"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


 

“O colono apenas mudou de raça! Os colonos brancos também diziam que queriam combater a pobreza absoluta.” Erick Charas

“É sentimento geral de que há necessidade de nos libertarmos dos nossos libertadores. Estão há muito tempo no poder e não representam a ninguém”— Erick Charas

“A Frelimo, com aqueles que a estão a liderar hoje já caducou” – Erick Charas

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Maputo (Canalmoz) – Num País onde os que pensam diferente e dizem o que lhes vai na alma recebem, regra geral, adjectivos pouco simpáticos – embora alguns delirem com isso – não sabemos qual será o adjectivo que será atribuído ao entrevistado do Canalmoz – Diário Digital e Canal de Moçambique – Semanário Impresso, depois da presente entrevista. A nós cabe dizer que se chama Erick Charas, é patrão do grupo Charas, proprietário do único jornal impresso e de distribuição gratuita em Moçambique. A certa altura da entrevista diz ser membro do partido Frelimo. Diz ter ambiciosos projectos sociais destacando-se o “Casa Jovem”, na cidade de Maputo, de 120 milhões de dólares (construção de 26 prédios) que visa criar habitação para a juventude a preços bonificados.
Usámos seus projectos como pretexto para o entrevistar e acabámos por falar de assuntos polémicos como aquilo a que chamou de “necessidade de os jovens se revoltarem perante a falta de oportunidades e pobreza”.
Charas dá respostas longas e pelo meio faz perguntas ao entrevistador. Ou seja, quer ser ele o jornalista no meio da entrevista. Em certos casos tivemos que o interromper para lhe colocarmos as nossas questões. Disse durante a entrevista que “o País está a ser Governado por pessoas com ideias velhas” e, na sua opinião, “é por isso que continuamos pobres”. Disse-nos que ficou muito feliz com o que aconteceu em certos países quando viu movimentos de libertação que se achavam donos das pessoas a serem derrubados por jovens. Aliás disse que as manifestações de 01 e 02 de Setembro, em Maputo e algumas cidades do País, foram um grande aviso de que os jovens podem tomar o poder a qualquer altura e mudar a história.
“É sentimento geral de que há necessidade de nos libertarmos dos nossos libertadores. Estão há muito tempo no poder e não representam a ninguém”, disse Charas a certa altura.
Para deixar as conclusões ao critério do leitor optámos por publicar a entrevista no clássico pergunta-resposta.

Siga a entrevista que não perderá o seu tempo:

Canalmoz/ Canal de Moçambique (Canal): Quando foi criado o Jornal “A Verdade”, houve muito cepticismo em relação ao projecto, principalmente em relação ao título gratuito. Porquê um jornal gratuito? Qual é o móbil do jornal?

Erick Charas (Erick): O jornal A verdade é gratuito fundamentalmente, porque surgiu depois de ter sido feito um estudo, um plano de negócios e traçados os respectivos objectivos. Surgiu como melhor alternativa e opção para levar a informação ao povo. Depois dos estudos e pesquisas que fizemos tinha-se chegado à conclusão de que se a intenção é massificar o acesso à informação, há que tomar em consideração aquilo que o povo tem. Não estamos a falar de um grupo de privilegiados que tem capacidade. Estamos a falar da maioria que pode parecer que tem dinheiro para gastar, mas tem milhares de opções para gastar o seu dinheiro. Portanto a ideia fundamental foi observar esse respeito de direito que o povo tem de estar informado. Pensamos que a informação é um direito para nós nos constituirmos como cidadãos.

Canal: Há jornais que devido à sua génese em termos de proveniência de fundos tinham que ter a tarefa do jornal A verdade: advogar a informação junto do povo.

Erick: Olha, o jornal Notícias é considerado jornal do Estado, mas é um jornal privado. Mas os accionistas deixam muito a desejar porque tem o Banco de Moçambique. E tu vais dizer que o Banco de Moçambique é o meu banco institucional. Como é que o accionista de um jornal que é meu concorrente é o banco central? Nalgum momento a coisa não fica bem. Mas o pior de tudo é que mesmo depois disso, de sabermos que é um jornal privilegiado com fundos indirectos do Estado, e é para lá onde o Estado sem concurso manda os seus anúncios, com isso tudo, esse jornal é que tinha a obrigação de pensar todos os dias como vai chegar mais ao povo. Mas o jornal que tem a maior ligação com o Estado não pensa nisso e faz uma ninharia de cópias. Faz um esforço mínimo para replicar a sua ligação com o Estado em termos de informação e alcance.

Canal: Por falar em jornal Notícias que no nosso caso é considerado jornal do Estado embora seja de uma SARL… Primeiro pelos próprios administradores da máquina Estado e depois na esfera pública em geral, há uma percepção deturpada em relação ao anúncio e principalmente ao anúncio do Estado, publicidade do Estado. Como olha para esta questão?

Erick: (Risos) … Olha, eu vou usar uma palavra para classificar isso e eu não sei como depois vais usar. Eu acho que é um processo pornográfico. Três anos depois de estar na imprensa e é preciso ver, eu não sou jornalista, não fiz formação em jornalismo, Nunca escrevi e nunca escrevi matéria jornalística –  pergunte aqui no jornal, nunca escrevi nenhum texto para o jornal – a estou agora a lutar há semanas para ver se escrevo o meu primeiro texto para o jornal (risos)… especificamente para o leitor. Então eu não sabia nada o que era isso de imprensa. A única conclusão a que eu tinha chegado é que se achava que a informação era deficitária. Repara que não estou a falar da qualidade de informação, estou a falar do alcance, onde esta informação chega. Depois de analisar chego à conclusão de que estamos num mercado que não segue nenhuma regra: implícita ou explícita. Se calhar as coisas vão mudar e começarão a mudar daqui para a frente. Mas, neste momento, o anúncio é usado como, nem diria moeda de troca, mas como uma pistola, como uma arma violenta. Tu tens um anunciante que é uma empresa de telecomunicações que usa o poder de compra do anúncio para determinar e forçar aquele meio para dizer e fazer o que eles querem. E no primeiro dia em que não fazes, ou não te pagam ou deixam de fazer o anúncio. Quer dizer, é tudo pornográfico, e não há nada que regule isso. Tu passas para as agências, que unilateralmente decidem para aonde é que vai o anúncio. Não tem nada a ver com o que lê, para quem é dirigido o anúncio, o público-alvo, ou seja conceitos básicos e fundamentais de marketing. Estou ainda a falar do sector privado. Ainda não cheguei no sector público… As pessoas que determinam isso estão a pensar em anunciar onde vão ganhar mais comissão e não necessariamente onde vai dar resultados. O anúncio é usado como uma forma de repressão. É usado para fazer exactamente aquilo que a lei de imprensa não permite fazer numa sociedade democrática. E no contexto do Estado não é diferente. O Estado usa o poder de compra que tem que é no anúncio das suas informações e concursos públicos, e se fores analisar, porque as contas não são públicas o Estado deve gastar por aí 10 milhões de dólares em anúncios, mas determinam unilateralmente onde vão gastar num único jornal. Não manda para nenhum jornal privado, e não venham dizer que não sabem. Nós neste momento falamos formalmente e informalmente com o Estado. Já se falou com o Banco de Moçambique. Há questões muito implícitas que acabas de ter as empresas privadas até forçadas a anunciar num jornal como o Notícias enquanto as empresas não querem. Mas como o accionista do Notícias é o Banco Central, qualquer banco que tem que publicar o seu relatório de contas tem, é obrigado a pôr no Notícias. Mas como estamos no país em que estamos, optam por passar por cima dos outros. Quando eu levantei estas questões, de várias formas, é sempre respondido “porque o nosso governo é fantástico e tal”, a tentarem descredibilizar o assunto. Dizem que as pessoas é que querem ganhar muito dinheiro. Que é preciso notar que a lei de procurement determina que o anúncio público deve ser feito no jornal de maior tiragem e circulação. Isso pressupõe que tem que haver uma contagem independente. Mas aí tu te perguntas tens um GABINFO, Conselho Superior de Comunicação Social para quê? Tens estes todos órgãos que são tutelados pelo Estado e que não estão nem preocupados se a informação que a gente publica na nota editorial é idónea ou não. Se estas instituições funcionassem iam permitir que as coisas também funcionassem como deve ser. Portanto, logo à partida está tudo definhado. Tu tens o dinheiro que vai para o orçamento de Estado para o procurement. Porque o dinheiro é doado e nós subscrevemos como país, as regras de transparência que apresentamos a eles são as nossas leis de como vamos gastar o dinheiro. A primeira diz que todas as compras serão por concurso público, sendo o concurso público através de anúncio no jornal de maior tiragem e circulação.

