"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 27 de julho de 2020

Cenário da Ilha de Moçambique na obra “Os Vivos e os Outros”

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*Romance de Agualusa tem inspirações bíblicas, revela escritor angolano Agualusa
O escritor angolano José Eduardo Agualu­sa escolheu a Ilha de Moçambique, na provín­cia de Nampula, a primeira capital de Moçam­bique, como cenário do seu novo romance “Os Vivos e os Outros”, que, segundo reve­lou à agência Lusa, tem como impulso central a primeira frase da Bíblia, “No princípio era o verbo”.
A Lusa assinala que Agualusa regressa aos títulos com história sobre o fim do mun­do, tendo afirmado que o que fez foi “levar essa frase a sério” “imaginar um fim do mundo, e a possibilidade do seu recomeço através da palavra”.
“É a palavra quem cria a realidade. Quem inventa uma história, inventa um mundo. Não existe verdadeira ficção, na medida em que toda a ficção impõe uma realidade”, afirmou o escritor.
Neste novo título, José Eduardo Agualusa recupera a sua personagem Daniel Benchi­mol, que surgiu pela primeira vez em “Teoria Geral do Esquecimento” e voltou em “A So­ciedade dos Sonhadores Involuntários”, enquanto narrador.
Este livro termina com Daniel, ao lado da sua companheira, Moira, a instalar-se na Ilha de Moçambique, precisamente o cenário des­te novo romance, onde decorre um encontro de escritores.
“Neste romance, Daniel reaparece na ilha, com Moira grávida de nove meses. Gosto do personagem, mas creio que não voltará a aparecer em mais nenhum outro romance. Quem ler o livro até ao fim perce­berá porquê”, disse à Lusa.
Referindo-se à personagem e à sua liga­ção consigo declarou: “Talvez um outro eu, numa versão um tanto anedótica”.
Sobre o facto de o romance ter como ce­nário a Ilha de Moçambique, Agualusa explica que o local lhe pareceu “um cenário perfei­to para o romance que tinha em vista uma história sobre isolamento, sobre o fim e a recriação de mundos e, em particular, sobre a palavra enquanto instrumento para a cons­trução da realidade”.
No livro, o autor usa uma certa ironia em de­terminadas cenas e situações: “O livro inteiro é uma ficção satírica, como é, por exemplo ‘O Vendedor de Passados’, mas creio que também há nele alguma poesia. O que me move é tanto a revolta quanto à poesia”.
José Eduardo Agualusa nasceu há 59 anos, na cidade do Huambo, e é autor de mais de 20 títulos desde “A Conjura”, a sua estreia literária em 1989.
Recebeu já diferentes galardões literários, entre eles, o Grande Prémio de Literatura RTP,
por “Nação Crioula”, e ainda o Grande Pré­mio do Conto da Asso­ciação Portuguesa de Escritores e o Grande Prémio de Literatura para Crianças da Fun­dação Gulbenkian.
O romance “Ven­dedor de Passados” valeu-lhe o Indepen­dent Foreign Fiction Prize, em 2004, e com “Teoria Geral do Esquecimento” foi fi­nalista do Man Booker International em 2016 e venceu o International Dublin Literaty Award no ano seguinte.
No ano passado, José Eduardo Agualusa foi distinguido em Angola com o Prémio Na­cional de Cultura e Artes, na área da literatura, pelo seu contributo para a projecção da litera­tura angolana no mundo, graças a um “ex­tenso e vital percurso criativo” assente na investigação, na memória histórica, na actualidade, no questionamento, na refle­xão e no sentido estético que compõem as suas obras literárias.
DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE – 24.07.2020

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