo a nível do sistema de profissionalização (saber fazer)”.

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