Canal: Onde o Governo busca informação sobre circulação dos jornais?

Erick: Ora, o Governo é o primeiro a falhar nisso e ninguém quer saber. O governo decide unilateralmente que o Notícias é o mais lido. Não estou a falar nem que a publicidade tinha de vir para o A Verdade ou qualquer outro jornal. O que eu pretendo é questionar aonde foram buscar esta informação, de que o Notícias é o jornal mais lido? Tu acabas por ter um jornal que pelo benefício desta desorganização e falta de cumprimento da Lei acaba por encontrar a sua sustentabilidade por garantir visibilidade àquele que o deixa comer. Então é óbvio que toda gente considera que o Notícias é o jornal do Estado, um jornal que é obrigatório existir em todas as instituições do Estado. Então vamos perguntar: o Estado subscreve o Notícias? Paga? Porque não subscreve o Canal de Moçambique, o Savana exactamente em todos os jornais. Aí vão te dizer que ah não, nós subscrevemos em alguns sítios. Mas eu te posso garantir que há sítios que subscrevem o Notícias mas são obrigados a não subscrever o Canal de Moçambique. Veja que estamos a falar simplesmente de subscrever. Já que o Estado não está a par das tiragens tinha é que subscrever todos os jornais. Se não tinham que instituir um sistema formal de contagem e auditoria em que no resto do mundo chama-se Bureaux de Auditoria de Circulação. Aí a pessoa que faz o jornal, fica valorizada, o Estado e suas instituições credibilizados.

Canal: O Jornal a Verdade não se interessava com os assuntos que constituía digamos a agenda setting do debate moçambicano, mas ultimamente virou quase que radicalmente de abordagem. Qual é a ideia?

Erick: Eu acho que é uma viragem na percepção e esta é a melhor parte. Em três anos, bem ou mal muita gente lê o jornal A Verdade mais e mais. Da mesma forma que começámos isto a pensar que havia muito cepticismo por aí fora, quando lançámos o projecto, o cepticismo era encaminhado directo a mim. Houve gente que disse que o A verdade não podia durar três meses. Esquecem-se que uma pessoa faz um plano de negócios. Se não durasse é porque o plano de negócio iria falhar, não é? É porque a gente faz coisas sérias neste país. O que acontece é que de repente tinhas muitas pessoas, particularmente aqui na cidade de Maputo que não tinha acesso a informação. Acordou, com muita sorte não choveu e sei lá quantos, ou foi trabalhar ou foi para o dumba-nengue ou foi à procura de emprego, e tinha a informação em conversa com os amigos ou passou pela zona privilegiada onde tinha um aparelho de TV. O ponto é que as pessoas não tinham acesso constante a informação. E nós temos visto regularmente, todas as semanas, as pessoas a correrem atrás do jornal. Em função disso, as pessoas que não liam estão a tornar-se elucidadas. Estão a saber mais, estão a dizer mais. E há os que viram este jornal como social e para pobres. O facto é que nós desconsideramos o pobre neste país. Há quem pense que o pobre não pensa, o pobre não tem acção, o pobre não faz. Mas se esquecem que foi o povo que nos deu a voz. Quando eu digo pobre, me refiro àquele que foi desconsiderado no contexto da informação.
A grande verdade é que o jornal é lido por aquelas pessoas que quero que leiam. Chegamos ao contexto nas redes sociais e foram esses leitores que nos seguiram e nos ligam. Em função disso fez com que as pessoas começassem a ver mais o jornal. E aí começou a vir uma questão de percepção. Se calhar no contexto na abordagem, falo especificamente dos editoriais que definem o posicionamento do jornal, mas é preciso perceber que as coisas são evolutivas. Para eu manter o jornal, é preciso escrever aquilo que o leitor quer ver e saber no jornal. O que nós fizemos por exemplo nas eleições intercalares foi mais visto, porque estamos a ser muito lidos. Mas em termos de cobertura não foi muito diferente do que fizemos nas eleições de 2009 nem nas outras eleições. Se a gente for buscar o histórico, nós fizemos o suplemento de eleições tal como havíamos feito no passado. Desta vez introduzimos coisas novas como a cobertura pelas redes sociais. Mas eu não ia dizer necessariamente que viramos para um contexto mais político. Muito pelo contrário. A admiração continua a ser pelo povo. Se o povo disser que nos quer mais agressivos nós nos tornaremos mais agressivos, porque a nossa força está no povo. Pensamos que já há jornais muito bons na praça que tratam bem os assuntos políticos.


“Os que estão no poder pensam que estão lá como direito vitalício”

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Canal - O debate nacional gira agora em torno de uma alegada marginalização da juventude: pobreza versus oportunidades. Como é que olha para esta questão? A juventude moçambicana tem esperança?

Erick: (Risos) Esperança…qual é? Eu acho que é uma pergunta para a própria juventude, porque se calhar já não sou tão jovem assim. Mas no fundo eu acho… (pausa)… Não queria ser muito drástico. Mas temos que em primeiro lugar acreditar no País. Acontece que nem tudo que está a ser feito no país hoje a gente vai ter o efeito e consequência hoje. E acho que a juventude tem que estar e tem que se preocupar muito com o que vem no futuro. Isso porque não é fundamentalmente no contexto de oportunidades por aquilo que está a surgir por aí fora. Isso surge mais à frente, mas é pelas bases da construção disto hoje que virá o futuro. Estamos a falar de questões que não são tangíveis: moral, valores, ética. O pior está a ser feito hoje em função de acordos mal feitos, em função do que o Governo tem fundamentalmente no seu interesse próprio em primeiro lugar. Estou a falar das pessoas que estão no poder que levam os grandes temas como a juventude para o último ponto da agenda. A juventude está a ser sistematicamente usada como elemento de eleição.
A juventude é usada, ponto de exclamação.

Canal: Como assim?

Erick: A juventude não é parte de um plano. Eu arrisco-me a dizer que a juventude, onde está tem que ter muita esperança em si própria, porque o que está a ser feito não lhe considera muito. Não há, a nível do Governo, nenhum programa credível para a juventude. Não há um programa que seja concebido pensando que isto é para servir a nossa juventude. A juventude está cada vez mais mal formada. No tempo em que a gente andou na escola, não só a qualidade de ensino, que aliás era muito voluntária, era melhor. Eu tive professores que foram forçados a serem professores. Eram pessoas que saíam da nona classe para dar a sétima e davam com vontade e afinco como não acontece hoje. Não estou de jeito algum a desqualificar os professores. Estou a falar que na conjuntura do país que temos hoje: que vontade, que paixão, que motivação tem o professor para ensinar e construir um País, quando ele vê o que a gente vê todos os dias, aquilo que são os nossos governantes? Então é uma pergunta difícil de responder. Mas há factores que tentam levar a dizer que a juventude não pode ter esperança. A juventude tem que sempre acreditar em si: somos o futuro deste país. Mas a juventude deve deixar de pensar que há alguém que está no Governo a tomar conta dos nossos interesses. A juventude que está na escola tem que pensar que daqui a cinco ou sete anos, estas todas oportunidades que estão a aparecer nenhuma delas o vai contratar, porque a qualidade de ensino está muito má. E a culpa não é da juventude. É de quem administra o sistema de ensino. É daquele que determina aquilo de deve ser ensinado. A juventude tem que pensar assim: dizer olha: se eu não vou, o sistema não está a criar emprego para a massa juvenil. O governo sempre vai dizer que vocês são impacientes, mas yah, somos impacientes. É para esperar mais 50 anos? Em cinquenta anos uma pessoa morre. As coisas estão mais difíceis. Quando a gente senta e ouve aqueles relatórios do Banco de Moçambique, não fazemos ideia do que aquilo quer dizer. Subiu 15 porcento, baixou 15 porcento, a realidade continua a ser a mesma, tu continuas a não conseguir comprar tomate. E o preço de tomate não baixa porque vem do Botswana. Tu encontras as alfândegas que estão mais preocupadas em tirar o pouco que compraste na África do Sul de peúgas: até disso querem te tirar os direitos. E a coisa não pára por aí: no tomate, cebola, alho, querem tirar ganhos. Ao invés de ir contra os verdadeiros contrabandistas que temos tantos neste País que trazem televisores com outras coisas lá dentro…
Estas coisas que estão por detrás, a juventude não deixa passar despercebidas. Porque tu tens uma pessoa que senta e olha o mais velho a fazer, é muito provável que seja aquilo que possa vir a fazer quando um dia estiver no Governo. Em termos de esperança de pacote que está a ser montado para a juventude não é grande coisa. Agora a juventude tem que acreditar em si mesma.
A juventude tem que aprender a batalhar pelos seus direitos. É um direito seu que está em causa. A gente não pode ficar de braços cruzados porque o meu voto não vale nada e aquela gente ganha sempre. Yah concordo, mas um dia vai deixar de ganhar sempre e tu podes fazê-los perder sempre. E uma coisa é ganhar com cem porcento e outra coisa é ganhar com 99 porcento, porque aqui, pelo um falou. E a gente está a aprender isso todos os dias do poder da juventude no mundo.


