(2012-02-07) É um caso insólito que mostra como a massa crítica neste país está “acorrentada” ao partido no poder, a Frelimo.
Na tarde de domingo, telefonámos ao Professor Doutor, historiador alemão e docente universitário na UEM, Gerhard Liesegang, para lhe solicitar uma entrevista sobre os “50 anos da FRELIMO”. O docente recusou-se a conceder-nos a entrevista com uma justificação inédita: “Não quero falar do meu patrão que me dá emprego”, disse o historiador.
Gerhard Julius Liesegang, com grau de PhD, é Professor Auxiliar associado ao Departamento de História da UEM. Está em Moçambique desde a década de 1970. Para além de diversas publicações científicas, tem aparecido na Imprensa a partilhar a sua opinião sobre diversos factos históricos do país. Foi nesta perspectiva que o contactámos para lhe pedirmos a sua opinião acerca dos epopeicos “50 anos da FRELIMO”, cuja celebração está previsto que dure todo este ano e se iniciou na passada sexta-feira, dia três de Fevereiro.
Queríamos saber, na essência, se os 50 anos em celebração são do Partido Frelimo fundando em 1977, com orientação marxisista-leninista, ou da FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique – o movimento histórico fundado em 1962 para lutar contra a dominação colonial. A análise de um historiador e particularmente de quem conheceu as coisas por dentro, achamos interessante trazer aos nossos leitores, longe de imaginarmos a resposta que iríamos receber deste intelectual.
Liesegang mostrou-se indisponível a abordar o assunto. Primeiro alegou que seria “melhor procurar um historiador da Frelimo para falar do assunto”. Insistimos que precisávamos de uma opinião independente e não de alguém ligado directamente a um partido político e acreditávamos que pelo conhecimento histórico que carrega ele poderia ser a pessoa certa. Foi daí que veio a curiosa resposta final.
“Não posso falar do meu patrão. Falar dos 50 anos da Frelimo estaria a dar opinião sobre o meu patrão que me dá emprego. Não posso discordar com o que eles (da Frelimo) dizem”, disse o professor de História, na Universidade Eduardo Mondlane.
Explicámos ao docente que ele é funcionário da universidade pública e não do partido Frelimo, mas Liesegang insistiu fundamentando que não se sente à vontade para emitir opinião discordante da Frelimo: “As ligações (entre a Frelimo e a UEM) são tão fortes que não há diferença entre uma e outra instituição”, disse.
Posto isso, nada mais nos restava senão agradecer a disponibilidade que teve para nos atender e a sua franqueza em esclarecer por que razão não pode emitir opinião contrária à da Frelimo.
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