Como se operou a fraude nas eleições passadas?
Canal de Opinião por Adelino Timóteo
A fraude ocorreu maioritariamente nas zonas do interior do país, com a cumplicidade de alguns observadores comprometidos com a ilegalidade eleitoral. Assim, muitos dos observadores que nem sequer se fizeram ao terreno recebiam números maquinados, de interpostas pessoas, tidas como antenas, nos distritos, localidades ou postos administrativos. Era a informação processada de forma centralizada pelas organizações de observadores e ditas sociedades civis. Parte desta informação era partilhada com o partido no poder, por forma a que os números coincidissem. O partido no poder conta com o sistema de rádio nas sedes distritais, daí, com o sistema de partilha prévia, era possível corrigir a contagem onde ela fosse desfavorável. E por aí fora, emprenhado por esse sistema de vasos comunicantes, urdidos por “gangster e mafiosos”, a Rádio estatal foi bombardeando os ouvintes com números alucinantes, a favor do candidato eleito.
Alguns dos observadores com que falámos, com o peso de consciência em relação à crise eleitoral instalada, disseram-nos que, quando foi do processo de recrutamento para a observação, se entusiasmaram, mas qual não foi o seu espanto quando as cúpulas das organizações que os recrutaram os informaram que o trabalho era mínimo, e que, apesar de afectos em Caia, Chemba, Ilé ou Mocuba, não careciam de deslocação às bases, porque, estando na Beira, iriam receber mensagens nos seus telemóveis, após o que deveriam encaminhá-las para o centro de operações, em Maputo.
Uma das nossas fontes disse-nos ter ficado indignada pela forma como lhe impuseram o procedimento, mas, pese embora ter participado nesta trama que beneficiou um dos partidos e candidatos, nunca recebeu o dinheiro, ou seja, o devido honorário pelos bons serviços prestados. A situação afecta igualmente a outros colegas.
A fonte explicou-nos que, com o sistema montado, os membros dos organismos que gerem o processo eleitoral ao nível do Estado ficaram com a última tarefa, que era adulterar os editais, e, nalguns casos, procederem à troca de urnas, para garantirem a vitória, e, desde logo, disporem de material que confirme não a fraude, mas a vitória de quem urdiu a trama toda.
Agora que o Conselho Constitucional requisitou os editais, a expectativa corrente é de que algo possa vir a alterar-se, mas as nossas fontes garantem que a burla já está feita. Se o CC quisesse invalidar os resultados, não teria rejeitado liminarmente o recurso do MDM e da Renamo.
Segundo a fonte, o CC pretende com esse mero exercício burocrático salvaguardar o “bom nome” do partido que engendrou a fraude desde o momento da fabricação de boletins de votos e distribuição dos mesmos, que se sabe esteve a cargo de uma empresa tipográfica do PR, a Académica, gerida por um influente testa-de-ferro membro da Frelimo.
Conta a fonte que os membros das assembleias de voto em representação dos partidos de oposição não assinaram as actas nos locais onde ocorreu violência protagonizada pela Polícia e nas zonas onde a sua presença foi nula por causa do sistema burocrático que lhes foi imposto, à última hora, para garantir o esquema que havia sido previamente montado.
Entretanto, segundo a mesma fonte, a única saída para o CC salvar o Estado de Direito e a legalidade constitucional seria anular as eleições, nos pontos onde ocorreu a fraude, em proporções surreais, como resultados acima de cem por cento.
Anulando os vícios insanáveis, abrir-se-ia lugar para a disputa de uma segunda volta, pois é verdade que nem o partido no poder nem o seu candidato venceram legalmente a primeira volta. “É uma coisa que o CC não creio que irá fazer, por ser dominado pelo partido que engendrou todo o maquiavelismo”, rematou a fonte que temos vindo a citar, que nos afiançou que o partido no poder conta com profissionais para esse tipo de operação criminosa infiltrados em organismos eleitorais tidos como prestigiados e financiados pela comunidade internacional. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 16.12.2014
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