No 1 e 2 de Setembro de 2010
Acima de tudo ficou escrito que nós podemos

Canal: Acontecimentos de 01 e 02 de Setembro de 2010…

Erick: Em Moçambique, por exemplo, há um grupo de gente que desqualifica, a começar pelo Presidente e os outros, o que aconteceu em 1 e 2 de Setembro de 2010 em Maputo. É completamente desqualificado. Mas aquilo aconteceu dois ou três meses antes de o fogo pegar no norte de África. Usamos aqui toda a tecnologia que o mundo usou. Pior: aqueles passos que foram usados pela máquina de repressão cá, foram os mesmos que foram usados nos países do norte de África. Então nós fomos os primeiros a explodir. Infelizmente explodimos sem vitórias. Mas eu digo que ganhou-se e muito: fomos à estrada e ficou recordado. Ficou lá escrito que as pessoas não gostam e não estão a favor da forma como o País está a ser Governado. E acima de tudo ficou escrito que nós podemos. Há quem discuta a forma etc. e tal, mas veja a Tunísia, veja o Egipto, veja tudo o que se está a passar a volta. Veja uma prestigiada revista como a Times declarar que a figura do ano foi o protestante. Tudo isso é obra da juventude. Portanto a esperança para a juventude está na nossa força. Temos que aprender a dizer não, a reclamar pelos nossos direitos e ninguém vai determinar o nosso futuro melhor do que nós.


A pessoas andam insatisfeitas com o nível de Governação que temos hoje

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Canal: Há uma actualização que fez na sua página do Facebook em que dizia que era urgente que os moçambicanos se libertassem dos seus libertadores. A que libertadores se refere? E porquê? Qual seria a via, na sua opinião, para a tal libertação?

Erick: Yah. Isto é uma daquelas coisas que para já não é, e não pode ser atribuída a uma única pessoa. É uma conversa comum e é o sentimento que anda dentro de cada um que desde a independência continua a viver a mesma miséria. A maior parte das pessoas andam insatisfeitas com o nível de Governação que temos hoje. Diz isso. Diz que eu estou a ser gerido hoje pelos que já estão no Governo há trinta anos. Estávamos a falar da juventude há pouco tempo. Tu tens pessoas hoje, que são mais jovens e votam e determinam o futuro do País, que são mais novos em relação ao período em que as mesmas pessoas estão no poder e nada muda. E já falamos aqui 50 vezes que Graça Machel entrou para o Governo com 28 anos. Então nós continuamos a ser governados com ideias velhas. Não é possível quem nos Governa hoje, criar políticas e programas para aquilo que a gente tem hoje como necessidade. As regras que mandam viver de acordo com elas são antigas. Só contextualizar: tu olhas para outros lados e vês que os movimentos de libertação estão a cair. As pessoas não estão a lutar contra Governos que existem há dois ou três anos. As pessoas estão a lutar contra governos velhos com ideias velhas.

Canal: E no nosso caso qual será o móbil do protestante?

Erick: O protestante no mundo está a lutar hoje, contra duas coisas: a primeira é o sistema bancário que nos empobrece e a outra é aqueles que acham que é direito deles estar no poder. As pessoas hoje não sabem que aquele que está no poder, aquele que passa com carros de luxo e gasta como quer o Orçamento do Estado, é um representante meu. A pergunta mais interessante em termos de conversa que estava a ter muito recentemente com um jovem na flor da idade é essa. Ele virou-se e disse-me assim: mas olha lá, porque é que eu tenho de me levantar quando entra o presidente, ministro ou coisa parecida? No fundo no fundo ele é que deve vir até a mim dizer olá como estás? Porque ele trabalha para mim. Fui eu que o elegi.
Não estamos num País de reis. O nosso sistema foi constituído para dizer que aqueles que estão no poder, estão lá como direito deles. Mas não é! Aqueles que estão no poder, estão lá para fazer o melhor que podem para ternos uma vida condigna e não para eles se beneficiarem a eles próprios. E se não o fizerem é nosso direito escolher outro. Agora as falcatruas por trás não é comigo. A frase “temos que nos libertar dos nosso libertadores” quer dizer isso. A opressão colonial já foi com o colono. Acabou! Lutaram e também acabou, não podemos viver do passado. É o que vemos em Moçambique, Zimbabwe, era na Líbia, é na África do Sul. Soa todos brothers. Aqueles que lutaram contra o sistema representam exactamente o sistema contra o qual lutaram. O colono apenas mudou de raça, cor e etnia. A desconsideração pelo povo continua a mesma. O sistema colonial não trabalhava para o povo e tinha o povo como força de trabalho. Vais me dizer que o Governo hoje trabalha para o povo?


Esse partido que nos libertou…
Quem são essas pessoas hoje? É direito deles ficar no poder até morrerem?

Canal: Erick. O que os dirigentes da Frelimo representam para si como membro da Frelimo?

Erick: Até que ponto o sistema em Moçambique quer melhorar a vida povo? Veja o discurso de combate à pobreza. Qualquer sistema colonial podia dizer que também queria combater a pobreza. Portanto temos que analisar o que é hoje esse partido que nos libertou. Quem são essas pessoas hoje? É direito deles ficar no poder até morrerem? Se é que façam por escrito em forma de Lei e todos nós aceitamos. Porque olha, há países no mundo que dizem assim: este país tem Rei e quem sucede o Rei é o filho e depois vem o sobrinho e por aí em diante e ninguém discute. Então vamos dizer também que Moçambique tem donos e quem sucede os donos são os filhos dos donos e por aí fora. Mas que esteja escrito em forma de Lei (risos). Eles têm capacidade para fazer isso!? O parlamento é controlado por eles. Eles podem fazer isso. Ficamos uma espécie de Correia do Norte e a partir daí ninguém vai incomodar nenhum Governante e ficamos todos conformados sem protestos nem manifestantes. O que não podemos fazer é fingir que este País tem alicerces em conceitos democráticos. Porque não é verdade. Olha para uma coisa: tu vês o gás, o carvão a ser extraído. Existe alguma política por detrás disso para o bem comum? Não! Primeiro que tudo está o interesse pessoal desta gente.

Canal: Certa vez, um jornal o chamou ainda que de forma muito camuflada e recorrendo a recursos estilísticos de desencantado com a Frelimo? Erick Charas está desencantado com a Frelimo?

Erick: (Risos)…Para já não conheço esse jornal. Mas olha, isso depende do que é estar desencantado ou até mesmo encantado com a Frelimo. Praticamente se calhar estou a chegar a um ponto de dizer assim: a Frelimo, com aqueles que estão a liderar a ela hoje, já caducou. Precisa de novos líderes. Precisa de novo pensamento. Precisa de ser a representação do povo. É preciso ver que quando a Frelimo foi criada foi como uma representação da vontade de todo um povo de Rovuma ao Maputo, pobres e indigentes. O povo queria libertar-se de um sistema. Hoje a Frelimo representa o quê? Hoje os líderes da Frelimo representam a vontade de o povo sair da pobreza? Quando houve a guerra de libertação, os líderes da Frelimo estavam no mato. Rastejavam com o povo. O povo recebia-lhes na palhota e agradeciam. Hoje os líderes da Frelimo vão à palhota do povo com água mineral. Recusam-se a beber a água do povo. Então, desencantado não é um caso pessoal. Não é desencanto contra a Frelimo. Não. Que fique claro: eu sou membro da Frelimo e quando uma pessoa acredita em algo é em função dos seus ideais. Não estamos aqui a falar de sorvete. É em função daquilo que está escrito na constituição do partido. Agora eu pergunto: aquilo que está escrito na constituição do partido é aquilo que seus actuais líderes advogam? Não sei. Agora um jornal que vem chamar de desencantado, eu na verdade estou desencantado com muita coisa e em primeiro lugar com esse jornal que é um jornal engraxador. Eu até nem li isso. Porque no fundo um jornal não é para andar a engraxar. É para informar as pessoas.


