"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sábado, 2 de julho de 2011

1. Tagarelas e incompetentes

Maputo (Canalmoz) – O Presidente da República, em mais uma sessão de “Presidência Aberta”, agora também chamada de “Inclusiva”, voltou no inicio desta semana a concentrar o seu discurso nos críticos da sua governação. Guebuza já havia chamado àqueles que têm ideias contrárias às suas, de “Apóstolos de Desgraça”, e se cansou de os acusar de estarem “sentados sobre o muro da preguiça” ou mesmo de cumprirem “agendas externas”. Esta semana não perdeu a oportunidade, em Tete, de atribuir-lhes mais uns cognomes: “Tagarelas” e “detractores”.
Fomos ao dicionário da Língua Portuguesa ver o que quer dizer “tagarela” e encontrámos: “falador, palrador, linguareiro”. Em suma, aquele que fala muito e pouco faz.
Nada melhor podíamos ter encontrado para percebermos que Guebuza anda mesmo distraído.
Aos que estão cientes de que ele é um presidente que noutros países já teria vergonha de continuar no cargo, chama-lhes precisamente o que cabe que nem uma luva aos que o rodeiam.
Não vê que os seus ministros, que ele próprio nomeou, ao longo dos anos vêm tagarelando, prometendo o que nunca executam?
Não vê que o sonho da ‘Revolução Verde’ é um fiasco?
Não percebe que a conversa do biocombustível produzido a partir de Jetropha até já faz fugir do gabinete um administrador, de um dos distritos de Niassa, a quem um agricultor, que se deixou levar na treta dos grandes visionários, todos os dias procura para saber o que vai fazer com o que produziu?
Não compreende que, quem criou a força policial BAC – Brigada Anti-Crime (lembram-se?) dizendo-nos que iriam acabar com o crime em motorizadas mas quase todos seus elementos acabaram mortos, não passa de um tagarela?
Não vê que o combate à pobreza, pelo que se percebe dos dados do Instituto Nacional de Estatística, não passa de tagarelice quando se comprova que hoje há mais pobres em Moçambique do que em 2003?
E que dizer da “cesta básica” que ia ser e agora acaba de ser abortada?
O Senhor Presidente não se apercebe do cesto que básicos que instalou à sua volta e está a empurrar o país para o abismo?
São umas atrás das outras as promessas não cumpridas…
Um “tagarela” é uma pessoa que fala muito e pouco acerta.
Quem falou muito e não acertou uma?
Será que o Senhor Armando Guebuza perdeu já tantas faculdades que não consegue perceber que ele e o seu governo não acertam uma?
Será possível os moçambicanos continuarem a acreditar em mais algum projecto deste governo?
Só apenas uma elite restrita de dirigentes e apaniguados da ala dos confrades pode continuar a fazer de conta que o País está no bom caminho.
Quem já viu todas as fífias do governo, desde que o presidente deixou de ser Joaquim Chissano, logo também ele apelidado de “deixa andar”, só se for curto de cabeça pode acreditar que soprando no apito se consegue fazer aproximarem-se os anjinhos do céu.
Posto isto e visto quem são os verdadeiros tagarelas deste nosso belo Moçambique, de facto temos de concordar com o Senhor Presidente da República. Ele tem razão ao dedicar o seu discurso aos tagarelas…
São tagarelas aqueles que prometeram revolução verde que até hoje ainda não se efectivou.
São tagarelas aqueles que prometeram combater a criminalidade e hoje a situação está como está.
São tagarelas aqueles que prometeram fomentar o cultivo de jatropha para a produção de biocombustíveis. Hoje continuamos a depender do petróleo do médio oriente e do Norte da África e não há melhor nome que se lhes possa dar.
São tagarelas aqueles que ainda mais recentemente, com pompa e circunstância, prometeram a ‘cesta básica’ aos carenciados e hoje vem anunciar que já não vai haver mais nada para ninguém. Será justo andar a prometer coisas às pessoas, criar nelas perspectivas de virem a receber algo para matar a miséria a que estão sujeitas e depois anunciar que já não vai haver ajuda para ninguém? Isto não é atentar a miséria?
Quem diz que vai acabar com a pobreza e depois não consegue cumprir com nada e acaba dizendo que cada um se deve desenrascar e tratar da sua própria pobreza, tem de cuidar melhor do seu discurso, para não ser também visto como um tagarela.
Terá faltado ainda ao Senhor Armando Guebuza acrescentar que para além de tagarelas, à sua volta está também cheio de incompetentes? Era chocar demasiado os “patos”? Talvez! Há “patos” para tudo!...

2. Bom juiz ou procurador acaba no cemitério

Enquanto o Chefe do Estado denunciava pelas bandas de Tete os tagarelas que o rodeiam, em Maputo, o Procurador Geral da República, Dr. Augusto Paulino, confessava, a falar na Academia da Policia, que ser bom Juiz, Procurador ou Polícia, “pode custar caro”.
“Juízes ou procuradores activos no exercício das suas funções têm três destinos díspares: ou acabam na Política, o que é um mal menor, mas um mal; ou acabam se aliando ao crime organizado, o que é pior; ou acabam no cemitério, o que é péssimo”, disse sem margem para grandes dúvidas o Procurador Geral da República ao auditório de Estudantes da Academia de Ciências Policiais (ACIPOL) de Maputo. Estaria ele apenas a “tagarelar”?
As palavras de Augusto Paulino podem ter muitas leituras. As palavras tem dessas coisas… Mas da mensagem do Procurador Geral da República não é difícil entender que ele estava a querer dizer aos alunos da ACIPOL que o Estado está capturado pelo crime organizado.
E ao se admirar com tantos prédios num país que tem um governo que até se preocupa com “cestas básicas” – tal a fome que por ai vai – só deixa crer que ele próprio sabe bem onde nos meteu este governo.
Quando o Procurador Geral da República admite que os criminosos estão mais preparados do que o Estado, e em vez de andar preocupado com soluções de indiscutível urgência o chefe de Estado anda preocupado com os “tagarelas”, o que podemos imaginar se começarmos a pensar em cumplicidades?
O mais alto guardião da legalidade, Dr. Augusto Paulino, disse e assumiu que o crime organizado impera em Moçambique. Disse e assume que há tráfico de seres humanos em Moçambique – embora nunca tenhamos assistido a um julgamento e condenação. Disse que há lavagem de capitais no sector imobiliário, embora nunca tenha sido julgado um caso do género. Disse que há tráfico de drogas em Moçambique, embora todos os casos despoletados ainda não tenham conhecido desfecho.
Pobres tagarelas!... (Canalmoz / Canal de Moçambique)


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