O comandante geral da PRM, Jorge Khálau, disse, semana finda, em declarações ao semanário Canal de Moçambique, que alguns dos sequestros, cujas vítimas não os participam às autoridades policiais, podem não ser verdadeiros, e que alguns dos empresários alegadamente raptados podem estar a usar este subterfúgio para traficar valores monetários para fora de Moçambique.
A saga de sequestros continua! Mais uma pessoa de origem asiática foi, esta quarta-feira, raptada. De acordo com o comunicado do Comando Geral da PRM, o sequestro aconteceu por volta das 20h45, na avenida Mao Tsé Tung, na esquina com a avenida Amílcar Cabral, quando a cidadã em causa viajava numa viatura, na companhia do seu esposo. De acordo com a descrição da polícia, os sequestradores, que iam numa outra viatura, simularam um acidente, embatendo na parte traseira da viatura em que viajava o casal.
No processo de abordagem pelo condutor da viatura que sofreu o embate, terão saído quatro indivíduos, que forçaram o desembarque da sua esposa para a viatura dos sequestradores, pondo-se de seguida em fuga.
Ao que “O País” apurou, trata-se da sogra do um proeminente empresário de origem asiática, dono do grupo Africom.
Perfil dos sequestrados
Desde que os sequestros iniciaram, na cidade de Maputo, há sensivelmente cinco meses, o modus operandi dos sequestradores é quase o mesmo: sequestros de empresários de origem asiática com sinais exteriores de prosperidade ou seus familiares directos. Depois, ligar horas mais tarde à família exigindo o pagamento de resgate. Os valores rondam entre 500 mil e dois milhões de dólares. Em todos os casos, os sequestradores advertem os familiares das vítimas para não entrarem em contacto com a polícia, sob pena das vítimas nunca mais voltarem ao convívio familiar. Em todos os casos de sequestro até aqui tornados públicos, o nosso jornal sabe que, para a libertação das vítimas, houve pagamento de resgate. Mesmo no caso dos dois empresários da mesma família que foram soltos na última quarta-feira, isto é, depois da transferência de Nini Satar e Vicente Ramaya -tidos como principais cabecilhas dos sequestros - da BO para as celas do comando da PRM da cidade, houve pagamento de resgate.
Khálau desvaloriza sequestros
Naquela que foi a sua posição pública sobre o assunto, o comandante geral da PRM, Jorge Khálau, disse, semana finda, em declarações ao semanário Canal de Moçambique, que alguns dos sequestros, cujas vítimas não os participam às autoridades policiais, podem não ser verdadeiros, e que alguns dos empresários alegadamente raptados podem estar a usar este subterfúgio para traficar valores monetários para fora de Moçambique.
Jorge Khálau interroga-se das razões que levam empresários a guardarem, nas suas casas, elevadas quantias de dinheiro, em vez de usarem as instituições bancárias para o efeito.
As declarações de Khálau indignaram a comunidade moçambicana de origem asiática, que depois escreveu uma carta, enviada aos órgãos de comunicação social, onde, para além do repúdio às declarações de Khálau, se suspeitava do envolvimento da polícia com os sequestradores.
Diz a carta, numa das suas passagens, que “a comunidade asiática tem vindo, nos últimos tempos, a sofrer raptos por quadrilhas supostamente organizadas e de certa forma protegidas, onde se pode suspeitar a protecção policial de alto nível, bem como de pessoas poderosas, pois não percebe o enorme silêncio em volta destes acontecimentos”.
Mais: numa conferência de imprensa, o porta-voz do comando geral da PRM, Pedro Cossa, descartava supostos ajustes de contas protagonizados por comerciantes moçambicanos de origem asiática. Dizia, Khálau, que este tipo de crime (sequestros) não era típico de moçambicanos, mas sim de pessoas estrangeiras.
“Não estão a tomar conta do recado”
Apesar das chefias policiais estarem a desdobrar em declarações públicas para transmitir uma imagem de estarem a controlar a situação dos sequestros, o facto é que nada de concreto foi apresentado. Aliás, ontem, durante o jornal da noite da Stv, o ex-director da Polícia de Investigação Criminal (PIC), António Frangoulis, disse que as chefias policiais devem concentrar-se mais na investigação e não na retórica, e disse que está visível a incapacidade da polícia em fazer face a este novo fenómeno criminal.
“Não quero dizer que a polícia não esteja preparada, mas não está a 100%. Este fenómeno começou no ano passado, mas não se agiu, ou fez-se ouvidos de mercador. Veja que não está constituída uma brigada ou gente preparada para lidar com estas situações. A verdade é que a polícia não tem tomado conta do recado”, disse Frangoulis.
A propósito da incapacidade da Polícia de Investigação Criminal em fazer face a este tipo de crime, o próprio procurador-geral da República, Augusto Paulino, reconhecera, no seu último informe, que a PIC estava morribunda. “Sem uma PIC competente, eficaz e cientificamente preparada, de nada vale o dinamismo que se consegue em todas as áreas da administração da Justiça”, sublinhou Augusto Paulino
Na verdade, vários sectores de opinião têm vindo a defender a transformação urgente da PIC numa polícia judiciária subordinada ao Ministério Público. Infelizmente, o forte lobbie dos generais da polícia tem dificultado estes avanços.
Sem comentários:
Enviar um comentário