“A nossa polícia está para lutar contra o seu povo”

Canal: Moçambique foi recentemente catalogado com uma classificação pouco simpática: quarto País mais pobre do mundo. Sente-se a viver num País pior que a Guiné Bissau?

Erick: (Risos)…Sabe duma cena? Em termos de catalogação, é um pouco como os Governantes deste País pensam. Pensam assim: ser quarto é melhor que ser último (gargalhadas). Temos feriados até dizer chega. Bebemos e engrossamo-nos até dizer chega. E no fundo no fundo enquanto nos mantemos alegres e espantamos com as nossas tristezas, pensamos que estamos muitíssimo bem. E na mesma condição viemos dizer que os cálculos foram mal feitos. Vieram dizer que não somos o quarto pior país do mundo mas o vigésimo. Mas tudo é mau. E aprendemos que mau é mau. É zero. Não há como minimizar o mau. Eu e infelizmente a maior parte do grupo que nos rodeia somos uns privilegiados, porque nos damos até o luxo de discutir qual é o nosso tipo de mau. Aposto contigo que 90 porcento da população moçambicana no nível de pobreza que vive não se dá se quer ao luxo de pensar que há pessoas que vivem pior do que eles. É a esses que tínhamos de perguntar em que nível é que estamos em termos de pobreza. Esses se calhar não terão dúvidas em te dizer que estamos no nível menos 50.

Canal: Nível menos 50, Charas?

Erick: Isso mesmo. Nível menos 50 de pobreza. Não vamos falar de quarto que até é uma classificação que os poupa.

Canal: Mas o Presidente da República esteve recentemente no parlamento e concluiu que o País está a progredir e que cada moçambicano tem contribuído para tal progresso?

Erick: Não estamos a progredir coisa nenhuma! Sabes, nós os privilegiados não temos o direito de olhar as coisas em sentido comum. Se os nossos governantes gerirem este País sem senso comum e não analisarem concretamente na base de indicadores credíveis; não olharem para a verdadeira realidade do País e chegarem à conclusão que aquele indicador não representa claramente aquela realidade, estamos a fazer zero serviço para este país. Se saíres para aí fora olhar para cada buraco, para cada pessoa sem problemas mentais e que come na lixeira, olhar para cada chapa cheio, para carrinhas transportando pessoas como animais, é nossa obrigação sermos no mínimo verdadeiros. E é preciso termos coragem e humildade suficiente para olharmos para o sofrimento das pessoas e dizer que efectivamente o País não está a crescer. Nós temos potencial para crescer. Estão a ser descobertos jazigos disto e aquilo, mas infelizmente não estamos se quer a traçar políticas claras e transparentes de como aproveitar esses recursos para acabar com a pobreza da maioria dos moçambicanos. Estamos a traçar muito bem políticas de benefício pessoal, principalmente se temos acesso às malhas do poder. E em compensação estamos a ensinar o povo a não contestar porque quando contesta mandamos a Força de Intervenção Rápida (FIR) para dar porrada ao povo. Uma polícia que luta contra o seu povo. Que crescimento é esse? Estamos a falar a verdade ou estamos a mentir? É vergonhoso estarmos num País onde as pessoas continuam a morrer por falta de medicamentos. Mas isso é um processo que passa primeiro pela declaração dos bens dos Governantes. Talvez a resposta esteja aí. Porque os seus filhos estudam fora do País? E quando ficam doentes onde são tratados?  Chefe, eu estudei no ensino público deste País e na altura os filhos dos Governantes estavam aí a estudar comigo, porque os governantes daquela altura acreditavam no sistema de ensino do seu próprio país. Agora é o contrário. É vergonhoso que os filhos dos nossos governantes quando não estudam fora, estão em escolas privadas com sistema estrangeiro: estão na escola portuguesa, americana, francesa e por aí fora. Diz-me se o povo está diferente do que estava aquando da guerra?


Casa Jovem: um projecto social que ao invés de ajuda só recebe barreiras do Governo

Canal: O grupo Charas em parceria com seus aliados lançou um projecto ambicioso denominado casa “Casa Jovem” que para além de ser um negócio visa contribuir para aliviar a problemática de habitação na camada jovem. A quantas anda?

Erick: O projecto está em curso e a nos motivar cada vez mais. Aliás, a melhor notícia que tive hoje (quarta-feira antepassada), é que depois da chuva que deixou toda a capital do País alagada, a zona do Casa Jovem está brilhantemente aterrada. As nossas valas estão a drenar as águas como deve ser. Neste momento avançamos com a fundação de 15 prédios dos 26 que vamos fazer inicialmente. Está tudo em curso. Este ano prevemos começar com a entrega das casas àqueles que estão em frente. Infelizmente podia andar melhor, não sob ponto de vista de compradores ou construção. Falo necessariamente da questão do apoio. Estamos a falar de um projecto que fundamentalmente é para jovens. E que fique bem claro que aquele projecto podia ser vendido e podia ser implementado mais tarde. Eu sou o implementador do projecto no contexto do Casa Jovem em que teoricamente é para alguém. Fizemos uma parceria, no sentido de sermos contratados para desenvolver um projecto, a resposta que dei e que me faz ser convidado para várias parte do mundo e de Moçambique, é que as minhas intervenções devem ser de caris social. Eu disse que o projecto que se encaixa naquela terra, é o jovem. Há uma estrutura que detém a propriedade daquilo. Mas o que era importante dizer é para isso desenvolver e pela sua natureza o Governo tinha que estar envolvido como parte da sua responsabilidade em providenciar habitação. Numa primeira fase vamos entregar por aí 150 casas. É o que está escrito no contrato. Em prazos globais temos três anos. Mas nem tudo é em prazos globais. Tu tens pessoas que compram neste ano, têm um prazo, e as que compram no próximo ano, têm outro prazo. Mas posso te garantir uma coisa, as pessoas que entrarem para o projecto hoje, só terão as casas daqui a dois anos. Não há como. Neste momento temos acima de 400 pessoas que já compraram e estão à espera de receber as casas. E as pessoas que pagam são parte fundamental do financiamento. Na fase em que está o projecto já investimos perto de 30 milhões de dólares.


O Governo está a vender ao dobro, casas subsidiadas

Canal: Mas então qual é o investimento global?

Erick: Estamos a falar de um investimento de perto de 120 milhões de dólares. Esse investimento tem zero de privilégios do Governo. Eu já fui falar com o Primeiro-ministro, já entreguei os documentos a assessores de todos os governantes e até hoje, o projecto que é para beneficiar os jovens tem zero input do Governo. Não tem uma isenção se quer. Mas neste País isentam televisores e geleiras, centros comerciais e casas para jovens não tem sequer uma isenção. Achas que estamos num País normal mesmo? Mas nós vamos e estamos a fazer. Porque acreditamos em nós próprios.
Quais são os critérios para candidatar-se às casas? São dois. Primeiro tem que ter menos de 40 anos. A razão disso é porque eu determinei. E a ideia é ter menos de 40 anos no contexto da propriedade da casa. Em outras partes do mundo é feito assim. Eu quero que a propriedade seja de um jovem que tem menos de 40 anos. Segundo é teres capacidade de pagar. São critérios simples. E aqui está subdividido. Uma é em função do rendimento e agregado familiar a sua capacidade de endividamento nos bancos. Outra é tu sentares, como a maior parte dos nossos clientes fez e dizer: bem, quanto é que tenho de pagar em cada fase e ir trabalhar para conseguir o valor. Porque, por exemplo, o Governo está a vender ao dobro, as casas subsidiadas e porque é que eu serei o Robin Woods? E quando eu tiver casas aí vou vender a preço de mercado e neste ano tens casas Casa Jovem aí.

Canal: Consta-nos que o Casa Jovem foi exigido um estudo de impacto ambiental de primeira linha, enquanto naquela zona tem outros projectos de grande envergadura a quem não foi exigido o mesmo. O que está a acontecer?

Erick: Eu não. Vai perguntar isso ao Ministério da Acção Ambiental ou à própria ministra, o que eu posso te dizer é que não só fomos obrigados a fazer um estudo ambiental de classe A, que é o mesmo tipo de qualidade de estudo que fazem mega-projectos como a Mozal, a Vale, assim como os prazos previstos para aprovação e o seguimento do próprio estudo de impacto ambiental, nunca foram seguidos pela parte do Governo.

Canal: O que está a querer dizer?

