O major Madebe foi eleito, no último sábado, presidente da Comissão dos Moradores do bairro militar. Tem a responsabilidade de escrever uma carta a ser enviada a todos os órgãos de soberania, na qual os combatentes da luta de libertação nacional não aceitam deixar o bairro militar por considerar que “nenhum povo pode dar-se ao luxo de matar a sua história”
Os moradores da zona militar recusam-se a abandonar o bairro para dar lugar ao projecto de requalificação anunciado pelo Ministério da Defesa. Os mesmos dizem que as casas são suas por direito e entendem que, nos bairros onde serão reassentados, estarão longe de tudo. Por outro lado, alegam razões históricas para não abandonar o emblemático bairro militar. Dizem que o bairro é o testemunho vivo da independência nacional. Viver naquelas casas, que eram reservadas aos colonos, tem para estes combatentes um significado e sabor especial. Em suma: o bairro militar é um espólio da luta pela independência nacional!
Os moradores da zona militar dizem que esta é a segunda vez que o Governo anuncia a transferência das famílias. No primeiro caso, enfrentaram o Ministério da Defesa até este desistir da ideia. Hoje, prometem fazer o mesmo e não baixar os braços até ao fim.
No último sábado, a Comissão dos Moradores convocou uma reunião no bairro com o objectivo de dar a conhecer aos residentes os resultados da reunião com o ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyusi. Na ocasião, o representante da Comissão dos Moradores foi vaiado, acusado de ser traidor e, por fim,...destituído!
Foi eleito o major...Madebe! Sim, aquele que apareceu no programa “50 anos da Frelimo” da Stv a afirmar que a “sua” Frelimo tinha mudado e que o futuro da mesma “passava por 10 a 15 anos na oposição”!
Os moradores acusam a Comissão destituída de se ter deixado enganar pelo Governo ao comprometer-se mobilizar todos os combatentes para abandonarem o bairro militar e passar a viver em novas casas que serão erguidas no bairro Zimpeto.
“MATAR A HISTÓRIA”
O major Henrique Madebe diz que os moradores farão tudo quanto for possível para garantir que não saiam da zona militar. “Nenhum país do mundo é capaz de matar a sua própria história. Essas casas são um monumento histórico. São um direito para todos os combatentes. Não vamos sair daqui... e nem pensar”, vincou Madebe, secundado por Alberto Pontes, também antigo combatente que vive na zona militar há mais de 25 anos.
Pontes diz que não tem dúvidas de que o Governo não tem capacidade de fazer casas idênticas às da zona militar, sob ponto de vista de qualidade.
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