Erick: Nós contratámos uma empresa. Contratámos a Impacto. Sem isso não teríamos licença de construção. Nos foi dito claramente. Os termos de referência do estudo de impacto ambiental que fundamentalmente a lei diz que o Estado, no caso o MICOA, tem três semanas para aprovar, levou cinco meses sem ser aprovado.

Canal: É complicado, quando o próprio Estado pontapeia a Lei…

Erick: Complicadíssimo meu caro. A pergunta que eu te faço é: o que é que um cidadão faz quando o Governo não cumpre a Lei? Vou aonde neste nosso País? Faço o quê? A ministra levou 5 meses para aprovar os termos de referência. Não estou a falar do estudo, dos custos que isto tudo implica. Veja que parte do que a gente fez em termos de drenagem resolveu o problema da zona toda, o que era tarefa do Governo. Eu estou a drenar coisas que vem das Mahotas, o que devia ser da responsabilidade do Estado. Para o bem do projecto fizemos uma vala de drenagem de 30 metros de largura (risos). Mais grave ainda veio o Conselho Municipal decretar que a estrada principal tem que ter 30 metros de largura e 5 metros de passeio, num projecto privado.

(Matias Guente / Canalmoz / Canal de Moçambique)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Abandonado pelo Estado

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Escrito por Félix Filipe  
Baleado%20quito1 Atingido por uma bala – no dia 1 de Setembro de 2010 – ao regressar da escola, Quito viu os seus sonhos ruírem que nem um baralho de cartas. Primeiro ficou com uma “cratera” na perna e depois, por conta de uma “falha de procedimento” médico, amputaram-lhe duas vezes a perna direita. Actualmente, ele e a família batalham na vã esperança de que o Estado intervenha para reparar os danos.
O drama desenrola-se nas entranhas do bairro Maxaquene, próximo à Praça dos Heróis Moçambicanos em Maputo, onde Joaquim Manganhela (Quito), de 18 anos de idade, tenta readaptar-se a uma nova realidade para sobreviver ao calvário no qual a sua vida se tornou. Encontrámo-lo numa casa pequena de blocos e chapas de zinco.
Uma residência em nada diferente das outras casas daquele bairro. Quito é último filho de uma mãe que também faz o papel de pai dele e de mais quatro irmãos.
Uma bala que mudou a vida de todos
Antes da tragédia de 1 de Setembro, a progenitora ia frequentemente à vizinha África do Sul com o fito de comprar produtos, os quais revendia em Moçambique. Uma actividade que tinha os seus contratempos, mas que garantia o sustento do agregado familiar e dava para guardar algum dinheiro para pequenas eventualidades. O negócio, diga-se, corria de feição, até se dar
a tragédia.
Assim, Maria do Carmo trocou o país vizinho, símbolo máximo da prosperidade familiar, pelo papel de enfermeira do filho que o Estado abandonou. O novo negócio Impossibilitada de se deslocar à África do Sul, Maria do Carmo teve de se desenvencilhar no bairro do Maxaquene para aumentar o minúsculo orçamento familiar. Passou a vender pão num local mais próximo de casa para não abandonar o fiho.
“Este país inferniza a vida dos seus cidadãos”, diz do Carmo visivelmente amargurada. “Foi uma desgraça tremenda. O miúdo já fazia os seus próprios biscates, mas logo virou um dependente total”, afi rma o jovem que localizou a família no Domingo passado.
Não fossem as marcas profundas, o primeiro dia de Setembro de 2010 seria uma data para esquecer. Com a notícia do incidente, o mundo dos Manganhelas quase desabou. Do Carmo, qual mãe sem útero, andou desnorteado pelos hospitais de Mavalane e Xipamanine e só ficou a saber do filho às 12 horas na Ortopedia 2 do HCM, onde foi atendida às 16h30.
“Andei assustada. Havia muitos cadáveres nos hospitais”, lembra. No entanto, saber que Quito não tinha morrido, diz, foi o mesmo que sentir que lhe devolviam o útero.
O que diz Quito
De acordo com as palavras de Quito, no carro onde se faziam transportar, vários feridos foram torturados pela polícia. Alguns agentes pisavam as suas feridas, alegando que se tratava de marginais.
Os dois meses no HCM
Logo que a mãe avistou o médico no HCM, tratou de ouvir o diagnóstico sobre o fi lho. O especialista garantiu que o problema não era complicado. Mas, uma semana depois, outra sentença veio a terreiro: a perna de Quito devia ser amputada. O sangue já não circulava de cima para baixo.
“Implorei, mas o doutor mostrou-se irredutível, sublinhando que outra solução seria impossível”, conta. Do Carmo acredita que se tivesse meios, o filho receberia outro tratamento. Como o doutor no princípio, várias outras pessoas que acompanharam a situação observaram que o caso não era tão grave ao ponto de se cortar o membro inferior.
Afinal, Quito foi baleado num lugar entre o pé e o joelho, o tiro não atingiu a veia principal, para além de que o projéctil não ficou alojado no seu corpo.
Durante dois meses e três dias consecutivos no HCM, Maria do Carmo levava uma vida resumida entre a casa e o hospital. Numa sexta-feira, o fi lho começou a ter convulsões. Procurou o terapeuta e só o encontrou na segunda-feira.
“O médico disse que a perna seria amputada na quinta-feira e eu discordei, pois o garoto estava com convulsões há três dias. O especialista disse que não sabia e decidiram eliminar a perna na mesma segunda-feira, corria o dia 15 de Setembro”, conta.
Nos primeiros dias depois da operação, o rapaz aparentava estar bem. Recebeu sete unidades de sangue. A perna foi amputada na zona do joelho, exactamente na parte da articulação. Mas depois detectou-se uma falha. Em Outubro resolveram cortar de novo. Desta vez um pouco acima do joelho.
“Foi a parte mais dolorosa. O miúdo não dormia, passava o tempo a chorar e mal conseguia comer”, conta a mãe indignada por ver os sonhos do filho ruírem, de forma prematura, tal como aconteceu com a própria perna. No dia 3
de Novembro recebeu alta.
Antes, a mãe falou com o médico para saber se o hospital ofereceria muletas. A resposta veio pronta: “Não”, conta. A mulher pagou uma taxa de 700 meticais referente à cama que o filho ocupava quando estava internado. O tratamento foi gratuito.
Em casa: o calvário continua Os poucos haveres que do Carmo juntou durante os tempos em que frequentou a vizinha África do Sul não passam de uma ventoinha, um congelador e um televisor guardados num espaço apertado onde vivem oito pessoas, a maior parte das quais a dormir na sala. Antes do incidente, Quito repousava numa esteira, mas hoje porque não é capaz, partilha a mesma cama com a mãe.
Além do que aconteceu, do Carmo viu o drama piorar quando alguns dias depois perdeu o fi lho mais velho, vítima de doença. “Foi uma sucessão de acontecimentos que quase acabaram comigo”, conta.
Com a morte do primogénito veiolhe a responsabilidade de zelar pelos três netos. Assim, com um filho doente e os netos por cuidar, do Carmo divide o dia entre a casa e um local onde vende pão, a cinquenta metros da casa. “De hora em hora tenho de voltar para saber como o miúdo está”.
Quanto valem 50 meticais
Depois da alta, o hospital deu uma guia de marcha para que Quito passasse a receber tratamentos num centro mais próximo. Mas o jovem não consegue fazer longas distâncias. As muletas que usa são curtas, além do facto de estar num processo de recuperação. A mãe decidiu arranjar um enfermeiro para tratar do filho em casa. O homem cobrava cinquenta meticais por dia, mas o orçamento familiar é insufi ciente para cobrir o tratamento.
A mulher passou a cuidar pessoalmente do filho. Dá banho, lava a ferida e faz o curativo, um processo que está a tornarse penoso.
“No princípio fazia o penso diariamente, agora optei por fazê-lo um dia sim e outro não para poupar os remédios. As pessoas que me forneciam as ligaduras e adesivos desistiram e os preços praticados nas farmácias são caros demais para as minhas capacidades”, conta para depois acrescentar que ultimamente lava a ferida com água morna, mesmo sabendo do quanto o lho sofre. “Sempre que o faço ele queixa-se de dores, mas não há alternativas. O produto para lavar feridas que tínhamos acabou”.
Quando saíram do HCM, o médico disse que vão ser necessários oito meses para a ferida sarar. Depois desse tempo, Quito vai receber uma prótese, mas a mãe duvida que tal aconteça.
Da escola onde frequentava a nona classe, a mãe recebeu o conselho de que tinha de anular a matrícula, mas antes devia inscrevê-lo por 350 meticais. “Soube da situação por que o seu filho passou, mas só poderá anular a matrícula se pagar o valor”, disse o director. 
Assim, Maria do Carmo trocou o país vizinho, símbolo máximo da prosperidade familiar, pelo papel de enfermeira do filho que o Estado abandonou. O novo negócio Impossibilitada de se deslocar à África do Sul, Maria do Carmo teve de se desenvencilhar no bairro do Maxaquene para aumentar o minúsculo orçamento familiar. Passou a vender pão num local mais próximo de casa para não abandonar o fiho.
“Este país inferniza a vida dos seus cidadãos”, diz do Carmo visivelmente amargurada. “Foi uma desgraça tremenda. O miúdo já fazia os seus próprios biscates, mas logo virou um dependente total”, afi rma o jovem que localizou a família no Domingo passado.
Não fossem as marcas profundas, o primeiro dia de Setembro de 2010 seria uma data para esquecer. Com a notícia do incidente, o mundo dos Manganhelas quase desabou. Do Carmo, qual mãe sem útero, andou desnorteado pelos hospitais de Mavalane e Xipamanine e só ficou a saber do filho às 12 horas na Ortopedia 2 do HCM, onde foi atendida às 16h30.
“Andei assustada. Havia muitos cadáveres nos hospitais”, lembra. No entanto, saber que Quito não tinha morrido, diz, foi o mesmo que sentir que lhe devolviam o útero.
O que diz Quito
De acordo com as palavras de Quito, no carro onde se faziam transportar, vários feridos foram torturados pela polícia. Alguns agentes pisavam as suas feridas, alegando que se tratava de marginais.
Os dois meses no HCM
Logo que a mãe avistou o médico no HCM, tratou de ouvir o diagnóstico sobre o fi lho. O especialista garantiu que o problema não era complicado. Mas, uma semana depois, outra sentença veio a terreiro: a perna de Quito devia ser amputada. O sangue já não circulava de cima para baixo.
“Implorei, mas o doutor mostrou-se irredutível, sublinhando que outra solução seria impossível”, conta. Do Carmo acredita que se tivesse meios, o filho receberia outro tratamento. Como o doutor no princípio, várias outras pessoas que acompanharam a situação observaram que o caso não era tão grave ao ponto de se cortar o membro inferior.
Afinal, Quito foi baleado num lugar entre o pé e o joelho, o tiro não atingiu a veia principal, para além de que o projéctil não ficou alojado no seu corpo.
Durante dois meses e três dias consecutivos no HCM, Maria do Carmo levava uma vida resumida entre a casa e o hospital. Numa sexta-feira, o fi lho começou a ter convulsões. Procurou o terapeuta e só o encontrou na segunda-feira.
“O médico disse que a perna seria amputada na quinta-feira e eu discordei, pois o garoto estava com convulsões há três dias. O especialista disse que não sabia e decidiram eliminar a perna na mesma segunda-feira, corria o dia 15 de Setembro”, conta.
Nos primeiros dias depois da operação, o rapaz aparentava estar bem. Recebeu sete unidades de sangue. A perna foi amputada na zona do joelho, exactamente na parte da articulação. Mas depois detectou-se uma falha. Em Outubro resolveram cortar de novo. Desta vez um pouco acima do joelho.
“Foi a parte mais dolorosa. O miúdo não dormia, passava o tempo a chorar e mal conseguia comer”, conta a mãe indignada por ver os sonhos do filho ruírem, de forma prematura, tal como aconteceu com a própria perna. No dia 3 de Novembro recebeu alta.
Baleado%20quito2 Antes, a mãe falou com o médico para saber se o hospital ofereceria muletas. A resposta veio pronta: “Não”, conta. A mulher pagou uma taxa de 700 meticais referente à cama que o filho ocupava quando estava internado. O tratamento foi gratuito.
Em casa: o calvário continua Os poucos haveres que do Carmo juntou durante os tempos em que frequentou a vizinha África do Sul não passam de uma ventoinha, um congelador e um televisor guardados num espaço apertado onde vivem oito pessoas, a maior parte das quais a dormir na sala. Antes do incidente, Quito repousava numa esteira, mas hoje porque não é capaz, partilha a mesma cama com a mãe.
Além do que aconteceu, do Carmo viu o drama piorar quando alguns dias depois perdeu o fi lho mais velho, vítima de doença. “Foi uma sucessão de acontecimentos que quase acabaram comigo”, conta.
Com a morte do primogénito veiolhe a responsabilidade de zelar pelos três netos. Assim, com um filho doente e os netos por cuidar, do Carmo divide o dia entre a casa e um local onde vende pão, a cinquenta metros da casa. “De hora em hora tenho de voltar para saber como o miúdo está”.
Quanto valem 50 meticais
Depois da alta, o hospital deu uma guia de marcha para que Quito passasse a receber tratamentos num centro mais próximo. Mas o jovem não consegue fazer longas distâncias. As muletas que usa são curtas, além do facto de estar num processo de recuperação. A mãe decidiu arranjar um enfermeiro para tratar do filho em casa. O homem cobrava cinquenta meticais por dia, mas o orçamento familiar é insufi ciente para cobrir o tratamento.
A mulher passou a cuidar pessoalmente do filho. Dá banho, lava a ferida e faz o curativo, um processo que está a tornarse penoso.
“No princípio fazia o penso diariamente, agora optei por fazê-lo um dia sim e outro não para poupar os remédios. As pessoas que me forneciam as ligaduras e adesivos desistiram e os preços praticados nas farmácias são caros demais para as minhas capacidades”, conta para depois acrescentar que ultimamente lava a ferida com água morna, mesmo sabendo do quanto o lho sofre. “Sempre que o faço ele queixa-se de dores, mas não há alternativas. O produto para lavar feridas que tínhamos acabou”.
Quando saíram do HCM, o médico disse que vão ser necessários oito meses para a ferida sarar. Depois desse tempo, Quito vai receber uma prótese, mas a mãe duvida que tal aconteça.
Da escola onde frequentava a nona classe, a mãe recebeu o conselho de que tinha de anular a matrícula, mas antes devia inscrevê-lo por 350 meticais. “Soube da situação por que o seu filho passou, mas só poderá anular a matrícula se pagar o valor”, disse o director.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sobre o

Sobre o Descoberto esconderijo de suposto armamento da Renamo

aqui trago alguns dos comentarios feitos por diferentes Moçambicanos que vivem dentro e fora do país. Se formos a reflectir bem e de uma forma objectiva podemos encontrar a verdade desses comentários. Na verdade a Frelimo é capaz de tudo, porque ela fez, faz, e fará.... e neste perspectiva ela é capaz de montar coisas somente para voltar a ganhar a popularidade que está perdendo ao nivel do país. Para as pessoas que reflectem bem, nunca pode acreditar que a Renamo ou qualquer outra pessoa ou organização descontente pode esconder armamento no mato sem enterrar. Se foi num bosque onde descobriram porque só agora,...? penso eu que os nossos dirigentes deviam reflectir bem antes de aparecer ao público para falar,...acham que há lógica de ser isto. Repito, o jornalismo não é para entreter as pessoas, mas sim dar informações crediveis ao povo e tão pouco desviar o rumo das coisas e das pessoas. Esta não é noticia, mas sim uma manipulação bem preparada... leia os comentarios a seguir.
 
Bom dia meus amigos, estes homens sao perigosos a frelimo porque nao negoceiam com a renamo ja e a terceira vez a encotrarem armas da renamo. Cuidado
  • Almeida Antonio .....meu irmao eu vi muita coisa na Beira, distrito que nem tem uma carteira nem salas de aulas pra criancas estudarem e ainda querem mais guerra, meus irmaos a frelimo em maringue nao manda, quando um governador quer ir ate a maringue tem que pedir primeiro a base da renamo meus amigos cuidado isto vai ficar perigoso. Abracos

  • Nos so queremos paz, se mentem isso e p politicos , ja esta escrito no livro sagrado , que o homem vai viver do seu suor.
    espero que nos deixem trabalhar p desenvolver em vez de protagonizarem guerras, conflitos pois isso perturba a nossa paz.

  • 1* nao devemos acreditar em tudo que lemos nos Jornais, esta informacao vem mesmo a calhar numa altura em que a Frelimo encontra-se com a popularidade muito baixa a nivel nacional. 2* Foram encontradas armas, ninguem foi indiciado, ninguem foi detido, nao se investigou nada + se concluio, se "condenou" e atrubuio a calpa a Renamo; e uma vez que as armas ja foram destroidas, significa que o caso foi dado por concluido. 3* as armas foram encontradas nos bosques, abandonadas, sem ninguem por perto a guarnecer as mesmas, num local neutro, sujeitas a chuvas e sol; sera que as milicias the Renamo com tanta experiencia de guerrilha nao teria nocao de como e onde guardar o seu material militar.
    • sim vc ten razao meu irmao ate´´ pode ser mesmo da Frelimo. do um grupo que nao esta satisfeito . como foi da pmeira vez. existe grupo que nao esta satisfeito com A Frelimo os militares que nao ganham bem, que nao tem possabilidades de comer onde estam malados? existe muitos problemas na Frelimo. aqueles que lutaram os ditos antigos combatentes nao tem nada os meus irmaos, sera que e´´ normal? e ja nao digo os Jovens, os Mocambicanos estam a sofrer so por cauza do um grupinho.  

  • Estamos a viver momentos de tensão, momentos de Paz Armada". todo o cuidado é pouco, o povo já sofreu bastante com a guerra.... o país está em fase de reconstrução.... não podemos vacilar....
  • terça-feira, 24 de janeiro de 2012

    Candidato do MDM para as presidenciais conhecido entre Outubro e Dezembro deste ano

    MDM deverá escolher o seu candidato às eleições presidenciais de 2014
    Eleições presidenciais-2014.
    O congresso, a ter lugar no último trimestre deste ano, na cidade da Beira, já está a ser preparado por comissões multissectoriais criadas para o efeito.
    O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) já está a preparar as eleições gerais de 2014. Assim, ainda este ano, o partido vai anunciar quem será o candidato à presidência da República para as eleições de 2014.
    O  candidato às presidenciais por esta formação política deverá ser eleito entre Outubro e Dezembro de 2012 pelo congresso - o maior órgão do partido - numa reunião a ter lugar na cidade da Beira, província de Sofala. Ouvido pelo “O País”, o porta-voz do partido, José de Sousa, definiu como obra do acaso a escolha da Beira para a realização do congresso, ou seja, refere não existir nenhuma razão estratégica para a escolha do “Chiveve” para a realização do congresso.
    Contudo, sendo a cidade da Beira a primeira autarquia nas mãos do MDM e ainda a que mais deputados elegeu para a Assembleia da República, esta tornou-se no bastião político do “galo”.  Nos últimos tempos, Beira tem sido considerada o “bastião da revolução”.
    Condições para o evento em preparação
    O congresso, a ter lugar no último trimestre deste ano, já está a ser preparado por comissões multissectoriais criadas para o efeito. “Nós já temos no terreno os grupos representativos dos órgãos e militantes do partido que  estão a fazer todos os estudos no terreno para garantir as condições necessárias para este nosso evento”, explicou de Sousa.

    sábado, 21 de janeiro de 2012

    Mineradora não cumpre promessas: População de Lalaua está impaciente


    A POPULAÇÃO de Naquessa, distrito de Lalaua, está agastada com a empresa Damodar que está a fazer a exploração de minério de ferro naquela região, localizada no interior da província de Nampula.
    Maputo, Sábado, 21 de Janeiro de 2012:: Notícias
     
    O facto deve-se ao alegado incumprimento de promessas feitas que davam a indicação para a construção, no ano passado, de infra-estruturas de abastecimento de água, educação e estradas, acções enquadradas no âmbito da responsabilidade social daquela firma de capitais indianos.
    Dados colhidos no terreno pela nossa Reportagem indicam que das promessas feitas à população de Naquessa, a Damodar Ferro levou a cabo a reabilitação de uma estrada que liga aquele povoado à vila do posto administrativo de Iapala no distrito vizinho de Ribáuè.
    A infra-estrutura facilita a ligação rodoviária à população que pretende aceder ao corredor ferroviário de Nacala para vários fins, nomeadamente o escoamento dos excedentes agrícolas para a colocação no mercado local.
    No entanto, é através daquela via de terra batida que o projecto, cuja implementação é de 10 anos, vai fazer o escoamento da sua produção para o Porto de Nacala, a porta de saída do minério para o mercado internacional.
    Por essa razão, a população local considera que a empresa só reabilitou aquele troço por seu útil aos seus interesses, não fazendo por isso parte das promessas feitas em prol do desenvolvimento social da região.
    Naquessa tem falta de assistência sanitária para a sua população, mas é na educação e abastecimento de água onde os problemas são mais graves, pois as respectivas redes são fracas e não satisfazem a demanda. As salas de aula são na maioria construídas com base em material precário.
    A população local considera que o incumprimento das promessas por parte da Damodar não só vai perpetuar o seu sofrimento como criar todas condições para azedar o relacionamento com aquela firma indiana.
    À pedido da população de Naquessa, o Governo de Lalaua já está em contacto com a mineradora para se inteirar do caso.

    (2012-01-20) Moçambique ocupa o 108º lugar no ranking das economias mais livres do mundo em 2012, de um total de 179 países avaliados na mais recente publicação da Heritage Foundation, consultora norte-americana que avalia a reputação de cada país em termos de liberdade económica, em parceira com o “Wall Street Journal”.

    (2012-01-20) Moçambique ocupa o 108º lugar no ranking das economias mais livres do mundo em 2012, de um total de 179 países avaliados na mais recente publicação da Heritage Foundation, consultora norte-americana que avalia a reputação de cada país em termos de liberdade económica, em parceira com o “Wall Street Journal”.

    Com esta classificação, o país melhorou uma posição em relação ao ano passado, ao alcançar 57.1 pontos, 0.3 pontos melhor que 2011. Apesar disso, Moçambique está entre as piores economias do planeta no que respeita à liberdade económica, o que, de acordo com a Heritage Foundation, é justificado por vários factores, entre os quais a corrupção e deficiências jurídico-legais.

    A consultora americana aponta que há “deficiências institucionais críticas na liberdade económica em Moçambique, que continuam a reter o desenvolvimento económico de longo prazo”. Segundo o documento, “direitos de propriedade não são muito respeitados, a aplicação da lei é ineficiente e desigual. O sistema judicial não é totalmente independente e continua vulnerável à influência política e corrupção”. Ainda na sua página sobre o país, a publicação revela que “a ausência de um quadro jurídico eficaz em Moçambique leva a que as decisões judiciais sejam arbitrárias e inconsistentes e a protecção dos direitos de propriedade intelectual não estejam à altura dos padrões mundiais, o que resulta na expansão de bens pirateados (contrafeitos) no mercado.

    É importante sublinhar que as deficiências na protecção dos direitos de propriedade são factor desfavorável à captação de investimentos, uma vez que retiram a confiança dos investidores em relação ao mercado nacional, ou seja, a decisão de investir em Moçambique pode ser minada pela concorrência desleal e pela pirataria, factores que reduzem a possibilidade de retorno dos investimentos.

    Com esta classificação, Moçambique está no 15° lugar dos 46 países da África Sub-Sahariana, e a sua pontuação global está abaixo da média mundial, mas acima da média regional.

    Situação de Moçambique

    O Índice de Liberdade Económica avalia quatro grandes pontos que contêm dez categorias. Trata-se do Estado de Direito, que abarca o direito de propriedade e a corrupção; as limitações do Governo, que contém os gastos públicos e a liberdade fiscal; a eficiência regulatória que contém o ambiente de negócios, a liberdade de trabalho e as condições monetárias; e a abertura dos mercados que contempla o ambiente do comércio, a liberdade de investimentos e a liberdade financeira.

    A avaliar por estes indicadores, em relação ao ano passado, moçambique piorou nos capítulos da corrupção (aumentou para 27.0 pontos), despesas do Governo (caíram para 69.3 pontos), liberdade fiscal (reduziu para 77.1 pontos) e condições monetárias (que reduziram para 74.8 pontos).

    Por outro lado, o ambiente de negócios registou melhorias (aumentou para 66.8 pontos), a liberdade laboral (subiu para 39.7 pontos), liberdade de comércio (subiu para 66.8 pontos), a liberdade de investimentos (aumentou para 55.0 pontos). Os direitos de propriedade e a liberdade financeira mantiveram-se ao nível de 2011 com 3 e 50 pontos, respectivamente.

    Ao mesmo tempo, Moçambique está no grupo de economias “na sua maioria não livres”, uma posição imediatamente a seguir à pior, na classificação que obedece a um ordenamento dos países em cinco grandes grupos, nomeadamente, economias livres (cinco países); economias na sua maior parte livres (23 países); economias moderadamente livres (62 países); economias na sua maioria não livres (60 países) e economias reprimidas (29 países).

    Há que destacar que no Índice de Liberdade Económica, a classificação dos países não obedece, necessariamente, à sua pujança económica. Por exemplo, no grupo das economias “na sua maioria não livres”, estão das mais poderosas economias mundiais, sobretudo os países emergentes, alguns dos quais abaixo da classificação de Moçambique no ranking global. A Itália (92° lugar), Brasil (99° lugar), Índia (123° lugar), China (138° lugar) e Rússia (144° lugar).

    quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

    Formar licenciados para o desemprego ou baixar de nível para ter colocação?!

    Dados da contratação de pessoal docente nos anos 2008 a 2011
    Dilema de contratação de professores no país.
    A Universidade Pedagógica graduou, só em 2011, mais de 4 mil professores licenciados. Deste número, nem sequer um foi contratado pela Educação, considerando que nenhum licenciado foi chamado a dar aulas nas escolas públicas em 2012, exceptuando os que estavam a estudar como bolseiros. A justificação é a mesma de sempre - falta de dinheiro -, e, em contrapartida, a qualidade de ensino vai degradando-se nos últimos anos por vários motivos, dos quais, a fraca qualidade do corpo docente...
    O Ministério da Educação (MINED) não vai contratar nenhum professor licenciado este ano para leccionar nas escolas públicas do país. Os únicos 169 licenciados que passarão para o sistema já davam aulas nas escolas públicas, desde o ano passado, só que os seus salários eram pagos por um doador e o contrato com este financiador só tinha validade de um ano.
    No total, o Ministério da Educação contratou, para o presente ano, 8 500 docentes distribuídos por todas as províncias do país.
    Na verdade, dos 8 500 professores, 7 300 é que são novos no sistema, enquanto os restantes 1 200 estão a ser integrados na educação, uma vez que já davam aulas nas escolas públicas, mas os seus salários eram pagos por um doador e não pelo Orçamento do Estado. Destes 1 200 professores ora integrados, 169 são licenciados, mas nenhum  dos 7 300 novos docentes é licenciado. Ou seja, para o ano de 2012, o Estado moçambicano não contratou nenhum professor com nível de licenciatura.
    Graduar licenciados para o desemprego ou baixar de nível para ter colocação?!
    Em 2011, só a Universidade Pedagógica, UP-Sede, em Maputo, lançou para o mercado 1 906 licenciados em diversas áreas de saber. Nos últimos cinco anos, a UP-Sede graduou cerca de 5 770 professores com nível de licenciatura. Dados em nosso poder, facultados pela Direcção do Registo Académico daquela instituição de ensino superior, mostram que, só ano passado, apenas seis delegações da UP, nomeadamente, UP-Sede, delegações da Beira, Gaza, Nampula, Quelimane, e da Sagrada Família, graduaram cerca de 4 139 docentes licenciados.
    Em termos concretos, todos os 4 139 licenciados formados pela UP em 2011 não vão ter colocação como docentes nas escolas públicas do país, exceptuando os que estavam a estudar como bolseiros da Educação. Como alternativa, alguns destes quadros poderão dar aulas nas escolas privadas ou candidatarem-se às escolas públicas como “médios” ou “bacharéis”, já que o Ministério da Educação apenas contratou professores de nível básico (10a+1) os chamados DN4; de nível médio, (12ª +1), os chamados DN3 e bacharéis ou DN2.
    Situação como entrave da qualidade de ensino
    O Ministério da Educação reconhece que esta situação é constrangedora para quem quer atingir um nível aceitável da qualidade de ensino, mas diz que sem dinheiro nada pode ser feito.
    Os directores das principais escolas da cidade de Maputo, tais como Josina Machel e Francisco Manyanga, reconheceram que, nos últimos três anos, a qualidade de ensino baixou consideravelmente. Na Francisco Manyanga, o director da Escola, Orlando Dima, disse que o aproveitamento pedagógico caiu de cerca de 80 para cerca de 70 por cento.
    Enquanto isso, na “Josina Machel”, o aproveitamento caiu de cerca de 80 para cerca de 50 por cento nos últimos três anos, tal como indicou Maimuna Ibrahimo, directora daquela unidade escolar.
    Para além disso, o aproveitamento pedagógico das classes com exame, na cidade de Maputo, esteve abaixo de 10 por cento na primeira época do ano passado. Ou seja, as reprovações estiveram acima de 90 por cento.
    O director de Planificação  a nível da Direcção de Educação da Cidade de Maputo, Samuel Meneses, lamenta o facto, porque, segundo explica, “os professores qualificados são um elemento-chave para a melhoria da qualidade de ensino”, que é um dos principais objectivos do sector da Educação para o presente ano de 2012, “mas sem dinheiro nada pode ser feito”.
    Alias, o próprio ministro da Educação, Zeferino Martins, disse, recentemente, que um dos requisitos básicos para a melhoria da qualidade de ensino é ter docentes qualificados e devidamente formados. Martins defendeu, nessa ocasião, a necessidade de reforma de curricula de formação de professores em todos os níveis, bem como a diminuição do rácio aluno/professor. “Este ano, nenhuma turma da 8ª a 12ª classe terá acima de 50 alunos, como forma de melhorar a qualidade de ensino”, garantira Zeferino Martins.
    Entretanto, a directora Nacional dos Recursos Humanos, no Ministério da Educação, Celeste Onions, diz que o governo não tem outra alternativa senão trabalhar com os professores que já estão no sistema. “Só temos que trabalhar com os docentes já existentes e reorientá-los para a formação superior, de modo a que sejam reintegrados nas suas escolas de origem com melhor qualidade”, explica.

    Ministra do Trabalho expulsa administrador do MozaBanco













    Maria Helena Taipo, ministra do Trabalho
    decisão surge na sequência de “mau comportamento na relação com os trabalhadores moçambicanos, em violação dos princípios plasmados na Constituição da República e demais leis vigentes no país”.
    A ministra do Trabalho, Maria Helena Taipo, interditou, na última quarta-feira, e com efeitos imediatos, o direito ao exercício de trabalho na República de Moçambique a José Alexandre Maganinho Pinto Ribeiro, de nacionalidade portuguesa, que desempenhava as funções de administrador da empresa MozaBanco. A decisão surge na sequência de “mau comportamento na relação com os trabalhadores moçambicanos, em violação dos princípios plasmados na Constituição da República e demais leis vigentes no país”, segundo revela o comunicado do Ministério do Trabalho.
    De acordo com o mesmo comunicado, o cidadão em causa vinha proferindo palavras injuriosas aos seus colaboradores nacionais, incluindo actos de racismo e, por vezes, “obrigando-os a trabalharem até às 02h00 de madrugada sem direito a descanso, nem remuneração.”
    “Este comportamento constitui violação do princípio do direito à honra, bom nome e integridade moral”, conforme o estabelecido na Constituição da República. Por outro lado, este comportamento viola o preceituado na legislação laboral que estabelece que “o empregador deve respeitar e tratar com correcção e urbanidade o trabalhador, bem como proporcionar a este boas condições físicas e morais no local de trabalho”.

    quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

    Anadarko descobre mais gás na Bacia do Rovuma


    Prospecção de hidrocarbonetos em Moçambique.
    Em Outubro de 2011, a Anadarko anunciou que as perfurações exploratórias tinham resultado na descoberta de cerca de 10 biliões pés cúbicos de gás, reforçando a estimativa de reservas de gás natural existentes na área.
    A companhia americana Anardarko acaba de descobrir mais uma importante quantidade de gás natural, na plataforma “offshore” (em mar), Bacia do Rovuma, norte de Moçambique, onde se encontra em actividade de pesquisa de hidrocarbonetos. Trata-se da sétima descoberta deste recurso por parte da instituição, ocorrida no poço denominado Lagosta-2, tendo encontrado um total de 777 pés cúbicos de gás natural comercializáveis em várias regiões do mundo.
    “Estes resultados excelentes continuarão a apoiar as nossas estimativas de recursos recuperáveis de 15 a 30 biliões de pés cúbicos de gás natural na área descoberta do nosso bloco, bem como fornecer informações adicionais que serão incorporadas nos nossos modelos, para ajudar a determinar os planos de desenvolvimento do complexo”, avançou o vice-presidente da Anadarko, Bob Daniels, citado pelo comunicado da companhia.
    A avaliação do poço Lagosta-2 aconteceu graças à abertura de um furo de 4.335 metros em lâmina de água “offshore”-1 da Bacia do Rovuma. A Anadarko pretende preservar a Lagosta-2 para futura utilização, durante o seu programa de testes de perfuração nos complexos Windjammer, Barquentine e Lagosta.